sábado, 24 de maio de 2014

4º Simpósio e 6ª Peregrinação Nacional da Família (2)

1ª Mesa Redonda (parte da manhã)



Padre Adehmar, do Regional Leste I, o casal coordenador Roque e Verônica fez a primeira reflexão sobre o tema central do simpósio:

“Família: Caminhar com a Luz de Cristo e a Sabedoria do Evangelho”
Não podemos viver somente com aquilo que o mundo nos oferece, é preciso buscar algo mais, que alimente nossa espiritualidade. Mas o que é a luz de Cristo e como aplicar esta realidade e na minha família? A luz é a energia e a influência divina que nos chega por Cristo que dá luz e vida a todas as coisas. A luz de Cristo procede da presença de Deus, é a luz que dá vida a todas as coisas. Esse poder é uma influência benéfica em todas as criaturas e leva todas as pessoas a descobrirem o Evangelho. Nas Escrituras a luz de Cristo nos leva a entrarmos na presença de Deus. Jesus se declara a luz do Mundo. Onde, hoje, estamos precisando desta luz?
Eu mesmo sou luz em todos os ambientes em que vivo? Escolhemos e acolhemos a luz de Cristo. Deixemos esta luz entrar em nossos corações. Em Mt 5,13, Jesus nos convida a sermos sal da terra e luz do mundo. A luz é crucial em nossas vidas e não nos sentimos muito bem na escuridão. São muitas as histórias de medo e insegurança: ficamos receosos no escuro, andamos com dificuldade ou até nos paralisamos. Mas a partir do momento em que acendemos a luz, o temor desaparece e nos movimentamos com destreza. A luz é este símbolo poderoso do que é Deus (cf. I Jo 1, 5). Jesus é a vitória da luz sobre as trevas, da vida sobre a morte. As trevas ao longo da Sagrada escritura representam a ruptura do homem com a presença de Deus pelo pecado. Só a luz tranquiliza e santifica o ser humano. Precisamos da Luz do Evangelho, da proposta de Jesus. Ao reconhecer isso, também nós nos tornamos Luz. Assim como a lua reflete a luz do sol, também nós devemos refletir a luz de Cristo (cf. Mt 5,15). A luz que temos dentro de nós não é para ser escondida timidamente, mas para ser oferecida aos outros para que também eles possam ser inundados por ela. Ser luz é ser testemunho de que uma vida com Cristo vale a pena e é mais feliz. A igreja tem a missão de iluminar a todos os povos com essa luz, que deve resplandecer sobre seu rosto.
Para melhor entendermos a sabedoria do Evangelho, comecemos por Jo 1:
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Ele estava junto de deus no princípio. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. Este veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele. [O Verbo] era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus. João dá testemunho dele, e exclama: Eis aquele de quem eu disse: O que vem depois de mim é maior do que eu, porque existia antes de mim. Pois a lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.”
Essa é a teologia joanina: o Deus absoluto junto ao qual encontro sua Palavra, o Filho. A luz resplandece nas trevas e as trevas, mesmo que sejam grande, são sempre vencidas pela luz. Se a vida é a luz dos homens, então, as trevas são a morte. Compreendemos, assim, que a vida sempre prevalecerá sobre a morte. Tudo provém de Deus. Ef 4,5: Deus é a substância única de todas as coisa, porque tudo o que existe, existe em Deus.”. A vida é a manifestação da divindade de Deus e do seu amor. Neste simpósio viemos não somente para rezar, mas para refletirmos sobre nossa caminhada e como a luz de Cristo pode iluminar nossa caminhada. Diante dos desafios da vida em família é uma ilusão viver sem Deus.
Não adianta a humanidade desenvolver-se tecnologicamente, mas precisa se fortalecer no amor. Esse evento possibilita a visibilidade de todos nós que acreditamos que a família é dom de Deus e base da humanidade. A melhor forma de denunciar é anunciar. Nossa função e missão como Pastoral Familiar é de enaltecer as famílias, estejam como estiverem, sem preconceitos.
A primeira e mais bonita família é a Trindade Santa, que se reúne para criar o homem e a mulher e proclama que isto era “muito bom”. A família perpetua a imagem e semelhança de Deus. Pela família o verbo se tornou carne. Por isso, precisamos de uma Pastoral familiar inteligente e corajosa. O amor entre um homem e uma mulher é o que mais se aproxima do amor divino. É dele que nascemos. Numa das pinturas do Santuário, logo após o nicho de Nossa Senhora, podemos aprender que devemos ficar atentos à presença do Cristo Luz e nos deixarmos envolver por sua misericórdia.


 
Em seguida, foi a vez da escritora Amélia Prado que deu seu testemunho pessoal e também da sua experiência no Movimento Familiar Cristão na década de 60:
 
Há um senso universal de que todas as pessoas querem ser felizes. Não podemos atuar nas família se não levarmos em conta cada pessoa que a constitui. Até as famílias cristãs são postas à prova pelo mundo de forma cruel, pela perda dos valores. Não podemos “jogar sal sobre carne podre” – a família precisa de uma profunda renovação. A resposta para tal missão está na Palavra de Deus, especialmente pelos Evangelhos.
É interessante notar que Jesus nunca se dirigiu especificamente às famílias, mas, sim, às pessoas, ou seja, era contato bem personalizado. Lembremos os exemplos dos encontros com Zaqueu, no choro sobre Jerusalém, com a Samaritana, com o casal das Bodas de Caná, a pesca milagrosa com Pedro, a hemorroíssa... em todos estes casos Jesus estava inteiramente atento à pessoa do outro. Jesus personaliza a compaixão. Isso reflete uma compaixão quase feminina da personalidade de Cristo. Se essa compaixão é impossível restaurar a família, e temos que começar pelas nossas próprias famílias! Isso é amor, salvação e cura de doenças de relações. Se esse passo não há pastoral ou psicologia que dê conta.
Reforçar bem os papéis de cada um. Por exemplo, o da mulher de servir no anonimato, assim como faz o Espírito Santo:
“Espírito de Deus, enviai dos céus um raio de luz!
Vinde, Pai dos pobres, dai aos corações vossos sete dons.
Consolo que acalma, hóspede da alma, doce alívio, vinde!
No labor descanso, na aflição remanso, no calor aragem.
Sem a luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há nele.
Ao sujo lavai, ao seco regai, curai o doente.
Dobrai o que é duro, guiai no escuro, o frio aquecei.
Dai à vossa Igreja, que espera e deseja,
vossos sete dons
Dai em prêmio ao forte uma santa morte, alegria eterna!
Enchei, luz bendita, chama que crepita, o íntimo de nós!”
(Sequência da Missa do Espírito Santo)
A família não pode delegar sua função educativa a terceiros... A nossa maior peregrinação começa dentro e casa, no sairmos de nós mesmos, e irmos ao encontro do outro. Cito o seguinte poema:

Casamento

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes. Eu não.
A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas" e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir.
Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva.
(Texto extraído do livro "Adélia Prado - Poesia Reunida", Ed. Siciliano - São Paulo, 1991, pág. 252)

Quando não há presença, não há atenção real. A mulher que não se abrir para o seu papel feminino, sua família não terá bom futuro. O marido pode e deve ajudar, mas não podem se inverter completamente. O marido “bonzinho” não me afirma como mulher. Precisamos de maridos bons! Não que sejam machões, mas que tenham o seu “lado feminino” bem resolvido. É claro que haverá conflitos e eles são necessários para que os pontos negativos venham à tona e que tudo se renove. Os afetos e os amores precisam ser reais. Amar é o principal: a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Parece simples, mas é a morte do ego.



A terceira exposição sobre a espiritualidade na família ficou por conta do bispo de Tocantins, Dom Antonio:

Pela leitura do milagre das Bodas de Caná, pensemos na palavra espiritualidade. O homem bíblico não entendia cientificamente os mecanismos da respiração, mas sabia que se não respirarmos, morreremos. Em grego e em aramaico, o espírito é o ar, é o oxigênio de Deus que nos dá a vida. A vida que Deus vive também pode viver em nós. Isto é verdadeiramente espiritualidade. O ar de Deus deveria entrar dentro da minha vida e impregnar todas as minhas ações e inspirações.
 
Jo 1, 43: “No dia seguinte...” Jo 1, 35 “ No dia seguinte...” 1, 29: “No dia seguinte..” E no texto de Jo 2: No terceiro dia, houve uma festa de casamento em Caná da Galiléia.”
Quando o homem e a mulher foram criados isso aconteceu no sexto dia. Quando Jesus começa a aturar ele cria um novo homem.
 
“E lá se encontrava a mãe de Jesus. Também Jesus foi convidado para a festa junto com seus discípulos.”
O casamento se tornou retrato humano do amor de Deus, uma ressonância do amor de Deus ao seu povo, de Cristo por sua Igreja. Foram festejar não só o amor humano, mas a celebração do amor de Deus por seu povo.
 
“Faltando vinho, a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho.”
O vinho tinha uma linguagem muito forte na cultura daquela época. Se faltasse vinho, significaria que faltaria amor...
“Respondeu-lhe Jesus: Mulher, que te importa isso a mim e a ti? Minha hora ainda não chegou” Jesus a chama de mulher porque lembra da “mulher” do Gênesis. E afirma que este problema não toca a eles porque, de fato, a eles não faltava o amor...
 
“Maria disse ao servente: “Fazei tudo o que ele vos disser.”
É preciso fazer tudo o que Jesus diz se quisermos que nossa vida, nossa família seja a festa do amor.
 
“Havia ali seis talhas de pedra, contendo cada uma dois ou três barris, usadas para a purificação dos judeus. Jesus lhes disse enchei as talhas de água. Eles as encheram até a borda.” As talhas estavam vazias, porque faltava realmente tudo. E os servos fizeram exatamente como Jesus havia lhes falado. Eles ouviram e agiram com toda disposição.
 
“Disse-lhes então: levai-a ao mestre de cerimônia. E eles levaram. O mestre de cerimônia provou a água transformada em vinho e não sabia de onde viera, embora os serventes soubessem. Ele chamou o noivo e disse: É costume servir primeiro o vinho bom e depois que os convidados já estão embriagados servir o vinho menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora.”
Reparem que o mestre de cerimônia que era o responsável pela festa nem havia percebido que o vinho faltara... Não podemos deixar que nos passem despercebidos em nossa vida familiar as faltas de amor.
 
“Deste modo iniciou Jesus em Caná da Galiléia os seus sinais. Manifestou a sua glória e seus discípulos começaram a crer nele.”
É nas talhas da purificação, ou seja, na conversão que as verdadeiras transformações acontecem. É lá dentro, lá no fundo que precisa haver mudança. Jesus se manifestou neste prodígio que é mais do que simplesmente material (água transformada em vinho). Pensemos em uma placa que me envia a um destino: como o sinal que me envia para uma realidade ainda mais grandiosa. Jesus manifestou a sua glória – não no sentido de grandeza triunfalística – mas, sim, o seu amor. Ele manifestou o quanto amava o povo. Amar sempre em primeiro lugar, sem sermões ou punições. Primeiro, amar! E então os discípulos creram... se nos amarmos e se vivermos o amor, principalmente onde parece impossível, é que os outros crerão em Deus.
 
Este milagre acontece numa família que já começa vivendo a dor, porque o amor dói... E ninguém se converte se não passa por essa dor do amor. Quando cuidamos mais da nossa espiritualidade amamos mais, nos queixamos menos... porque é o Espírito que nos move! Vento parado não existe e nem se pode frear seu movimento. “Fazei tudo o que eles vos disser” é fundamental para a espiritualidade matrimonial e familiar. Como seria bom ouvir o que Deus tem a nos dizer através da leitura orante da Palavra de Deus vivida em família. Assim, não faltará vinho no casamento.

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