segunda-feira, 29 de junho de 2015

Vale a pena refletir...

A Suprema Corte dos EUA institucionalizou a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Pelo fato dos EUA serem uma potência mundial, que dita seus modismos pelo mundo (isso é inegável, especialmente nesses tempos de globalização), muitas pessoas têm simpatizado e militado por esta causa de forma aberta nas redes sociais, usando um aplicativo que tinge com as cores do “arco-íris” suas fotos. Para os católicos que embarcaram nesta “onda”, sem refletir tão bem sobre as implicações sociais que isso pode trazer a médio e longo pra para as sociedades, trazemos esta citação do teólogo americano Jason Evert, que tem se dedicado exclusivamente a divulgar a “Teologia do Corpo”, de São João Paulo II, entre adolescente e jovens nos EUA e no mundo inteiro. Inclusive vale dizer, para você católico, Teologia do Corpo é leitura “obrigatória” para que você tenha um embasamento humanístico consistente sobre a temática da sexualidade. O texto a seguir foi uma resposta a um comentário de Jason Evert sobre artigo postado no seu blog (chastityproject.com). Um rapaz achou que Jason foi “longe demais no preconceito”, porque muitas famílias são compostas apenas por um pai ou mãe solteiro, por exemplo. Veja a resposta (tradução nossa): 

 “Desculpe se meu comentário é muito longo, mas eu quero oferecer a você (e a outros que também comentaram uma resposta condizente, para mostrar o quanto aprecio todos aqueles que deixam aqui os seus comentários. Crystalina foi criada num lar sem pai, e ela é a primeira a confirmar como isso foi difícil pra ela e como ela não deseja essa situação a ninguém. Toda criança naturalmente deseja conviver com seus pais biológicos e a institucionalização da união entre pessoas do mesmo sexo garantirá apenas que várias crianças serão privadas deste bem. O meu receio é que, neste debate, crianças sejam tratadas como objetos que as pessoas têm o “direito” de obter, em vez de serem tratadas como pessoas humanas que têm o direito ao pai e mãe biológico. 
É irônico ver como o Obama que fica sempre falando como o pai tem um papel insubstituível no bem-estar das famílias, mudar o tom quando lhe é politicamente conveniente para afirmar que o pai não é essencial e que não faria diferença ter duas parceiras do mesmo sexo. Sou casado há doze anos e tenho seis filhos. Sei que 1000 homens não poderiam tomar o lugar da minha esposa. E sei também que eu dou aos meus filhos o que mulher nenhuma é capaz de dar: ao amor de um pai (e o mesmo vale para a afeição materna que minha esposa dá a eles). Se as pessoas acham que sou um homofóbico por acreditar nisso, então que me chamem do que quiserem. Sociólogos podem mostrar muitos dados estatísticos e falar de muitas teorias, mas nada disso faz diferença para uma criança. Eu não quero dizer que parceiros do mesmo sexo farão algum mal ao educar crianças e que homem e mulher, pai e mãe são perfeitos. Não. O argumento é que é sempre melhor para uma criança poder crescer com os seus pais biológicos. 
 Um exemplo disso, é o caso de um menino adotado por dois gays que foi publicado no The American Journal of Orthopsychiatry. No artigo chamado ‘‘Recreating Mother’’ (Recriando a Mãe), a revista científica explicou que um dos pais ia contratando babás, uma após a outra, para que cuidassem do menino, mas despedia todas quando percebia que a criança ia se tornando muito afeiçoada a cada uma delas. Aos quatro anos, o menino precisou de terapia psicológica, porque tinha um pedido insistente para que os pais lhe “comprassem” uma mãe. Uns podem alegar: “Não é melhor que um órfão seja criado por duas pessoas do mesmo sexo do que viver com uma mãe relapsa ou violenta ou morar em um abrigo?” Nossos argumentos não podem ser baseados em algo ruim para querer chegar ao melhor. 
E, finalmente, o que mais me deixa perplexo: muito antes desse debate de união entre pessoas do mesmo sexo via à baila, décadas de extensivos estudos sem qualquer tipo de motivação a favor ou contra esse tema já mostrou que não há nada melhor para as crianças do que serem criadas por seus pais biológicos, isso em detrimento de qualquer outro tipo de arranjo social (com padrastos ou madrastas, pais/ mães solteiros, pai e mãe sem vínculo estável, etc.). Como é que, de repente, pessoas do mesmo sexo conseguem oferecer às crianças a mesma coisa que um pai e uma mãe, um homem e uma mulher podem oferecer? E, seu dois homens podem criar uma criança tão bem como um homem e uma mulher, por que não também um homem com duas mulheres? 
No final das contas, o mundo quer que você acredite que a complementariedade entre masculino e feminino criada por Deus, na verdade, é só um construto social imaginário, baseado em estereótipos arcaicos de gênero. Será? As crianças entendem disso melhor do que nós. Elas merecem um pai E uma mãe.”

domingo, 14 de junho de 2015

Retiro da Pastoral Familiar 2015 (3)

DOMINGO (14.06.2015)
5ª Meditação



Todos nós conhecemos a história do Peter Pan, com o objetivo de proporcionar diversão às crianças, mas o autor acabou criando um mito, o da infância perene. Um de seus amigos um dia o perguntou: “Quantos anos tens?” E ele respondeu: “Não sei. Só Sei que sou muito jovem e quero sempre divertir-me para sempre.”
Quantos de nós também tem saudades do tempo em que não tínhamos que assumir responsabilidades, o tempo em que nosso pais resolviam tudo por nós. Quem sabe podemos ter o germe da síndrome o Peter Pan dentro de nós? Cada vez que não queremos assumir as nossas responsabilidades sociais, essa doença volta. Podemos até assumir nossas responsabilidades familiares, pastorais, mas esquecemos desta outra dimensão importantíssima. Certa vez Jesus contou uma parábola que pode ser o antídioto para esta síndrome, ou o instrumento que vai cauterizá-la. Refiro-me à parábola do semeador:

Sabemos que esta parábola se refere à Palavra de Deus. Mas há uma palavra de Deus que não podemos jamais esquecer e que São Paulo recordou:

“Há mais alegria em dar que em receber.” (At 20, 35)

E o mesmo São Paulo movido pelo seu compromisso de anunciar a alegria do Evangelho exorta:

Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos!” (Fil 4,4)

Entre as nossas responsabilidades das quais não podemos fugir devemos levar alegria às famílias que mais necessitam. Se consideramos que nossa família é um ambiente em que essa semente da alegria foi semeada, temos que considerar nossa família como um todo, e não só cada membro individualmente, como semeadora de paz e de alegria na sociedade.
Certa vez perguntaram a um velho sacerdote o que ele havia aprendido em sua vida. Ele respondeu: “Que as pessoas são menos felizes do que julgavam ser, e que ainda não cresceram totalmente.”
O hormônio do crescimento nas pessoas é a responsabilidade. Primeiramente temos que responder a Deus, ele nos dirigiu uma palavra e precisamos lhe dar uma resposta. Ao subir ao Céu, nos ordenou: Ide e ensinai. A síndrome do Peter Pan nos leva a não nos sentirmos responsáveis pelas famílias à nossa volta. Lembremos que toda vocação, inclusive a matrimonial, traz junto de si uma missão específica e a nossa é levar alegria às outras famílias. O que faz a família de Nazaré se não servir a humanidade inteira por todos os séculos?
Vejamos Lc 1, 34-38:

“E disse Maria ao anjo: Como se fará isto, visto que não conheço homem algum? E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus. E eis que também Isabel, tua prima, concebeu um filho em sua velhice; e é este o sexto mês para aquela que era chamada estéril; Porque para Deus nada é impossível. Disse então Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo ausentou-se dela.”

E a frase seguinte (v. 39):

“E, naqueles dias, levantando-se Maria, foi apressada às montanhas, a uma cidade de Judá”

Maria não ficou curtindo sua maternidade: “Agora vamos ficar eu e José deitadinhos na rede, sonhando com o nosso futuro e conversando sobre a nossa alegria...”. Não. Ela partiu apressadamente. Continua o evangelista:

“E entrou em casa de Zacarias, e saudou a Isabel. E aconteceu que, ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a criancinha saltou no seu ventre; e Isabel foi cheia do Espírito Santo. E exclamou com grande voz, e disse: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre. E de onde me provém isto a mim, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor? Pois eis que, ao chegar aos meus ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada a que creu, pois hão de cumprir-se as coisas que da parte do Senhor lhe foram ditas.
Disse então Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, E o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador; Porque atentou na baixeza de sua serva; Pois eis que desde agora todas as gerações me chamarão bem-aventurada, Porque me fez grandes coisas o Poderoso; E santo é seu nome. E a sua misericórdia é de geração em geração sobre os que o temem. Com o seu braço agiu valorosamente; Dissipou os soberbos no pensamento de seus corações. Depôs dos tronos os poderosos, E elevou os humildes. Encheu de bens os famintos, E despediu vazios os ricos. Auxiliou a Israel seu servo, Recordando-se da sua misericórdia; Como falou a nossos pais, Para com Abraão e a sua posteridade, para sempre. E Maria ficou com ela quase três meses, e depois voltou para sua casa.

Só se fala de alegria. A alegria de ser mãe, a alegria de saber que sua prima idosa e estéril também havia sido contemplada com a maternidade, a alegria de comunicar a alegrai. Como anda a minha responsabilidade individual e, principalmente familiar, para com as outras famílias com quem me relaciono. Meus vizinhos, minha pastoral, meus colegas de trabalho.... consigo ajudar que essas famílias cresçam em alegria por causa do testemunho da minha família. Posso dizer que quando a minha família vai ao encontro de outras famílias eles saltam de alegria? Elas conseguem perceber o gozo e o contentamento em nós?
Ser alegre para as outras famílias é algo “muito sério” por assim dizer. Precisamos semear a alegria nesta campo do mundo que anda tão conturbado. É a família que mantém a alegria das outras famílias. Neste retiro podemos sair com o propósito de não deixarmos uma família conhecida triste ou isolada, vivendo aflições.
Em 17 de maio de 1939 o Papa Pio XII escreveu. Em setembro começaria a II Guerra Mundial. Como e costume no Vaticano, os noivos que se casaram em Roma vão vestidos como no dia do casamento pedir a bênção do papa para os noivos. Neste dia o papa se dirige aos noivos falando da IMUTÁVEL ALEGRIA. Mesmo já diante do perigo iminente, ele não poderia deixar de exortar as pessoas a serem semeadores da paz e da alegria. Era véspera da Ascensão do Senhor.
“A Ascensão do senhor é a festa da alegria pura da esperança serena , dos santos desejos. E ela é o reflexo da solene cerimônia do casamento que vocês viveram já que o matrimonia cristão que vocês celebraram no alta deve semear, suscitar e anuncia r a alegria a esperança e os desejos de proposito a fim de que aquilo que alentou e continua animando os vossos corações es sejam profundamente unidos aquilo que sugere a grande solenidade da ascensão do Senhor.”
Cada família é chamada a ser um pedacinho do céu na terra, por isso é a Igreja doméstica

“Seja pura a vossa alegria como aquela dos apóstolos ao descerem o monte das oliveira.. com grande alegria, com o coração transbordando de alegria.”

Os apóstolos voltaram comunicando a alegria de terem encontrado a Cristo (I Jo 1,1-2).

“O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida. Porque a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai, e nos foi manifestada”

Hoje urge a missão de tornar as famílias mais alegres, porque elas estão tensas, divididas, sofridas, abandonadas... Por isso, peçamos a Deus que cauterize em nós o foco da síndrome do Peter Pan. Assumamos a nossa reponsabilidade de sairmos apressadamente ao campo que Deus nos enviou.
Nossa primeira pressa seja escrever nome e sobrenome de famílias que conhecemos e que tens problemas das mais diversas ordens, que vivem não diante do sacrário, mas diante do muro das lamentações. Comprometa-se me levar alegria para essas famílias.
Será uma trabalho de semeadura. Para umas a alegria ficará à beira do caminho, outras terão o coração duro de pedra, outras serão espinhosas, mas a maioria é terra sedenta que espera e acolherá a alegria e a paz que a sua família deve semear.
Devemos deixar de lado a imagem da árvore genealógica. É uma imagem que se fecha em si mesma. Precisamos expandir os horizontes! A imagem deve ser como de um sistema planetário, em círculos concêntricos. Cada família é um planeta, que está junto de outros planetas e esse sistema está juntos de outros que formam o universo, que é a sociedade.
A missão é grande! Depois da ascensão os apóstolos sabiam disso, mas ainda assim voltaram alegres e veja só o que fizeram. A alegria de uma família pode contagiar as outras. Não sejamos jamais um “buraco negro”, esses espaços que absorvem toda energia e não irradiam nada e atrapalham de certa forma a expansão do universo que é constante. São as famílias que ficam absorvendo as suas mágoas e se fecham em si mesmas. São famílias frias. Não sejamos assim. E se conhecemos alguma família “buraco negro”, ela precisa estar na nossa lista.
É tão bonito ver famílias formando grupos de famílias, que convivem juntas, passeiam juntas... Elas buscam aquilo que o mundo promete, mas não sabe dar: a paz e a alegria.
Olhemos mais uma vez para a Família de Nazaré e imaginemos a alegria do seu encontro com Isabel e Zacarias. Uma visita que durou três meses. Três meses de serviço. Que tal eu aproveitar os próximos três meses para visitar essas famílias da minha lista? Não podemos sair do retiro sem um propósito como esse que sugiro, ou a síndrome do Peter Pan voltará. Ela é contagiosa. Quantos fogem da responsabilidade. Por isso, são poucos os que fazem muito e acabam se sobrecarregando. No momento da apresentação das ofertas na Missa, coloquemos estas famílias diante do altar e entreguemos também a nossa perseverança em servir.

2ª PALESTRA




O livro que apresento hoje, aconselho todos a lerem porque trata justamente de respostas educadas para questões polêmicas. O livro chama-se: "Como Defender a Fé sem Levantar a Voz" (ed. Quadrante , Austen Ivereigh). Ele recolhe a experiência de um grupo de jornalistas – muitos deles jovens -- que aproveitando a viagem do papa Bento XVI a Inglaterra. Por que em 2009 ele tinha falado dos preservativos e dos atos homossexuais e foi muito atacado pelos que são a favor da Ideologia de gênero e do controle demográfico e foi muito criticado e até ridicularizado.
Um jornalista se juntou a outros e criou o Movimento “Vozes Católicas” (catholicvoices). São jovens da área de comunicação que procuram dar voz à Igreja Católica. Na introdução ele fala que muitas vezes somos nomeados “porta-vozes” da Igreja Católica e somos interpelados às vezes por uma turba pronta para o linchamento. Uns questionam sobre a AIDS, outros sobre um certo pronunciamento do papa, o “casamento gay”, a pedofilia cometida pelo clero... e nos sentimos tão preparados como Daniel na Cova dos Leões. Quando trazemos alguns argumentos, uns sorriem, ficam um pouco constrangidos, mas muitos não se sentem persuadidos....
Um método que pode funcionar para qualquer pessoa que quer sair em defesa da Igreja. Se não se consegue posicionar de maneira sucinta e inteligente, será uma oportunidade perdida de esclarecimento. Pode não ser um desastre, mas também não será eficaz. Mesmo se sermos da hierarquia, é só nos apresentarmos como católicos para sermos questionados.
O argumento de ponto de partida é que precisamos ter uma nova forma de pensar para não estarmos nem na defensiva, e nem agirmos de forma agressiva. Trata-se de REENQUADRAR A CRÍTICA. No coração deste método está o que chamamos de intenção positiva. Por trás de toda crítica hostil ou preconceituosa a igreja há um valor ético para o qual o crítico faz um apelo. Certas questões se tornam nevrálgicas porque um valore parece estar sob ameaça e todos os escrúpulos para preserva-los seriam válidos. Temos fundamentos sólidos mas não somos fundamentalistas.
Precisamos, então, descobrir a intenção positiva por trás da crítica para gerarmos DIÁLOGO E NÃO DISCUSSÃO. Diálogo não significa abrir mão das nossas convicções, mas sim, construir relações de confiança entre pessoas de convicções diversas das nossas. Dialogar não significa acomodarmos nem abandonarmos os valores próprios da nossa fé.
Vejamos um exemplo: legalização do suicídio assistido.
Se não tivermos esse novo método, poderemos exclamar: “Absurdo! São todos contra a vida! Perseguem a Igreja!”. Pronto. Perdemos o interlocutor. Façamos diferente.
1º passo - Reflitamos: O desejo pela legalização do suicídio baseia-se na pressuposição positiva de que o ser humano deve ser poupado de um sofrimento desnecessário.
2º passo – Nós católicos concordamos em que muito embora o sofrimento esteja vinculado à doença ao envelhecimento e à morte, ninguém deveria ter de resignar-se a uma dor ou sofrimento insuportável. Razão porque tantas casas de repouso e hospitais são administradas por católicos, para que as pessoas tenham um pouco de dignidade e assistência na hora da dor e da morte. E não que sejam mortas porque estão sofrendo. Uma vez que estamos de acordo neste ponto, podemos analisar os pontos em que discordamos.
3º passo – Debatamos sobre significado da morte, a questão da autonomia e o impacto que uma lei de suicídio assistido teria na saúde pública e na imagem social dos doentes e idosos.
Perceberam a diferença de postura? Vejam se não podemos aplicar isso no caso também da legalização do aborto. Não desprezemos o sofrimento da mulher, vamos dar-lhe o devido valor e relembrar como a Igreja tem ajudado.
O próprio papa Bento XVI nos pediu que além de sermos exemplos de fé, trabalhássemos para dar a visão da fé nos debates públicos. Nos EUA (em 2012), ao falar sobre a forte pressão do laicismo contra a liberdade religiosa, pede um laicato católico bem formado, organizado e articulado para combater aqueles que querem desarticular a Verdade sobre o homem. A uma tarefa prioritária no nosso tempo é formar uma visão cristã acerca do homem e da sociedade.
A Igreja não precisa ser defendida. A Igreja é Jesus e ele nunca precisou se defender. Precisamos defender o homem, a mulher, a criança, o bem comum, a justiça, a honestidade... os valores que estão inspirados nos ensinamentos de Jesus Cristo! Agora é a hora dos líderes leigos que não se esquivem da sua missão, e sejam líderes de uma renovação moral e cívica, disse uma vez um bispo também americano, de Los Angeles.
Exemplos bem práticos, e que está bem em voga: homossexualismo e contracepção.
“Por que a Igreja é a favor do planejamento natural e não da contracepção? Se os próprios católicos usam anticoncepcionais, por que não aceitar logo isso?”
“Se a pessoa nasce gay, por que não pode realizar sua sexualidade? Se a Igreja considera os gays desordenados não é um contrassenso que se oponha serem discriminados?”
Consideremos estes dois temas que tem relação com a moral sexual. Que valor está por trás delas? Que o sexo representa um bem. As pessoas que defendem essas coisas, no fundo, entendem que o sexo tem um significado, mas hoje pensa-se que, basta que o sexo seja consensual, ele será legítimo. Ora, legítimo é diferente de bom!
O sexo tem um propósito e representa um bem, não basta ser simplesmente consensual. Envolve algum grau de afeição e de compromisso e deveríamos evitar fazer dele um mero produto. A maior parte das pessoas acredita que por ser tão bom e para que possa alcançar seus propósitos, precisa estar inserido dentro do contexto certo para ser bem vivido. Isso não é só a Igreja, mas muitas pessoas. Para viver bem o sexo é preciso que haja alguns limites. Até aqueles pais que dizem (erroneamente): “Eu prefiro que minha filha faça sexo com o namora aqui na minha casa do que ficarem andando por aí correndo perigo” – não deixa de estar criando um contexto. Errado, mas já vemos aí uma busca pela verdade. Qual é o melhor contexto: o contexto de um compromisso definitivo, o contexto de uma família. A lei define os limites tomando por base o princípio da consensualidade.
Um adulto que tenha relações sexuais com uma menor de idade será considerado um infrator num dia e um cidadão honesto no outro, dependendo que quando for o seu aniversário de maioridade. Moralidade nem sempre é legalidade. Um argumento assim, faz uma pessoa pensar.
A Igreja considera o sexo algo essencialmente bom se tem lugar dentro de um casamento entre um homem e uma mulher que se abrem à possiblidade de gerar filhos, porque mantem os seus propósitos originais: unitivo e procriativo. Fora deste contexto ele tende-se a se tornar egoísta e potencialmente destrutivo para qualquer relacionamento.
Fora do contexto e fora dos limites quantas coisas cruéis acontecem na sociedade? Sou diretor do Ambulatório da Providência, trabalho iniciado por Dra. Elizabeth Linhares que trabalha com moradores de rua e prostitutas portadores de AIDS. Essa médica tem muitas histórias tristes dessas mulheres totalmente dilaceradas física e emocionalmente. E o governo quer distribuir camisinhas? Isso é dar dignidade humana?!
Ou seria o trabalho, como o que a Irmã Marivel faz de acolher essas mulheres, levantar sua auto-estima e leva-las a resgatarem a fé e a sua dignidade humana. A solução seria legalizar a prostituição?! Não! Não é isso que faz uma sociedade mais humana. Ou o exemplo do Padre Renato que cuida de crianças abandonadas e usuários de crack, olhando-os como pessoas, como serem humanos! Ele chegou a escrever uma carta a presidente Dilma, porque o governo quer cortar os recursos aos trabalhos sociais por serem instituições confessionais, e que elas discriminam as pessoas de outras religiões, que o tratamento com oração não é eficaz e que elas estão impondo a sua doutrina, e outros argumento assim. A solução é legalizar as drogas?! Não! Quem vai fazer esse trabalho? O governo?! Tudo com a justificativa do “estado laico”...
Vejam: não defendemos a Igreja. Não defendemos o dogma da Santíssima Trindade ou da transubstanciação do pão e do vinho. Não. Defendemos o ser humano!!
Voltemos à questão do homossexualismo e da contracepção. Há uma preocupação com o bem estar das pessoas. Partamos daí, mostremos o valor comum e depois, sim, apresentar a doutrina da Igreja.
Muitos outros temas importantes também trata o livro é Igreja e política, liberdade religiosa, abuso sexual e o clero, manutenção da união conjugal, etc...
Quais são, dentro dessa metodologia de reenquadramento da crítica, os 10 PRINCÍPIOS DE UMA COMUNICAÇÃO CIVILIZADA, que o livro apresenta:
1. Procure a intenção positiva por trás da crítica, busque seu princípio ético ainda que pareçam soterrados
2. Traga luz e não calor às discussões, como homens de fé desejamos trazer luzes aos assuntos mais delicados que já são por si só acalorados.
3. As pessoas não lembrarão tanto do que você disse, mas do sentimento que você despertou nelas.
4. Não diga, simplesmente mostre. As pessoas preferem e histórias e fatos concretos e não abstratos.
5. Pense em triângulos: não vá direto ao ponto, nem dê uma enxurrada de argumentos. Sendo direto demais o diálogo se fechará. E com muitos argumentos a conversa irá por caminhos tortuosos e pode acabar num beco sem saída. Concentre seu pensamento em apenas três dos pontos mais importantes, no máximo.
6. Seja positivo. A Igreja deve estar mais para Madre Teresa de Calcutá que para um quartel.
7. Seja compassivo. A compaixão é a qualidade que deve notabilizar os cristãos. A arte de ser compassivo é a chave para sair do círculo dos ataques.
8. Baseie-se em dados. Certifique-se que os índices de que menciona são de fácil compreensão e de fonte confiável, porque muitas críticas à Igreja estão baseadas em números falsos e nós não podemos cometer o mesmo erro.
9. Não é nada pessoal. As pessoas não estão nos criticando. A boa comunicação depende essencialmente de que se ponha o ego de lado! O oponente não está nos desrespeitando, mas os valores que eu represento.
10. Testemunhar não significa vencer.


6ª Meditação

Partilho uma experiência interessante que tive logo após minha ordenação sacerdotal e que definiu para mim de forma muito específica que ser padre é ser uma pessoa que sabe fazer mala. Porque toda hora saímos para uma atividade aqui ou acolá. E vamos ganhando a experiência de saber escolher apenas o essencial. Como fazer com a túnica ou a batina que é dobrada e fica toda amarrotada? Um padre experiente me aconselhou. Assim que chegar, pendure a túnica num cabide no banheiro, ligue o chuveiro quente, feche a porta e deixe o vapor um bom tempo, pois o vapor desamassa a roupa. Hoje já existe o vaporizador, o que é de grande ajuda!
Por que conto isso? Porque assim como é preciso o ambiente saturado de vapor que desamassa a roupa é preciso saturar as famílias com o vapor da alegria para desamassar as caras feridas e transtornadas. Precisamos ser “famílias vaporizadoras” para ajudarmos a cicatrizar as feridas e levar as pessoas a descobrirem que mesmo no meio das realidades dolorosas é possível sermos alegres na vida em família. Vimos alguns exemplos que, nas famílias onde Cristo está presente, ela se tornam vaporizadoras de alegria: a família de Nazaré, de Betânia, a de Zaqueu, a de Santa Terezinha, a de João Paulo II... todas passaram por muitas dores e tinham vidas feridas, mas ainda assim, eram “vaporizadoras de alegria”! E mais, encontraram e formaram outras famílias “vaporizadoras que sabem,--  como tantas famílias anônimas” -- , condensar a alegria.
Precisamos de uma verdadeira saturação de alegria. Se minha família tem essa alegria condensada, as pessoas de dentro e de fora da minha casa, ao meu redor, ficarão desamassadas, tornando mais suave o caminho da vida. A saturação da alegria é um verdadeiro milagre.
Trago dois exemplos de famílias sobrenaturais e que tiveram na história da Igreja recente um papel decisivo para com as famílias. Primeiro lembro uma mulher: Chiara Lubich, do Movimento Focolares. Não constituiu uma família natural, mas deixou um testamento, chamado: “Sejam uma família”.

“Se tivesse que deixar esta Terra hoje, e me fosse solicitada uma palavra, como última palavra que afirma o nosso ideal, diria a vocês - certa de ser compreendida no sentido mais exato -: "Sejam uma Família".
Há entre vocês quem sofra de provações espirituais ou morais? Compreendam-nos como e mais do que uma mãe, iluminem-nos com a palavra e o exemplo. Não deixem que lhes falte, aliás, aumentem em volta deles, o calor da família.
Há entre vocês quem sofra fisicamente? Sejam eles os irmãos prediletos. Sofram com eles. Tentem compreender as suas dores até o fim. Façam que participem dos frutos da vida apostólica de vocês para que saibam que eles, mais do que outros, contribuíram para tanto.
Há quem esteja à beira da morte? Imaginem-se no lugar deles e façam o que gostariam que lhes fosse feito até o último instante.
Há alguém feliz por um sucesso ou pro um motivo qualquer? Fiquem felizes com ele, para que a sua consolação não se contriste, nem se tranque o espírito, mas a alegria seja de todos.
Há alguém de partida? Não o deixem ir sem lhe ter preenchido o coração com uma única herança: o sentido da família, para que o leve aonde for.”

São Josemaría Escrivá, dizia: “No dia em que nós vivermos como indiferentes teremos matado o ambiente de família.”. Não podemos ser indiferentes também às famílias que estão ao nosso lado! Multiplicam-se os acompanhantes porque diminuem-se as presenças de familiares, por exemplo. Numa visita pastoral em Madureira, o padre me levou para visitar uma casa para idosos nas redondezas. Era muito bem instalada, havia muitos cuidadores, mas... não é um ambiente familiar... Não existe nada como a família. Sei que cada família tem seus problemas próprios e preocupações mas não podemos viver só para nós mesmos. No Credo rezamos: “Creio na Comunhão dos santos”. Minha família é capaz de fazer uma transfusão de alegria para as outras famílias. Ás vezes com uma simples visita, não se precisa de nada muito especial, pois o trabalho eficaz Deus já vai realizando desde antes, por meio desta comunhão dos santos.
Dentro desta família que menciono agora, surgiu uma ideia: Como ajudar as família a serem família. “A Educação em Família: 21 Temas” é o título deste livro eletrônico (http://odnmedia.s3.amazonaws.com/docs/educacacao_em_familia-pt.pdf) . Uma ideia que surgiu em casa, partindo da indagação de o que se entende por pessoa e por família. Mas hoje o mundo vive uma “alta cota de confusão”.

O casal e seus filhos escreveram esses 21 artigos falando da missão da família, da educação dos filhos, do tempo livre, boas maneiras, educação para o pudor, influências das novas tecnologias, etc. Estudaram, reuniram material e desta família nasceu este livro digital de 200 páginas, inspirado por suas experiências pessoais e pelos ensinamentos da Igreja. Quanta riqueza podemos partilhar com as famílias à nossa volta! Quanto aprendizado hoje disponível com facilidade! Não podemos mais usar a desculpa: “Eu não sei o que fazer para desamassar as famílias...”. Nossa proximidade com as famílias é fundamental. Ás vezes, parece uma família, mas falta o amor conjugal, os pais não sabem que tem que ser os primeiros educadores, ou situações assim.

Leiam novamente o “Testamento de Chiara”, com tantas recomendações bonitas e úteis. E ela continua.

“Não anteponham jamais ao espírito de família com os irmãos com quem vivem qualquer atividade de qualquer gênero, nem espiritual, nem apostólica.
E aonde quer que forem para levar o ideal de Cristo, para expandir a imensa família da Obra de Maria, não farão coisa melhor do que procurar criar com discrição, com prudência, mas com determinação, o espírito de família. É um espírito humilde, quer o bem dos outros, não se envaidece..., é, enfim, a caridade verdadeira, completa.
Em resumo, se eu tivesse que partir de vocês, deixaria na prática que Jesus em mim repetisse: "Amai-vos reciprocamente... a fim de que todos sejam um".

Bonitas palavras de uma mulher que não teve filhos no seu corpo, mas filhos do seu coração e nos deixou este testamento. Ela dá uma série de orientações práticas para nos saturarmos de alegria. Precisamos simplesmente SER FAMÍLIA. Fala de compreendermos os outros mais do que uma mãe compreende o seu filho. Procuremos compreender as famílias e saibamos iluminar suas vidas com nossa presença e uma palavra de consolo. Aumentemos o calor!
Parece traduzir o que Jesus falou no Evangelho de Mateus, quando disse (Mt 6, 26-29):
“Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas? E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura? E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam; E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.”
Quantas vezes queremos resolver os problemas familiares das famílias próximas promovendo grandes atividades, quando na verdade, essas famílias precisam de presença, de amor e acolhimento, é algo bem mais simples. É o amor que vai e vem. Um amor, como afirmava Chiara, que tem todos os sabores. Ela dizia que amor deveria ser como uma mãe, que faz tudo pelo bem-estar e proteção do seu filho. Se o filho faz uma cirurgia é ela que passa a noite em claro, fica com a mesma roupa por três dias, entra em contato com o médico, engole as lágrimas. Em casa, é a mãe que lava os pratos, arruma tudo, é sempre a última a dormir. Em outras palavras: a mãe é uma criada. Palavra que pode parecer feia para nós, mas é como foi Maria. Assim, como Maria que foi em tudo servidora: “Eis aqui a Serva do Senhor.”, assim devemos ser também nós. Observações de Chiara, uma mãe espiritual.
Minha família pode ser como essa mãe: servidora de todos. Isso é que Deus quer que nós vivamos, e que assim, cumpramos nossa missão de família.
Mais uma vez, preciso definir propósitos práticos e concretos. Não podemos simplesmente pressupor nada. “Eles estão bem de vida, já vão à missa, fazem parte de uma pastoral...”. Não. Às vezes, falta o óbvio. Precisamos conhecer a realidade das famílias à nossa volta, entrando em suas vidas e. com carinho, “metermos o bico” na vida alheia”. Será que elas têm o óbvio? Essa família precisa “ser adotada”, ou seja, precisa ser ajudada a ser uma família alegre?

Nosso Senhor nos pede que nossa família seja mãe de outras famílias. Que possamos irradiar e vaporizar a nossa alegria nas famílias à nossa volta também. Não giremos apenas em torno de nós mesmos. Uma família sadia neste sistema planetário precisa fazer também o movimento de translação. Girar em torno de outras famílias!

sábado, 13 de junho de 2015

Retiro da Pastoral Familiar 2015 (2)

SÁBADO (13. 06. 2015)

2ª Meditação

CONSTRUIR A ALEGRIA NA FAMÍLIA

Os Evangelhos nos contam vários momentos em que Jesus esteve presente junto às famílias. Um exemplo disso, está em Joa, cap. 2 quando Jesus foi com sua mãe e seus amigos nas Bodas de Caná. É um episódio bonito e tocante. Era uma festa. Todos estavam alegres. Só Maria percebeu que o vinho estava acabando. Ela prestava atenção nas pessoas, porque, por causa de cada uma delas, seu Filho tinha vindo ao mundo.
Como boa dona de casa, foi a Jesus e lhe disse: “Eles não tem mais vinho.”. É como se dissesse: “A festa vai acabar.”. Ora, toda festa acaba, mais cedo ou mas tarde... mas Maria vem pedir que aquela festa continue, que a alegria compartilhada entre aquelas pessoas não termine.
Temos, então, as únicas palavras registradas na Bíblia que Mari não dirige a Deus, mas sim aos homens: “Fazei tudo o que ele vos disser.”. Jesus cede ao pedido da sua mãe e pede aos homens que encham seis talhas com água, cada qual com 100 litros. E elas se encheram de vinho, o melhor vinho. A festa continuou e a alegria não esfriou.
A família que sabe guardar o melhor de si para o amanhã é a família que constrói as relações da forma certa. O melhor da família não pode estar no ontem, nem no hoje, mas no depois.
À vezes, parece que o tempo do namoro era muito melhor e mais feliz que o casamento. Que os primeiros anos do casamento foram melhores que o atuais. As relações em vez de melhorarem com o tempo, acabam se deteriorando. Isto é estranho. Casam-se para terem um melhor vinho e acabam servindo o pior. Não! Jesus nos ensina que o melhor sempre está por vir! Melhor relação conjugal, melhor relação materno-paterna, fraternal, filial, entre os parentes... Isso faz da família “usina geradora de alegria”.
As pessoas casadas deveriam pensar assim: “Ainda não experimentamos o melhor do nosso casamento!”. Do contrário, a alegria vai esfriando e a festa do amor vai acabando. Aparentemente, pode-se estar bem, mas pode estar faltando essa alegria que só o vinho novo traz. E o vinho não é um produto, mas sim as relações humanas. E não devem haver relações que tragam mais alegria que as familiares.
Cada homem e cada mulher é uma fotografia de Deus, e Deus é família. Somos imagem de Deus não apenas na nossa individualidade, mas principalmente nas nossas relações, de modo especial, nas intrafamiliares.
                Na família há distinção de pessoas, assim como na Santíssima Trindade, mas há unidade entre cada uma das pessoas. Construir essas relações é condição fundamental para se viver em família e em sociedade. As outras alegrias jamais podem ser maiores que as alegrias familiares. Do contrário, estaremos “aguando” a vida!
                Desde o início, os cristãos eram assim julgados pelo pagãos: “Vejam como se amam.”. Está lá nos Atos dos Apóstolos. Eram reconhecidos porque tinham tudo em comum, eram alegres na dor, tinham um só coração e uma só alma.
Construir vínculos é criar laços, por isso se falam em “laços afetivos”. Vejamos este bonito poema de Mário Quintana:

O LAÇO E O ABRAÇO

Meu Deus! Como é engraçado!
Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço... uma fita dando voltas.
Enrosca-se, mas não se embola, vira, revira, circula e pronto: está dado o laço.
É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de braço.

É assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo,
no vestido, em qualquer coisa onde o faço.
E quando puxo uma ponta, o que é que acontece? Vai escorregando...
devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço.

Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido.
E, na fita, que curioso, não faltou nem um pedaço.
Ah! Então, é assim o amor, a amizade.
Tudo que é sentimento. Como um pedaço de fita.

Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora,
deixando livre as duas bandas do laço.
Por isso é que se diz: laço afetivo, laço de amizade.
E quando alguém briga, então se diz: romperam-se os laços.

E saem as duas partes, igual meus pedaços de fita, sem perder nenhum pedaço.
Então o amor e a amizade são isso...
Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam.
Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço!

                Uma das coisas que devemos prestar mais atenção na vida familiar é ver se estamos criando “nós” e não “laços”. Aquela alegria das Bodas de Caná é fazer laços cada vez melhores, os de hoje melhores que os de ontem, os do casamento, melhores que os do namoro. Quando a família só cria “nós”, vamos procurar “laços” fora de casa, no mundo virtual...
                Toda vida amorosa começa com laços. Nada foi por acaso. E nosso matrimônio, os laços que nos unem não são frutos dos nossos sentimentos meramente, mas do abraço amoroso de Deus, que tem um interesse particular e especial na nossa união! Muito mais forte do que a sintonia emocional é o laço divino que no une!
                E quando a morte “desfaz o laço”, a fita não se rompe. Quando um dos dois fica viúvo, a relação não se destrói, mas apenas fica diferente. Começa-se um novo nível de relacionamento.
                Um outro aspecto que vale ressaltar: em geral, nas relações humanas, há uma tendência de sermos bons vendedores de nós mesmos, como se quiséssemos vender um produto de qualidade. Depois que ficou na vitrine e foi comprado, o produto perde a qualidade. Como aquela camisa chinesa, bonita e barata, que, quando colocada na máquina de lavar pela primeira vez, logo desbota e encolhe. Não devemos ser bons vendedores de nós mesmos, mas devemos simplesmente SER NÓS MESMOS. No céu não existe “recall”, nem defesa do consumidor.
                Outro ponto importante é uma regra de ouro: não se prenda à aparência atual. Projete a outra pessoa no futuro. Assim reconheceremos se um relacionamento é duradouro. Pergunte-se: “Como será essa pessoa no futuro? Como eu a amarei no futuro?”. Lembre-se de que o melhor vinho fica sempre para depois.
                Com o passar do tempo devemos dar cada vez mais importância aqueles que estão à nossa volta. Assim como São Paulo dizia (Rm 8, 35-39):

“Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; Somos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.”

Isso pode ser aplicado também ao seu relacionamento com qualquer pessoa da sua família. Veja bem: dar importância aos outros e não alimentar expectativas sobre eles! As expectativas não são alcançadas e daí vem as decepções e até as separações. Construir relações saudáveis é dar uma crescente importância às pessoas.
Desta forma, o compromisso um dia assumido perdura com o tempo. E termos a segurança de que o outro nunca nos abandonará porque somos importantes para ele, é o que nos dá a maior alegria, uma alegria indescritível.
Que lindo é ver que as pessoas são capazes de sacrificar o melhor de si mesmas pelas outras, assim como Deus que sacrificou seu Filho por nós. Assim como Jesus que por amor ao Pai e aos homens se entregou no sacrifício supremo da Cruz nos ensina que a mais bela forma de amor é entregar a vida pelo outro, sem resistências.
E assim, com fidelidade e confiança a festa continuará para sempre!

 1ª PALESTRA

Nesta palestra, apresento o ENCHIRIDION DELLA FAMIGLIA E DELLA VITA, um compêndio que a Santa Sé publicou no final de 2014 com todos os escritos da Igreja sobre a família. Pelo índice já podemos ter muitas noções importantes. No século XVI, quando houve o Concílio de Trento, o matrimônio e família forma muito significativos.
Vejamos isso, primeiramente só em números:

- No século XVII, Pio VI escreveu dois documentos sobre a Família.
- Pio IX, no século XIX, produziu três documentos na mesma temática.
- Leão XIII (1878-1903) tem mais de 300 referências à família.
- Bento XV (1914- 1922) faz dez intervenções a favor da família.
- Pio XI faz 28 (1922-1939), Pio XII (1939-1958) faz menção e à família 198 vezes.
- João XXIII faz 44 menções.
- Paulo VI faz 76 referências.
- João Paulo I que só ficou um mês, falou sobre família quarto vezes.
- João Paulo II (1978-2005) faz 139 referências à família em variadas intervenções.
- Bento XVI (2005-2013) menciona a família 357 vezes em oito anos.
- Papa Francisco que é papa há dois anos já mencionou a família 133 vezes.

Só de Bento XVI para cá já temos 490 menções à família nos últimos dez anos. Vejam como a Igreja fala, promove e orienta a família. Isso não é comentado pela mídia! E ainda dizem que a família cristã é um modelo ultrapassado e que os cristãos estão desorientados porque a Igreja não orienta dos seus fiéis.
As temáticas deste compêndio são as mais diversas: amor conjugal, aborto, educação dos filhos, abandono dos idosos, o homem, a mulher, preparação matrimonial, etc.
Não podemos deixarmo-nos influenciar por estas críticas de que a Igreja não consegue mais chegar às famílias. Muitas vezes é a família que não consegue chegar à Igreja.
Um exemplo interessante. Na pág. 138 deste compêndio, encontramos a carta do Papa Leão XIII ao Imperador do Brasil, do dia 19 de julho de 1889, falando dos perigos que a reforma da república poderia trazer para o país em termos da preservação do depósito da fé. Sabemos que todos esses movimentos republicanos tiveram como base a Maçonaria, que á anti-católica. O papa chama a atenção para sua aparente forma vaga e geral, mas que traz grande perniciosidade querendo criar, por exemplo, os registros de nascimentos, que originalmente eram feitos no Batismo, do matrimônio, que sempre era religioso, em atos civis. Essas poderiam tornar-se (como vem se tornando) ameaças a estabilidade familiar e social.
Constatamos como tudo é feito assim, até hoje. Quem não ouve coisas como: “Vivemos num pais democrático”, “a liberdade deve ser respeitada”, “poder ao povo”, “estado laico”...
No prefácio deste compêndio, há uma frase que chama à atenção: “O tema da família não interessa somente à Igreja, mas a toda sociedade em sua complexidade. É a família que mantém literalmente viva a sociedade humana.”. É graças à família que a Igreja se desenvolveu no mundo. Atacar a família não é matar a Igreja (porque sabemos que “as portas do inferno nunca prevalecerão contra ela...”), mas e atacar a própria sociedade.
“ A Igreja desde a sua origem sentiu a responsabilidade de ajudar a família cristã a viver a sua vida própria segundo os princípios do Evangelho.”. A Igreja ajuda e também é ajuda pelas famílias, o que mostra o seu estreito vínculo. É a família quem dá vida à sociedade e a torna verdadeiramente humana. Quem quiser dominar a sociedade precisa desfigura-la e transformá-la em uma manada. Stalin disse que quem quiser dominar um povo deve dominar a família, e quem quiser dominar a família deve destruir a mulher. Não é à toa que o primeiro país, por exemplo, a legalizar o aborto foi a Rússia. Isso afeta as mulheres, a maternidade... Se a família não educa, o Estado educará ao seu bel prazer.
Ainda na introdução: “O Magistério da Igreja sempre teve em seu coração o acompanhamento dos esposos cristãos para que eles pudessem ser fiéis à vocação confiada a eles.”.
Essa preocupação da Igreja começou de forma mais localizada, com temas mais pontuais. Vejamos alguns exemplos de antes de 1439 (quando começa o compêndio),
- No século IV foi encontrado um documento de um sínodo de Elvira (Espanha), que falava em uma das temáticas sobre a relação entre Matrimônio e Eucaristia.
- Em 314, no concílio de Ardes (França), foi tratado sobre o tema do adultério e do divórcio. Em 240, no Concílio de Nicéia, um dos mais importantes da história da Igreja, falou-se sobre o matrimônio como manifestação da bondade de Deus.
- Uma consulta feita ao papa pelos búlgaros em 844 trata sobre a segunda união e a bigamia.
- O concílio de Florença 1439 fez um compendio de todas as reflexões teológicas feitas ao longo do século XIII, ou seja, vendo as famílias sob o ponto de vista divino.
Quero deter-me neste último. Esta Teologia começou em conventos, por parte de monges (que nunca se casaram)... Considerando que Deus se encarnou numa família, o matrimônio e a família foram virando ciência para a Igreja, muito dignos de estudos. As ciências modernas estudam a família sobre outros diferentes pontos de vista que acabam por dilacera-la. Mas Deus que é unidade, revela a essência da família e não seus acidentes. “O sétimo sacramento é o matrimônio, o qual é sinal da União de Cristo da Igreja, como disse o apóstolo “Esse é um Grande Mistério. Digo-o em relação a Cristo e à Igreja.” (Ef 5, 32). A causa eficiente do Matrimonio é o mútuo consentimento expresso pelas palavras dos presentes.”
O relacionamento de Cristo com a Igreja que é invisível, faz-se visível no matrimônio.
“Os três bens do matrimônio. O primeiro é a prole acolhida e educada para o culto de Deus.”. os filhos não criados tendo como finalidade os próprios pais nem as coisas mundanas, mas para reconhecerem a Deus e lhe prestarem culto.
“O segundo bem do matrimônio e a fidelidade que o cônjuge deve manter para com o outro, e o terceiro bem e a indissolubilidade que mostra a aliança de Cristo com a igreja. Ainda que por motivos pode adultério seja lícito separar-se, não e possível contrair outro matrimonio, vínculo que é perpétuo.”
E enquanto isso, somos tachados de conservadores e retrógrados porque não aceitamos as atrocidades, falta de respeito e desumanidades que aconteceram recentemente na “parada gay” de São Paulo. Atos assim, destroem a sociedade, degradando a nossa própria humanidade. Querem calar a Igreja, para que a família tenha uma vez a menos para defendê-la.
Continuemos navegando para não perdermos a perspectiva histórica. Foi o Concílio de Trento em seus documentos falando sobre o matrimônio (1563), diante do grande desafio da reforma protestante, que permitia os casados se separarem e contraírem novas núpcias. Toda autoridade do papa, do Magistério e da Tradição foram tiradas, e a autoridade estaria na interpretação pessoal da Bíblia.
“O vínculo do matrimonio foi decretado perpetuo e indissolúvel desde o primeiro pai do gênero humano quando disse (em Gen 2, 23-24): “Eis aí osso dos meus ossos, e carne da minha carne. Por isso, deixará o homem seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher e os dois serão uma só carne.” Isso não é uma lei civil, mas sim natural! Está inscrita no coração do homem. É lei divina e imutável. O matrimônio não pode ser legislado pelos homens, mas só pelo Deus que o criou.
“Esse vínculo que une e conjuga duas pessoas somente Cristo o Senhor pode referendar a palavra pronunciada por Deus. (cf. Mt 19) “... Mas no princípio não era ssim..Portanto, o homem não separe o que deus uniu.”
“O próprio Cristo autor dos santos sacramentos com a sua Paixão mereceu a Graça que aperfeiçoa aquele amos natural e confirma na indissolúvel unidade a santificação dos esposos.” O amor humano em todos os seus elementos é levado à perfeição por Cristo ao dar a vida por nós, sacrificando-se na Cruz. Essa é a razão para que os batizados se casem na Igreja. Mas hoje vemos tantas uniões de fato, apoiadas em meros e instáveis sentimentos...
Vejam como vivemos num mundo contraditório... os homoafetivos acham que o matrimônio se baseia no afeto e por isso os gays podem se casar e adotarem filhos, ou os terem por técnicas artificiais. Quando os estilistas Dolce e Gabana, que são homossexuais foram à público defender a família e dizer que os filhos devem ser gerados e educados pelo pai e pela mãe, o cantor Elton John conclamou a todos que boicotassem os produtos desta grife em protesto. E quando nós católicos, queremos boicotar os produtos da rede “Boticário”, somos tachados de conservadores!
Esta semana a lei que autoriza as biografias não-autorizadas colocou a liberdade de expressão acima do direito de intimidade e privacidade. Olhem que perigo e a que isso pode dar margem, a curto e longo prazo!
O amor humano, necessita, portanto, ser aperfeiçoado e confirmado pela Graça.
Só para termos uma noção da diversidade de temas do Compêndio. Um outro exemplo de Pio XII, em 1944, na Pontifício Universidade Gregoriana, falando sobre o Natal. Ele se dirige às crianças. “Natal é para vocês queridas crianças uma festa da alegria. Em torno ao presépio todo iluminado da vossa Igreja, com cânticos de alegria. É que nos deixa a imagem do Cristo sorridente. Talvez hoje longe da casa abandonada e destruída, a vista dos vossos pais com lágrimas, vocês devem compreender melhor que onde está o Natal com Deus ali está o mais pobre, a mais miserável de todas as crianças." Interessante. E hoje o que vemos? O Natal comercial. Dom Orani conseguiu apenas por dois anos com a Prefeitura que se colocassem presépios pela cidade, mas por causa do “estado laico” não se pode colocar nada, sob o pretexto de não ofender ninguém...
“Queridas crianças, meus pequeninos irmãos, eu sei bem o que vocês vem sofrendo,. Eu também sofro. Jesus sofreu na gruta de Belém. Eu quero que vocês olhe a Jesus, que escutem a gruta de Belém, no berço está a mais bela imagem, uma imagem de Jesus, é a hóstia santa que está presente escondida em Jesus.”
Voltando ao Concílio de Trento, que falava da Graça que santifica o amor natural, deu um passo importante em defesa da família. Segundo o costume da época, bastavam duas pessoas darem o consentimento mútuo, sem necessidade de nenhuma testemunha, para estarem casadas. Ou seja, o matrimônio era oculto. Desde o século XVI, foi definida a condição de validade, ou seja, a forma canônica do matrimônio: que o consentimento se dê diante de um representante legítimo da Igreja (bispo, padre, diácono, um leigo designado). Uma questão pastoral foi resolvida assim.
Demos um salto para 1890, com Leão XII, no Documento falando sobre a grande sabedoria divina, diz que o matrimônio é uma instituição natural porque pertence à ordem da criação e é também sobrenatural porque Cristo quis instituir o sacramento do matrimônio. Isto significa que não existem dois matrimônios: um natural e um sacramental. O Matrimônio é um só! Que para os batizados, que tem uma nova vida em Cristo, nos leva à perfeição da Graça. Não há casamento civil e casamento católico. Há o matrimônio natural. De modo que duas pessoas que não tenham nenhuma religião e se casam colocando como a causa eficiente de seu matrimonio a vontade de viverem aqueles três bens do matrimônio de que falamos antes (a prole, a fidelidade e a indissolubilidade) é um matrimônio válido!
O matrimonio use duas pessoas para o bem de si mesmas e da sociedade inteira! Quem muda primeiro é a família. A família é que influencia a sociedade e não o contrário. Precisamos de uma conversão pastoral. Não basta trazermos as famílias para dentro da Igreja, mas levamos boas famílias cristãs para serem missionárias do amor na sociedade.
Pio XI, em 1930, escreveu um documento muito importante Casti Conubiii, falando sobre a castidade no matrimônio. Este documento recorda os três grandes bens do matrimônio e para que fossem preservados e multiplicados, a fala é firme contra a contracepção. Um parênteses interessante, foi quando as feministas comemoraram os 50 anos de comercialização da pílula. E ainda dizem que a Igreja sempre chega atrasada... É irônico, ver este documento de 1930! A Igreja já falava que a contracepção destrói esses três bens. A camisinha já existia desde a Roma Antiga com camisinhas feitas com bexiga de porco, o aborto era comum. E os cristãos mudaram o mundo porque viviam justamente o contrário: a alegria da prole. É tão triste ouvir este termo: “evitar os filhos”...
Pio XII, conhecido como o “papa dos médicos”, ele mesmo estudava e escrevia discursos aos médicos e era até convidado para fazer pronunciamentos em congressos de medicina. Dos seus vários pronunciamentos sobre matrimonio e família, ele fala a favor dos métodos naturais para a regulação da fertilidade, que permitiam aos esposos cristãos espaçarem os nascimentos por razões graves e sérias. E exortava os cientistas para realizarem pesquisas sobre a fertilidade. Um exemplo disso, é a pesquisa dos Drs. Billings.
Um documento importante e caro é o Concílio Vaticanos II, no seu discurso de abertura e na Constituição Gaudium et Spes (Alegria e Esperança). Esses dois, em particular expandem a visão do matrimônio, encarada do ponto de vista jurídico, como de fato o é, para uma visão personalista, um meio de crescimento da pessoa humana; Isso se deu em grande parte pela influência do então cardeal Karol Wojtyla.
O matrimônio é interpretado sobretudo como uma comunidade de vida e de amor, entre um homem e uma mulher e, ainda que seja uma instituição com seus múltiplos valores, é reconhecido como uma relação de amor que Cristo elevou à dignidade de sacramento. Ao estado conjugal é atribuída uma certa consagração. Isso é uma linguagem audaciosa. A GS 48 a 52 discorre exatamente sobre essas questões. Há uma graça que eleva o ser humano a um estado sagrado.
Após o CVII, foram aparecendo vários outros documentos como a Humane Vitae de Paulo VI, em 1968. Gostaria muito que em todas as Paróquias do Rio de Janeiro fosse realizado em 2018 um tríduo comemorativo aos seus 50 anos. Essa encíclica que teve seu conteúdo tão reduzido pela mídia, a ponto de ser chamada “a encíclica da pílula”. O que não é absolutamente verdade.
Ela fala sobre a dignidade da vida humana e sobre o amor do homem e da mulher que, por ser uma amor humano, precisa ser compreendido em todas as suas dimensões: intelectual, emocional, cultural, física, lúdica, social...
O relacionamento conjugal, como o nome implica é total, fiel, leal, não penas ao não cometer um adultério, mas no sentido de sempre ser verdadeiro com o cônjuge. Isso também fala a Humanae Vitae. Quando falta fidelidade e transparência é porque há um recanto da minha vida que não pertence ao outro.
O documento trata da visão global do homem e do amor conjugal em longos oito parágrafos. Depois traz a anticoncepção como o que lesa o amor conjugal. O amor verdadeiro é fecundo, enquanto fertilidade biológica, e enquanto gerador de humanidade e santidade no outro. A vida familiar tem que tornar o outro melhor enquanto pessoa e enquanto cristão. Pode se ter passado da época da fertilidade, mas nunca da época da fecundidade. Sempre podemos gerar algo de melhor para os outros e para a sociedade. O amor não se torna estéril apenas pela pílula, mas pela indiferença para com o outro. Uma vez li em um livro que o homem se separa porque encontrou outra mulher e que a mulher se separa porque encontrou-se a si mesma.
Só então começa a falar sobre a pílula. O pior efeito da pílula não é o de evitar os filhos, mas de destruir o amor conjugal. Sua principal consequência sociológica é o aumento explosivo dos divórcios. Não há como se negar essa relação causa e efeito.
Em 1981 vem a Familiaris Consortio, que traz abrangentes questões pastorais nos temas de matrimônio e família, texto fruto do sínodo no ano anterior. E agora, este ano, teremos a conclusão de mais um sínodo sobre a família, conduzido pelo Papa Francisco que tem se pronunciado, pelo menos, semanalmente sobre o tema.
No final do prefácio do compêndio que estamos mencionando o texto lembra que o matrimônio e a família são uma encruzilhada onde se encontram a esperança humana e a graça divina, a promessa e o seu cumprimento. A relação conjugal aberta e acolhedora ao dom dos filhos é o lugar propicio onde a humanidade crê na promessa de Cristo para a redenção do casal. Os esposos e a família crista nesta rica e variada experiência cultural que vivemos são chamados hoje a serem fiéis ao dom da graça que lhes foi antecipado do Dom que Cristo deu à humanidade inteira.


3ª Meditação

Queria começar falando de uma família, que pelo conhecimento que se tem dela, marcada pela dor, mas que teve um protagonismo muito grande na vida de Jesus. Não me refiro á família de Nazaré, mas de Betânia. Este lar próximo de Jerusalém, muito visitado por Jesus, só se fala dos irmãos: Marta, Maria e Lázaro. Muito provavelmente os pais já deveriam ter morrido. O que sabemos entre eles é que Marta pareci ter o papel de mãe e de pai, assumindo muitas responsabilidades. Quando Jesus chega, como todos os homens de forma inesperada e trazendo doze amigos, é Marta que fica preocupada em preparar tudo para alimentação e repouso. Em outro momento essa família sem os pais, vive a dor da doença que evoluiu para o falecimento do irmão, Lázaro. O texto bem detalhado de Jo 11, 1-45.
“Estava, porém, enfermo um certo Lázaro, de betânia, aldeia de Maria e de sua irmã Marta. E Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com ungüento, e lhe tinha enxugado os pés com os seus cabelos, cujo irmão Lázaro estava enfermo. Mandaram-lhe, pois, suas irmãs dizer: Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas. E Jesus, ouvindo isto, disse: Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela. Ora, Jesus amava a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro. Ouvindo, pois, que estava enfermo, ficou ainda dois dias no lugar onde estava.”
 Amava muito, mas parecia que não tinha pressa de amar, aparentemente.
Quando veio a morte Jesus disse:
 “Assim falou; e depois disse-lhes: Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono. Disseram, pois, os seus discípulos: Senhor, se dorme, estará salvo. Mas Jesus dizia isto da sua morte; eles, porém, cuidavam que falava do repouso do sono. Então Jesus disse-lhes claramente: Lázaro está morto; E folgo, por amor de vós, de que eu lá não estivesse, para que acrediteis; mas vamos ter com ele.”.
Jesus fez questão de esperar este tempo apesar de estar tão perto deles, a cerca de três quilômetros. Marta é que corre ao encontro de Jesus e vem tirar satisfações com ele, como havia feito antes naquele episódio doméstico quando Maria estava aos seus pés.
“E muitos dos judeus tinham ido consolar a Marta e a Maria, acerca de seu irmão. Ouvindo, pois, Marta que Jesus vinha, saiu-lhe ao encontro; Maria, porém, ficou assentada em casa. Disse, pois, Marta a Jesus: Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Mas também agora sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá. Disse-lhe Jesus: Teu irmão há de ressuscitar. Disse-lhe Marta: Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia. Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; E todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. Crês tu isto? Disse-lhe ela: Sim, Senhor, creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo.
Essa comunicação entre Cristo revelando verdades futuras e a resposta de Marta fazendo um ato de fé, são coisas lindas de se ver. O episódio segue com a ressurreição. E vamos entrando no segundo aspecto da alegria na família que é fazer crescer.
“Tendo, pois, Maria chegado aonde Jesus estava, e vendo-o, lançou-se aos seus pés, dizendo-lhe: Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Jesus pois, quando a viu chorar, e também chorando os judeus que com ela vinham, moveu-se muito em espírito, e perturbou-se. E disse: Onde o pusestes? Disseram-lhe: Senhor, vem, e vê. Jesus chorou. Disseram, pois, os judeus: Vede como o amava.”
Jesus comunicava não só a sua verdade como Mestre, mas a sua intimidade. E alguns até o criticaram: “E alguns deles disseram: Não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer também com que este não morresse?”. Jesus ficou em silêncio, e não retrucou, mas novamente fica comovido. E quando chegou ao sepulcro: “Jesus, pois, movendo-se outra vez muito em si mesmo, veio ao sepulcro; e era uma caverna, e tinha uma pedra posta sobre ela. Disse Jesus: Tirai a pedra. Marta, irmã do defunto, disse-lhe: Senhor, já cheira mal, porque é já de quatro dias. Disse-lhe Jesus: Não te hei dito que, se creres, verás a glória de Deus?”
Jesus faz oração em voz alta, abre ao povo a sua alma. “Tiraram, pois, a pedra de onde o defunto jazia. E Jesus, levantando os olhos para cima, disse: Pai, graças te dou, por me haveres ouvido. Eu bem sei que sempre me ouves, mas eu disse isto por causa da multidão que está em redor, para que creiam que tu me enviaste. E, tendo dito isto, clamou com grande voz: Lázaro, sai para fora. E o defunto saiu, tendo as mãos e os pés ligados com faixas, e o seu rosto envolto num lenço. Disse-lhes Jesus: Desligai-o, e deixai-o ir.”
Interessante que o morto saiu, mesmo estando meio amarrado, cheio de faixas.
Vemos um episódio desta família marcada pela dor, mas que teve uma grande graça: hospedar o filho de Deus na sua casa. Cada vez que ia a Betânia comunicava as verdades da fé, os verdadeiros sentimentos humanos, comunicava confiança àquelas pessoas, comunicava paz serenidade, e proporcionava momentos prazerosos ainda que isso desse trabalho, como dar abrigo a 13 homens cansados e famintos. Jesus ensina: “Uma só coisa é necessária”. Ás vezes, achamos que precisamos de muitas coisas para tornar o nosso lar alegre e fazer com que as pessoas tenham vontade de voltar pra casa. Por que as pessoas querem tanto ficar fora de casa hoje? Custa muito suor, sangue e lágrimas criar um ambiente que faça com que as pessoas se sintam bem dentro de casa. Uma família comunicativa e atraente é essa força centrífuga que congrega cada um dos seus membros a que sejam felizes dentro de casa. Mas o que vemos é uma figa de casa. Deve haver uma razão. Porque uma festa na discoteca é mais atraente do que uma festa em casa. Será que é pelas luzes e bebidas, ou porque não temos a criatividade para preparar um ambiente agradável?
Quando chegava em Betânia, Jesus dava trabalho, mas dava muito mais que isso: levava Palavras de Vida Eterna!
Cito o psiquiatra e um escritor. Freud disse em uma de suas obras: “Os acontecimentos ocorridos durante os primeiros cinco anos de vida exercem uma influência sobre a vida do homem que nenhum fato posterior pode anular.”. Isso vale pra nossa vida pessoal e matrimonial. As tristes estatísticas mostram que os maiores índices de divórcio ocorrem nos cinco primeiros anos!
E Dostoyéwski disse: “Quem acumula muitas lembranças felizes nos primeiros momentos, de vida, este está salvo para sempre.” Mais uma vez, isso vale para a vida matrimonial e familiar também.
Por isso, é importante comunicar as pessoas um ambiente familiar sadio desde o início, mesmo que ainda não tenham vindo os filhos, mas é preciso já que o casal saiba disso, que os primeiros anos são decisivos, e proporcionam um crescimento de amor. Quando se cresce a comunicação melhora. Entre a família de Betânia e Jesus a comunicação era fácil. Jesus atraía os irmãos, por isso Maria não conseguia sair dos pés de Jesus. A vida social é importante, mas a vida em família é a melhor parte.
É certo nascemos no seio de uma família que não escolhemos e na nossa família atual, só uma pessoa escolhemos: o cônjuge. Também o futuro de nossas famílias não é escolhido por nós, mas por Deus. E não dá mais para voltar atrás. Mas uma só coisa é necessária: escolher bem as leis próprias do amor. E uma delas que nos faz crescer em humanidade e em santidade, e é a pedra de toque da alegria familiar, é a comunicação. Jesus é Deus se comunicando com a humanidade em seu grau máximo. Nós também podemos usufruir dessa revelação. Marta sabia que havia a ressurreição, mas viu Jesus revelar o seu mundo interior. Quantas vezes Jesus conversando com esses irmãos também conversava com o Pai. Não temos que ter vergonha de ser o que cada um de nós é nem termos vergonha de demonstramos isso. Há um escrúpulo exagerado de falar das suas intimidades. A família é o único âmbito da sociedade em que podemos nos expor sem nenhum respeito humano, porque lá somos considerados importantes.
Nada pode ser banal em uma comunicação intrafamiliar! Do contrário, entra a tristeza nessa casa. Quando se ensinam aos meninos: “Homem não chora!” – ora, os sentimentos são banalizados. E há consequências futuras. Por isso, quem encontra uma comunicação sadia, um relacionamento sincero desde o início, encontro uma alegria de viver que não achará em nenhum outro lugar. Uma das piores coisas que podem existir em casa é o silêncio sepulcral. Mostra que no coração humano há uma fechadura. As caras fechadas, os rostos sérios, a falta de revelação da intimidade são contrários à lei do amor. Família não custa dinheiro, custa tempo! Tempo para estar e tempo para se revelar!
Nota-se uma síndrome de deficiência não imunológica, síndrome da vitamina T – Tempo! Tempo de dedicação. Quanto tempo Jesus dedicava a família de Betânia. Numa semana importantíssima da sua vida, que foi a semana que hoje chamamos de santa, Jesus passa a quarta-feira em Betânia! Dedicou tempo a um homem que era odiado na cidade, que foi Zaqueu e foi ficar na sua casa, com a sua família. E qual foi o resultado deste tempo de dedicação? A conversão de Zaqueu e sabe-se lá quem mais foi tocado por essa visita... No final do dia Zaqueu cresceu na fé e na virtude, perdeu dinheiro, mas ganhou a alegria de viver. Quanto tempo dedicou o Filho de Deus à sua família terrena? 30 anos! E quando começou sua vida pública, porém, tinha pressa de pregar.
A vitamina “T” é a responsável pelo crescimento familiar. Quantas mulheres dizem: “O que eu me arrependo é ter perdido a infância e a adolescência dos meus filhos.”. As crianças acabam terceirizadas pela escola, pela babá, pelo cursinho, pelo ballet... Quando crescemos terceirzamos o tempo com os nossos irmãos, os meus pais... Tempo para estar e tempo para pensar na família: “Como vai a minha família?”. Uma das imagens que Jesus fez do juízo particular, está o Evangelho de Mateus é o tempo que se dedica ao outro: “Tive fome e me deste de beber, tive sede e me deste de beber...”. Na medicina há sinais significativos que, se a pessoa não estiver atenta, e só prestar atenção quando uma dor aguda, pode ser tarde demais para tratar a doença. Quanto tempo dedico para pensar em cada pessoa da minha família e que criatividade uso para que a rotina não seja a rotina do nosso amor?
Quanto tempo dedico para olhar para as pessoas? Nos livros de pediatria aprendi que as crianças sempre olham nos olhos, mas os adultos tendem a ser mais vagos. As crianças olham nos olhos para se darem a conhecer e, ao mesmo tempo, estão atentas para captarem os sentimentos e os pensamentos das pessoas. Nada de pudores fora de contexto! Quanto tempo eu dedico para fazer os outros rirem e brincarem? Segundo um estudo científico muito recente, um minuto de risadas equivale a 45 minutos de ginástica. Gastamos dinheiro em academia, mas não gastamos tempo para fazerem as pessoas rirem em casa, de graça. Mas é preciso tempo para pensar, preparar isso, pensar em cada um da família. Comunicação na alegria e no bom humor, gera alegria e otimismo. Cuidado com a ausência de lazer dentro de casa. Se isso falta é sinal amarelo. O sinal vermelho é a fuga de casa, porque ninguém quer viver numa casa que é séria demais.
Um sinal de bom humor e saúde física e mental é não levar tão a sérios os problemas da vida e conseguirmos rir de nós mesmos. O bom humor quebra o gelo em casa! A vida hoje não é fácil, como não era fácil para Marta, Maria e Lázaro, mas eles hospedavam Jesus em casa. E nós? Não somo templos do Espírito anto? Jesus não nos prometeu que ele e Pai habitariam em nós? Por que, então, ficamos tão ocupados e preocupados com a vida que perdemos o único necessário: criar um ambiente onde aas pessoas sentem que estação crescendo humana, espiritual e culturalmente. E este ambiente só se encontra na família. Até o melhor lugar para morrer é em casa. Muito mais digno e acolhedor que entre as máquinas de um CTI.
Um ambiente leve e flexível faz as pessoas crescerem na fé, na confiança mútua, na consciência de serem importantes umas para as outras. Essa era a família de Nazaré, a de Betânia e toda a família em que Jesus entrava, comunicando sua humanidade e sua divindade. Há vários problemas de difícil solução, mas quando há uma certa leveza vemos as soluções mais facilmente. Não tenhamos vergonha de expormos nossas fraquezas em família, de pedir ajuda... Não pode ser um ambiente de quartel ou de empresa, porque a vitamina “T” está em alta!
Não se trata apenas de uma meditação de um verdadeiro exame de consciência. Antes de falar com sua família, converse primeiro com Deus.

4ª Meditação

A Família de Nazaré é igual a nossa em muitos aspectos. Um em especial é importante para nós: a capacidade de harmonizar pessoas diferentes. Não podemos confundir as diferenças com a dificuldade de convivência. Alguns casais dizem: “Éramos muito diferentes, por isso, nos separamos.”. Ora, somos todos diferentes. A diferença não é o motivo. Não podemos cair nessa confusão semântica.
A Igreja, Mãe e Mestra, é testemunha de que o matrimônio só pode ser estabelecido entre pessoas diferentes. E quer algo mais diferente do que um homem e uma mulher?! Dois iguais não constituem um matrimônio. O verdadeiro casamento é entre duas pessoas que não são iguais.
Os pais sabem que se tiverem vinte filhos, um nunca será igual ao outro. Repito: diferença individuais não podem ser sinônimo de dificuldades de relacionamento. Nem dentro, nem fora de casa. O eixo mais vertical e mais profunda da vida familiar é exatamente ensinar a harmonizar em si mesmo e nos outros as diferenças afetivas, psicológicas, de valores, culturais, políticas, os gostos e, eventualmente, as diferenças de religiosidade.
Às vezes se incorre no erro de querer uniformizar tudo e acabamos criando a monotonia. Se a mulher quiser que o marido a ame como ela o ama, vai se decepcionar! Cada um ama de um jeito diferente. A convivência até com amizades diferentes enriquecem a família. São muitas diferenças, não dificuldades. As pessoas não são difíceis, são diferentes.
Aí a palavra-chave é aprender a harmonizar, é saber e fazer as pessoas saberem que essas claras e patentes diferenças tem um sentido bem divino: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi”. Isso Deus diz para cada um de nós. Diz para cada um dos nossos ascendentes e descendentes. Forma todos escolhidos por Deus. A diferença assume, então, um sentido vocacional. O que é vocação? João Paulo II em 1980, disse em Porto Alegre: “O mesmo Deus que ama é o mesmo Deus que chama.”. Deus ama tanto o homem que chamou para ele a mulher, a qual também amava. O sentido misterioso das escolhas de Deus deve ser o nosso ponto de partida. Ele escolheu o esposo, a esposa, os filhos bem diferentes para que sua vida seja uma renovação constante. Deus escolheu esta época em que você vive, o lugar onde mora... Não existe acaso, mas um plano amoroso eterno de Deus!
Entendemos, assim, que as diferenças são manifestações divinas. Hoje à tarde enquanto rezávamos o terço pelo jardim, quantas orquídeas diferentes vimos?! A diferença é sinal da sapiência e providência divinas. Precisamos saber conviver e harmonizar as diferenças dos outros e as nossas próprias diferenças. Ser homem, ser pai, ser profissional, ser católico, ser brasileiro... e cada um tem um tipo de personalidade. Ser mulher, esposa, mãe, dona de casa, profissional... ser jovem, colega, filho, irmão, aluno...
E ainda organizarmos nossas prioridades:
1- Deus
2 – Família
3- Amizades
4- Trabalho
5- Descanso
6- Tecnologia
Não há monotonia quando reconhecemos o sentido divino das diferenças humanas. A mão de Deus nos dá carinho, mas também nos chama para vivermos com pessoas tão diferentes.
Aprender a harmonizar as diferenças não significa querer ser o diferente para sobressair dos outros, para chamar a atenção. Quando quer ser diferente por ser diferente, acaba sendo prepotente. E isso, sim, dificulta a convivência. As diferenças existem para que TODOS ganhem com elas. Cada pessoa precisa compreender que é parte de um todo: de uma família e de uma sociedade.
Uma recomendação prática para que experimentem a alegria de viver a harmonização: use uma das suas diferenças com as outras pessoas por uma hora por semana para contribuir com toda a sua família. Ex. se eu falo muito, falarei só coisas boas para edificar o outro e não uma verborragia sem sentido.
Uma diferença não pode ser rota de colisão com as outras pessoas, mas faixas de uma estrada em que cada um vai na sua, mas todos vão na mesma direção.
As diferenças contribuem para a alegria porque ajudam na atitude ética fundamental em todas as camadas da vida: o respeito. Não é simples tolerância. Porque pode-se ser tolerante, mas não se respeitar o outro. Tolerância é pouco, respeito é tudo. A palavra respeito vem do latim e significa olhar o outro por detrás das aparências, é dar valor ao outro. É um olhar atencioso e compreensivo. Se não, será criado um ambiente triste. Alegria não é compatível com olhar crítico, com murmurações, fofocas... Ver o valioso no outro diferente e ver que ela me enriquece.
A alegria é consequência da caridade. O amor de Deus demonstrou-se não só na criação, mas também na redenção, uma obra divina que começa com uma palavra que parece tão fácil de pronunciar e tão difícil de viver: “Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazer.”. Isso hoje se perdura, por exemplo, no sacramento da reconciliação, mostrando que a graça está no perdão dado gratuitamente. Cristo harmonizou o céu e a terra, criatura e criador, os filhos com o Pai.
Pensemos em outra família que aparece em uma parábola: o pais com dois filhos, sendo que o mais novo pede a herança antes mesmo o pai morrer. O pai respeita essa diferença. E quando o filho, depois, de gastar tudo é recebido com festa. Mas há também o filho fiel e cumpridor dos deveres, que se transforma totalmente quando vê a festa. O filho ficou com o coração tão duro, sem perdão ou misericórdia! E o pai, pacientemente, o exorta.
É impossível viver a alegria num ambiente onde não exista perdão ou onde o perdão não é aceito. Isso nos torna cada vez mais semelhantes s Deus. Perdoar é uma obra mais divina do que a criação do mundo! Assim que acontecer o atrito, que sejamos ligeiros em pedir, aceitar e dar o perdão. Perdoar não é só esquecer, mas reconciliar-se. E as diferenças adquirem um novo significado quando perdoamos, pois começamos a desenvolver uma série de virtudes importantíssimas na vida familiar. Uma delas é a paciência. Paciência porque, às vezes, a pessoa não vai conseguir mudar nunca. Outra delas é a fidelidade, que neste caso tem tudo a ver com a humildade. Não diminuímos o amor pelo outro. Aprendemos a ser generosos, caritativos, misericordiosos, benignos... Crescemos especialmente com os que são mais diferentes de nós. Que as diferenças sejam uma escola de virtudes para nós. Nada disso é fácil porque são raízes muito profundas da alegria.
A nossa sociedade acha que é democrática, intolerante e livre é cada vez mais o contrário disso tudo. Por quê? Porque o respeito às diferenças se aprende em casa e as famílias não capazes de harmonizar as diferenças hoje em dia.
Um Deus que é homem, sem deixar de ser Deus, uma mulher que é mãe e esposa, mas permaneceu virgem e foi concebida sem pecado original, e um homem, carpinteiro, pai adotivo, que se deixa conduzir por Deus por meio dos seus sonhos. Pessoas tão diferentes! A Sagrada Família é nosso modelo não só de oração e de virtudes, mas porque nos ensina a harmonizar as diferenças.

A alegria na família é um bem acessível. Não é fácil, mas é possível. Por isso mesmo existe o matrimônio como fonte de graças para nos ajudar. A alegria é um cultivo dos homens. Só teremos a felicidade plena como um prêmio no Céu. Um homem fez e cuidou de uma vinha e a deu a uns vinhateiros para cuidar e de tempos em tempos passa para ver os frutos. Assim é a nossa vida. E qual este fruto? O primeiro fruto do Espírito Santo? A alegria! A sociedade cria muitas “Disneys”, mas não sabe fazer as famílias alegres de verdade. Mas uma família alegre torna-se agregador e atraente a outras famílias.