domingo, 19 de junho de 2016

RETIRO DA PASTORAL FAMILIAR 2016 (PARTE 3)



2ª PALESTRA: ESTUDO DE CASOS

CASO 1

Tícia está grávida de 28 semanas mas sofreu uma ruptura da bolsa e infecção. Apesar do tratamento, seu estado piorou, com risco de septicemia e os médicos recomendaram uma indução prematura do parto. Explicaram que havia um risco para o bebe que por imaturidade do desenvolvimento dos pulmões. Durante o procedimento, porém, os médicos alertaram que poderia haver momentos em que os médicos poderiam ter que decidir entre a vida dela ou do bebe. Teriam 24h para decidir se aceitariam tal procedimento. O casal pediu aconselhamento ao sacerdote, que lhes explicou que o procedimento era justo, pois visava salvar duas vidas. Os pais concordaram com os médicos e tudo correu bem.


CASO 2
Atenágoras e Escolástica  são um casal jovem. Conheceram-se e de pois de um namoro não muito longo se casaram. Tem dois filhos pequenos em idade de educação infantil. Aproveitando a flexibilidade no seu horário de trabalho em vendas, Escolástica decidiu reduzir seu horário de trabalho para se dedicar mais a família, o que Atenágoras achou ótimo. Pouco tempo depois, ele recebeu uma promoção na multinacional em que trabalhava. Pela segurança financeira, Escolástica pensou que poderiam ter mais filhos. Sabia que a empresa exigiria mais dele, como já havia visto acontecer com os maridos de amigas.
O marido começou a chegar cada vez mais tarde em casa, viajar muito... quando estava em casa só viam televisão ou discutiam sobre questões econômicas, brigando e acusando se mutuamente.
Depois de uma briga, Escolástica foi desabafar com sua amiga Eufrásia, que é divorciada. Esta lhe aconselhou que, como tem gente que não dá sorte nas escolhas e que não há sentido em continuar se o amor acabou. Escolástica começou a cogitar a possibilidade de um divórcio.
Foi se confessar com o sacerdote a quem costumava recorrer e lhe expôs toda situação.

PERGUNTAS
CASO 1
Em que consiste a indução prematura do parto?
É um conjunto de procedimentos que visa induzir as contrações uterinas para antecipar o parto quando há algum risco de vida para a mãe e/ ou o bebê, já em estágio mais avançado de gestação. Seria o indicado para o caso de Tícia de ruptura da bolsa sem trabalho de parto natural.
Há chance de sobrevivência da criança, ainda que seja em unidades de tratamento intensivo com os devidos cuidados? Nos países com bom sistema de saúde a partir das 22/ 23 semanas já há viabilidade de sobrevivência.
Portanto, induzir o parto antes da viabilidade do feto é aborto, dentro do estágio atual de progresso da neonatologia. A taxa de sobrevivência nesta etapa é de 17% apenas. A partir de 28 semanas, essa taxa já sobre para 80%. Após a 30ª semana, já se chega a 95%. O normal seria uma gestação de 42 semanas. Esse é o panorama médico. Aqui no Brasil, infelizmente há poucas UTIs neonatais. No Rio, só há duas UTIs verdadeiramente especializadas em estrutura e pessoal: na Perinatal de Laranjeiras e da Barra.
Agora analisamos a ética humana e cristã. Quando a situação da criança e da mãe alcança uma situação crítica, surge a pergunta: deve-se ou não induzir o parto? A indução prematura de um feto viável pode ser a única chance de salvar-lhe a vida. Em casos, por exemplo de incompatibilidade de RH. Não há risco para a mãe, mas para a criança, sim. Outros casos lícitos são em casos de perigo de vida para a mãe, como infecção intrauterina ou pré-eclampsia. Não se procura a morte da criança, mas procura se salvar a mãe em risco eminente de morte.
Qualquer ato que na indução prematura do parto cause intencionalmente a morte da criança não nascida é um ato mau e desordenado, pois é um aborto.
Na mentalidade de pessoas que não tem formação ética, existe o aborto terapêutico. Mata se primeiro a criança e depois vão tratar a saúde da mãe. O temor terapêutico aí é totalmente mau empregado, porque não é o aborto que cura a mãe. Portanto, não pode ser moralmente aceito.
E quando os dois correm risco eminente de morte e a criança ainda não é viável. É o caso de uma gravidez ectópica por exemplo. Nesses casos a chance é de apenas 1% de chegar a um tempo de viabilidade sem que se trompa se estoure. É um caso complicadíssimo. Não havendo nenhuma chance de salvar o filho, a opção do casal e do médico é a de salvar a mãe. Já que a morte do bebe é inevitável, salva se, pelo menos, a mãe. Ninguém de seja a morte da criança, nem se provoca voluntariamente a sua morte. A atitude mais ética neste caso é tentar salvar a vida dos dois, mas quando não há mais salvação para a criança é um mal menor deixar a criança morrer para conseguir salvar a mãe.
Se há um acidente de trânsito com uma grávida de 20 semanas e a mãe está à beira da morte. O que fazer se também não há viabilidade? Deixar o bebê nascer, ainda que tenha todas as chances de morrer e tentar salvar a mãe. Ou seja, salvar a vida salvável.
O que devemos estar muito atentos? Há um projeto de lei para a indução ao parto. Ora, isso não é algo jurídico, mas médicos! Nada mais é do que tentativas de se legalizar o aborto depois do diagnóstico de doenças. É uma manipulação da linguagem para aborto eugênico para casos de síndrome de Down, microcefalia, defeitos no tubo neural... Jamais podemos aceitar isso! E precisamos acompanhar essas questões no cenário político.  
Em 1971, o secretário de estado americano produziu o chamado relatório Kissinger. Um programa de controle demográfico da população mundial feito por ONGs, pela ONU e por Fundações com McArthur, Rockfeller e Ford recomendando aborto como única saída Lara o controle do crescimento da população mundial. Por isso, se chama o embrião de monte de células, que só se é ser humano depois de nascido, e agora, só depois dos quatro anos porque antes disso não se tem consciência de si. Vemos como a mentira impera e se confundem a consciência das pessoas.

CASO 2

Que princípios podem ter o sacerdote e os leigos para ajudar quem passa por dificuldades matrimoniais?
1- Boa preparação para a vida matrimonial
O ambiente familiar em que as pessoas crescem deveria ser a primeira e principal escola de preparação para a vida matrimonial, e não a que é oferecida nas Igrejas. Aprendemos a viver a vocação como os pais vivem. Hoje mais do que nunca com um ambiente social tão desfavorável é preciso cuidarmos muito bem do ambiente familiar. A evangelização da cultura é urgente e esta parte das boas famílias, disseminando bons costumes. Um EPVM de um dia não adianta nada! Estamos sendo absurdamente omissos. Como resolver crises atuais com o que deveria ter sido feito e resolvido antes mesmo do sacramento? A prevenção pela educação adequada é a melhor maneira de se evitar as crises conjugais.

2-  E, no dia a dia, cultivar detalhes de carinho ainda que exijam sacrifícios.
Pai e mãe juntos agindo na educação dos filhos. Já é errado terceirizar a educação dos filhos para a escola, que dirá o pai terceirizar a responsabilidade para a mãe exclusivamente.
Entre o casal, é preciso adiantar-se no diálogo aberto e sereno, expressando seus sentimentos, dúvidas, sonhos e necessidades.
Não se surpreender com as crises também é fundamental. São diferentes crises que podem surgir em diferentes etapas da vida, desde o início do casamento até quando os filhos saem de casa para seguirem suas vidas.
Não permitir que coisas pequenas ganhem grandes proporções. Normalmente é um problema de egoísmo e não do problema em si.
Saber recriar o amor com coisas simples e normais.
Crise vem de critério. O que é melhor: a promoção profissional ou matrimonial?  No Encontro Mundial das famílias de 2012 responder uma pergunta de um casal que quase chegou ao divórcio, o papa Bento XVI relembrou que o escuro e o luminoso se completam e que as crises enriquecem o relacionamento e nos motivam a amarmos novamente e amadurecermos enquanto pessoa e casal.

Quando se tem que recorrer a separação?
Prescreve o CCE (Código de Direto Canônico) 1153, 1, que se um dos cônjuges põe em grave perigo espiritual ou corporal o outro cônjuge ou a prole, ou faze exageradamente dura a vida em comum, o sacerdote pode, dependendo da urgência e gravidade do caso, ele próprio ou o bispo local. Quando não há mais nenhuma tentativa possível de reconciliação, a separação é indicada e cabe à Igreja dar uma atenção e consolação toda especial principalmente à parte mais fraca, reafirmando o valor do amor e do perdão. 


6ª MEDITAÇÃO: OS ÓCULOS E O CORAÇÃO DE DEUS

Vejamos esta história:
Um agiota morreu. Chegou na porta do céu, não viu ninguém e foi entrando. Até que chegou a um lugar chamado escritório de Deus e viu um par de óculos por sobre a mesa. Ao coloca lós, ele olhou para a terra e começou a ver só coisas boas. Viu seu ex-sócio trabalhando e ganhando muito, muito dinheiro. Com inveja e raiva, pegou o banquinho onde Deus apoiava seus pés, jogou com toda força na cabeça do ex-sócio, que morreu na hora. Nisto, chega Deus e todos os anjos e santos, voltando de um piquenique. Ele entra no escritório e recebe com alegria o agiota. Ao perceber uma certa bagunça, Deus pergunta: “Onde está meu banquinho?”. O agiota, muito constrangido, explica tudo o que aconteceu. E Deus diz: “Não basta só olhar com os meus óculos... É preciso sentir com o meu coração!”.

Como diz o salmista precisamos dilatar o nosso coração para (re)aprendermos a amar. Precisamos “fazer um transplante” de coração, para termos um coração mais parecido com Deus.
Vamos refletir sobre a misericórdia de Deus. Deus nos olha com olhar de pai, misericordioso, mas também justo. Todos nós fomos criados para a Vida Eterna, onde só haverá amor. A misericórdia é a máxima justiça de Deus. Justiça é dar ao outro aquilo que lhe é devido. Deus nos criou para Ele e quer que voltemos para Ele.
O papa Francisco nos tem falado muito sobre a misericórdia e o diálogo. Lembrou que como Deus nunca se cansa de perdoar, nós também não podemos nos cansar de pedir perdão. Uma prova concreta é o sacramento da confissão. Não podemos nos cansar de pedir o perdão e nem de perdoar.
São Vicente de Paulo se dedicou muito à formação dos sacerdotes e à caridade com os pobres. No final da vida, seus irmãos de comunidade o ajudavam com perguntas para recitar o Credo. Depois passaram a ajuda ló a fazer um ato de caridade. Ao perguntaram se perdoava as pessoas que o tinham ofendido a longo da vida, ele respondeu um sonoro não. Os confrades se espantaram e repetiram a pergunta: “O senhor tem certeza que não vai querer perdoar quem o ofendeu ao longo da vida?” Ele insistiu:  “Não!” E acrescentou que não precisava perdoar ninguém que o ofendeu porque ele nunca havia se sentido ofendido. Só quem já aprendeu a amar, não precisa perdoar.
Precisamos criar em nós um coração semelhante ao coração de Deus, capaz de amar até nossos inimigos. Dilatados o nosso coração para esse amor Divino pela confissão frequentem Eucaristia, adoração, leitura bíblica...“Nisto conhecerão que sois meus discípulos se vos amardes uns aos outros.”, disse Jesus.
O papa Francisco tem nos dado exemplos concretos disso. No livro ‘O Nome de Deus é Misericórdia’ vemos tantos exemplos concretos e comoventes. Como o caso da mulher que se prostituía para ajudar a alimentar os filhos. A paróquia do padre Bergólio lhe dava mensalmente uma cesta básica. Um dia, fez questão de agradecer pessoalmente ao padre, não pela comida, mas porque ali era o único lugar em que ela era chamada de ‘senhora’.

A justiça é o mínimo da misericórdia e a misericórdia é o máximo da justiça. Temos o coração transplantado e precisamos cuidar muito bem dele para que o amor não morra em nós.

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