domingo, 17 de janeiro de 2016

BODAS DE CANÁ

Mais uma vez o Domingo chega até nós para desposar-nos com o Senhor de todos os tempos. Nesse domingo, o 2o do Tempo Comum,  como toda Eucaristia dominical, o Cristo nos desposa com a força da sua Palavra manifestando para toda a sua igreja, isto é, para todos nós, o seu amor esponsal, amor que deve ser expressado entre os esposos. Em outras palavras: amor como doação de vida. É esse amor esponsal que encontramos na primeira leitura do profeta Isaías. Depois de ter sido explorada por diversos povos estrangeiros a quem Israel se "prostituiu" com a sua idolatria, foi devastada e abandonada por causa das suas próprias iniquidades. Abandonando o seu Senhor, Israel foi "abandonada" por "seus senhores". Fora de Deus não há alegria. 
No entanto, YWHW, fiel à sua aliança, não abandona o seu povo "porque eterno é o seu amor e somente Ele é quem fez e faz grandes maravilhas" (cf. Sl 135,4). O Senhor no oráculo isaiano da liturgia de hoje expressa seu amor nupcial por Israel, vinha eleita e desejada por Ele desde toda eternidade. Deus mesmo vestirá seu povo qual noiva com "vestes de justiça e de salvação" (Is 61,10). Do mesmo modo como a noiva é alegria do seu noivo, Israel será alegria do seu Deus, (Is 62,5) seu verdadeiro noivo capaz de desposá-la incutindo no coração de todos os israelitas aquela alegria que é fruto do Espírito Santo (Gl 5). Afinal, fora de Deus não há alegria, há apenas ilusões. É dentro desse contexto que se insere o nosso texto evangélico de João. Iludidos com as miragens produzidas por nós mesmos, não conseguimos dar conta de situações que são de nossas responsabilidades tentados a fazer tudo independentes de Deus como Adão e Eva. 
Na perícope evangélica de hoje, o santo apóstolo nos apresenta Jesus, sua mãe e seus discípulos recém "introduzidos" na vida do Messias (Jo 1,37ss) participando de um grande festim, ou seja, um casamento, cenário onde a alegria deve ser o "oxigênio" de todos os que ali estão. Cientes também que um casamento no judaísmo ortodoxo tem a duração de uma semana e a organização deste evento é de suma responsabilidade do noivo que não poderá deixar faltar o elemento importante desse cenário evangélico: o vinho, que é muito consumido pelos convivas. Tão caro para a teologia bíblica, o vinho, "que alegra o coração do homem" (Sl 104,115) e elemento curativo para as feridas do pobre assaltado e resgatado pelo samaritano (Lc 10,34), foi exatamente o que faltou naquele casamento. Assim, a alegria cede espaço à tristeza e à preocupação. O noivo certamente deve ter ficado muito embaraçado com essa situação que lhe causaria grande constrangimento diante da comunidade judaica. Todavia, o que importa é que o Emanuel está presente. Deus está ali. E a presença da Virgem, chamada e recordada pelo seu Filho como "mulher", como verdadeira "mãe de todos os viventes" e para nós prefiguração da Igreja, intercede pelos pobres noivos, cujos corações se angustiavam. Alguns presentes assistem os primeiros sinais messiânicos acontecerem, os primeiros sinais da sua glória. Gloria que sera melhor revelada na cruz com o derramamento do melhor vinho. É importante estar diante dos nossos olhos que inicialmente o evangelista deixa claro que "no terceiro dia" após o encontro com Felipe e Natanael encerra-se em Caná a primeira semana de atividade messiânica. É em Caná, a prefiguração do locus eucarístico, que Cristo se revela como o nosso verdadeiro "nupsion" (transliterado = "noivo"); não apenas de Israel, mas do novo povo que é a Igreja. Mistericamente, Cristo nos toma e nos desposa em sua cruz como o verdadeiro lugar nupcial. Ali nos adorna com suas jóias e com vestes de justiça e salvação (Is 61,10s). Neste leito nupcial que é a cruz, Cristo nos oferece o melhor vinho que é o seu sangue. Com esse vinho melhor Ele cura as feridas da nossa alma e concede alegria ao nosso coração que triste estava. Hoje nossas igrejas se tornam como aquele lugar. 
Caná, hoje é cada paróquia onde Deus realiza seus sinais de glória através dos sacramentos, sobretudo da Eucaristia. Caná devem ser os nossos corações onde Deus transforma o luto em alegria. Em Caná, Jesus não se apresenta como um convidado qualquer, mas como o verdadeiro noivo de nossas vidas fazendo transbordar em nós dons e carismas através do seu Espírito na luta contra todo o individualismo e indiferença (2a leitura). Olhemos para a Virgem que se incomdou com a tristeza que tomaria conta de todo aquele lugar. Tudo isso porque fora de Deus não há alegria. Deixemos que a nossa vida seja como o cenário evangélico deste domingo, um lugar que tendo a presença de Cristo tudo que é velho se faz novo, se faz "eucaristia", onde tudo é ação de graças.
Peça sempre a Jesus esse vinho novo para sua vida, seu matrimônio e sua família!