SÁBADO (13. 06. 2015)
2ª Meditação
CONSTRUIR A ALEGRIA
NA FAMÍLIA
Os Evangelhos nos contam vários momentos
em que Jesus esteve presente junto às famílias. Um exemplo disso, está em Joa,
cap. 2 quando Jesus foi com sua mãe e seus amigos nas Bodas de Caná. É um
episódio bonito e tocante. Era uma festa. Todos estavam alegres. Só Maria
percebeu que o vinho estava acabando. Ela prestava atenção nas pessoas, porque,
por causa de cada uma delas, seu Filho tinha vindo ao mundo.
Como boa dona de casa, foi a
Jesus e lhe disse: “Eles não tem mais vinho.”. É como se dissesse: “A festa vai
acabar.”. Ora, toda festa acaba, mais cedo ou mas tarde... mas Maria vem pedir
que aquela festa continue, que a alegria compartilhada entre aquelas pessoas
não termine.
Temos, então, as únicas palavras
registradas na Bíblia que Mari não dirige a Deus, mas sim aos homens: “Fazei
tudo o que ele vos disser.”. Jesus cede ao pedido da sua mãe e pede aos homens
que encham seis talhas com água, cada qual com 100 litros. E elas se encheram
de vinho, o melhor vinho. A festa continuou e a alegria não esfriou.
A família que sabe guardar o melhor
de si para o amanhã é a família que constrói as relações da forma certa. O
melhor da família não pode estar no ontem, nem no hoje, mas no depois.
À vezes, parece que o tempo do
namoro era muito melhor e mais feliz que o casamento. Que os primeiros anos do
casamento foram melhores que o atuais. As relações em vez de melhorarem com o
tempo, acabam se deteriorando. Isto é estranho. Casam-se para terem um melhor
vinho e acabam servindo o pior. Não! Jesus nos ensina que o melhor sempre está
por vir! Melhor relação conjugal, melhor relação materno-paterna, fraternal,
filial, entre os parentes... Isso faz da família “usina geradora de alegria”.
As pessoas casadas deveriam
pensar assim: “Ainda não experimentamos o melhor do nosso casamento!”. Do
contrário, a alegria vai esfriando e a festa do amor vai acabando.
Aparentemente, pode-se estar bem, mas pode estar faltando essa alegria que só o
vinho novo traz. E o vinho não é um produto, mas sim as relações humanas. E não
devem haver relações que tragam mais alegria que as familiares.
Cada homem e cada mulher é uma
fotografia de Deus, e Deus é família. Somos imagem de Deus não apenas na nossa
individualidade, mas principalmente nas nossas relações, de modo especial, nas
intrafamiliares.
Na
família há distinção de pessoas, assim como na Santíssima Trindade, mas há
unidade entre cada uma das pessoas. Construir essas relações é condição
fundamental para se viver em família e em sociedade. As outras alegrias jamais
podem ser maiores que as alegrias familiares. Do contrário, estaremos “aguando”
a vida!
Desde o
início, os cristãos eram assim julgados pelo pagãos: “Vejam como se amam.”.
Está lá nos Atos dos Apóstolos. Eram reconhecidos porque tinham tudo em comum,
eram alegres na dor, tinham um só coração e uma só alma.
Construir vínculos é criar laços,
por isso se falam em “laços afetivos”. Vejamos este bonito poema de Mário
Quintana:
O LAÇO E O ABRAÇO
Meu Deus! Como é
engraçado!
Eu nunca tinha
reparado como é curioso um laço... uma fita dando voltas.
Enrosca-se, mas não
se embola, vira, revira, circula e pronto: está dado o laço.
É assim que é o
abraço: coração com coração, tudo isso cercado de braço.
É assim que é o laço:
um abraço no presente, no cabelo,
no vestido, em
qualquer coisa onde o faço.
E quando puxo uma ponta,
o que é que acontece? Vai escorregando...
devagarzinho,
desmancha, desfaz o abraço.
Solta o presente, o
cabelo, fica solto no vestido.
E, na fita, que
curioso, não faltou nem um pedaço.
Ah! Então, é assim o
amor, a amizade.
Tudo que é
sentimento. Como um pedaço de fita.
Enrosca, segura um
pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora,
deixando livre as
duas bandas do laço.
Por isso é que se
diz: laço afetivo, laço de amizade.
E quando alguém
briga, então se diz: romperam-se os laços.
E saem as duas
partes, igual meus pedaços de fita, sem perder nenhum pedaço.
Então o amor e a
amizade são isso...
Não prendem, não
escravizam, não apertam, não sufocam.
Porque quando vira
nó, já deixou de ser um laço!
Uma
das coisas que devemos prestar mais atenção na vida familiar é ver se estamos
criando “nós” e não “laços”. Aquela alegria das Bodas de Caná é fazer laços
cada vez melhores, os de hoje melhores que os de ontem, os do casamento, melhores
que os do namoro. Quando a família só cria “nós”, vamos procurar “laços” fora
de casa, no mundo virtual...
Toda
vida amorosa começa com laços. Nada foi por acaso. E nosso matrimônio, os laços
que nos unem não são frutos dos nossos sentimentos meramente, mas do abraço amoroso
de Deus, que tem um interesse particular e especial na nossa união! Muito mais
forte do que a sintonia emocional é o laço divino que no une!
E
quando a morte “desfaz o laço”, a fita não se rompe. Quando um dos dois fica
viúvo, a relação não se destrói, mas apenas fica diferente. Começa-se um novo
nível de relacionamento.
Um
outro aspecto que vale ressaltar: em geral, nas relações humanas, há uma
tendência de sermos bons vendedores de nós mesmos, como se quiséssemos vender
um produto de qualidade. Depois que ficou na vitrine e foi comprado, o produto
perde a qualidade. Como aquela camisa chinesa, bonita e barata, que, quando
colocada na máquina de lavar pela primeira vez, logo desbota e encolhe. Não
devemos ser bons vendedores de nós mesmos, mas devemos simplesmente SER NÓS
MESMOS. No céu não existe “recall”, nem defesa do consumidor.
Outro
ponto importante é uma regra de ouro: não se prenda à aparência atual. Projete
a outra pessoa no futuro. Assim reconheceremos se um relacionamento é
duradouro. Pergunte-se: “Como será essa pessoa no futuro? Como eu a amarei no
futuro?”. Lembre-se de que o melhor vinho fica sempre para depois.
Com
o passar do tempo devemos dar cada vez mais importância aqueles que estão à
nossa volta. Assim como São Paulo dizia (Rm 8, 35-39):
“Quem nos separará do
amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a
nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos
entregues à morte todo o dia; Somos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas
em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque
estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados,
nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a
profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que
está em Cristo Jesus nosso Senhor.”
Isso pode ser
aplicado também ao seu relacionamento com qualquer pessoa da sua família. Veja
bem: dar importância aos outros e não alimentar expectativas sobre eles! As
expectativas não são alcançadas e daí vem as decepções e até as separações.
Construir relações saudáveis é dar uma crescente importância às pessoas.
Desta forma, o
compromisso um dia assumido perdura com o tempo. E termos a segurança de que o
outro nunca nos abandonará porque somos importantes para ele, é o que nos dá a
maior alegria, uma alegria indescritível.
Que lindo é
ver que as pessoas são capazes de sacrificar o melhor de si mesmas pelas
outras, assim como Deus que sacrificou seu Filho por nós. Assim como Jesus que
por amor ao Pai e aos homens se entregou no sacrifício supremo da Cruz nos
ensina que a mais bela forma de amor é entregar a vida pelo outro, sem
resistências.
E assim, com
fidelidade e confiança a festa continuará para sempre!
1ª PALESTRA
Nesta palestra, apresento o ENCHIRIDION
DELLA FAMIGLIA E DELLA VITA, um compêndio que a Santa Sé publicou no
final de 2014 com todos os escritos da Igreja sobre a família. Pelo índice já
podemos ter muitas noções importantes. No século XVI, quando houve o Concílio
de Trento, o matrimônio e família forma muito significativos.
Vejamos isso, primeiramente só em
números:
- No século XVII, Pio VI escreveu dois documentos sobre a
Família.
- Pio IX, no século XIX, produziu três documentos na mesma
temática.
- Leão XIII (1878-1903) tem mais de 300 referências à
família.
- Bento XV (1914- 1922) faz dez intervenções a favor da
família.
- Pio XI faz 28 (1922-1939), Pio XII (1939-1958) faz menção
e à família 198 vezes.
- João XXIII faz 44 menções.
- Paulo VI faz 76 referências.
- João Paulo I que só ficou um mês, falou sobre família
quarto vezes.
- João Paulo II (1978-2005) faz 139 referências à família em
variadas intervenções.
- Bento XVI (2005-2013) menciona a família 357 vezes em oito
anos.
- Papa Francisco que é papa há dois anos já mencionou a
família 133 vezes.
Só de Bento XVI para cá já temos
490 menções à família nos últimos dez anos. Vejam como a Igreja fala, promove e
orienta a família. Isso não é comentado pela mídia! E ainda dizem que a família
cristã é um modelo ultrapassado e que os cristãos estão desorientados porque a
Igreja não orienta dos seus fiéis.
As temáticas deste compêndio são as mais diversas: amor
conjugal, aborto, educação dos filhos, abandono dos idosos, o homem, a mulher,
preparação matrimonial, etc.
Não podemos deixarmo-nos
influenciar por estas críticas de que a Igreja não consegue mais chegar às
famílias. Muitas vezes é a família que não consegue chegar à Igreja.
Um exemplo interessante. Na pág.
138 deste compêndio, encontramos a carta do Papa Leão XIII ao Imperador do
Brasil, do dia 19 de julho de 1889, falando dos perigos que a reforma da
república poderia trazer para o país em termos da preservação do depósito da
fé. Sabemos que todos esses movimentos republicanos tiveram como base a
Maçonaria, que á anti-católica. O papa chama a atenção para sua aparente forma
vaga e geral, mas que traz grande perniciosidade querendo criar, por exemplo,
os registros de nascimentos, que originalmente eram feitos no Batismo, do
matrimônio, que sempre era religioso, em atos civis. Essas poderiam tornar-se
(como vem se tornando) ameaças a estabilidade familiar e social.
Constatamos como tudo é feito
assim, até hoje. Quem não ouve coisas como: “Vivemos num pais democrático”, “a
liberdade deve ser respeitada”, “poder ao povo”, “estado laico”...
No prefácio deste compêndio, há
uma frase que chama à atenção: “O tema da
família não interessa somente à Igreja, mas a toda sociedade em sua
complexidade. É a família que mantém literalmente viva a sociedade humana.”. É
graças à família que a Igreja se desenvolveu no mundo. Atacar a família não é
matar a Igreja (porque sabemos que “as portas do inferno nunca prevalecerão
contra ela...”), mas e atacar a própria sociedade.
“ A Igreja desde a sua origem sentiu a responsabilidade de ajudar a
família cristã a viver a sua vida própria segundo os princípios do Evangelho.”.
A Igreja ajuda e também é ajuda pelas famílias, o que mostra o seu estreito
vínculo. É a família quem dá vida à sociedade e a torna verdadeiramente humana.
Quem quiser dominar a sociedade precisa desfigura-la e transformá-la em uma
manada. Stalin disse que quem quiser dominar um povo deve dominar a família, e
quem quiser dominar a família deve destruir a mulher. Não é à toa que o
primeiro país, por exemplo, a legalizar o aborto foi a Rússia. Isso afeta as
mulheres, a maternidade... Se a família não educa, o Estado educará ao seu bel
prazer.
Ainda na introdução: “O
Magistério da Igreja sempre teve em seu coração o acompanhamento dos esposos
cristãos para que eles pudessem ser fiéis à vocação confiada a eles.”.
Essa preocupação da Igreja
começou de forma mais localizada, com temas mais pontuais. Vejamos alguns
exemplos de antes de 1439 (quando começa o compêndio),
- No século IV foi encontrado um
documento de um sínodo de Elvira (Espanha), que falava em uma das temáticas
sobre a relação entre Matrimônio e Eucaristia.
- Em 314, no concílio de Ardes
(França), foi tratado sobre o tema do adultério e do divórcio. Em 240, no
Concílio de Nicéia, um dos mais importantes da história da Igreja, falou-se
sobre o matrimônio como manifestação da bondade de Deus.
- Uma consulta feita ao papa
pelos búlgaros em 844 trata sobre a segunda união e a bigamia.
- O concílio de Florença 1439 fez
um compendio de todas as reflexões teológicas feitas ao longo do século XIII,
ou seja, vendo as famílias sob o ponto de vista divino.
Quero deter-me neste último. Esta
Teologia começou em conventos, por parte de monges (que nunca se casaram)...
Considerando que Deus se encarnou numa família, o matrimônio e a família foram
virando ciência para a Igreja, muito dignos de estudos. As ciências modernas
estudam a família sobre outros diferentes pontos de vista que acabam por
dilacera-la. Mas Deus que é unidade, revela a essência da família e não seus
acidentes. “O sétimo sacramento é o
matrimônio, o qual é sinal da União de Cristo da Igreja, como disse o apóstolo “Esse
é um Grande Mistério. Digo-o em relação a Cristo e à Igreja.” (Ef 5, 32). A
causa eficiente do Matrimonio é o mútuo consentimento expresso pelas palavras
dos presentes.”
O relacionamento de Cristo com a
Igreja que é invisível, faz-se visível no matrimônio.
“Os três bens do matrimônio. O primeiro é a prole acolhida e educada
para o culto de Deus.”. os filhos não criados tendo como finalidade os
próprios pais nem as coisas mundanas, mas para reconhecerem a Deus e lhe
prestarem culto.
“O segundo bem do matrimônio e a fidelidade que o cônjuge deve manter
para com o outro, e o terceiro bem e a indissolubilidade que mostra a aliança
de Cristo com a igreja. Ainda que por motivos pode adultério seja lícito
separar-se, não e possível contrair outro matrimonio, vínculo que é perpétuo.”
E enquanto isso, somos tachados
de conservadores e retrógrados porque não aceitamos as atrocidades, falta de
respeito e desumanidades que aconteceram recentemente na “parada gay” de São
Paulo. Atos assim, destroem a sociedade, degradando a nossa própria humanidade.
Querem calar a Igreja, para que a família tenha uma vez a menos para defendê-la.
Continuemos navegando para não
perdermos a perspectiva histórica. Foi o Concílio de Trento em seus documentos
falando sobre o matrimônio (1563), diante do grande desafio da reforma
protestante, que permitia os casados se separarem e contraírem novas núpcias.
Toda autoridade do papa, do Magistério e da Tradição foram tiradas, e a
autoridade estaria na interpretação pessoal da Bíblia.
“O vínculo do matrimonio foi decretado perpetuo e indissolúvel desde o
primeiro pai do gênero humano quando disse (em Gen 2, 23-24): “Eis aí osso dos
meus ossos, e carne da minha carne. Por isso, deixará o homem seu pai e sua mãe
e se unirá à sua mulher e os dois serão uma só carne.” Isso não é uma lei
civil, mas sim natural! Está inscrita no coração do homem. É lei divina e
imutável. O matrimônio não pode ser legislado pelos homens, mas só pelo Deus
que o criou.
“Esse vínculo que une e conjuga duas pessoas somente Cristo o Senhor
pode referendar a palavra pronunciada por Deus. (cf. Mt 19) “... Mas no
princípio não era ssim..Portanto, o homem não separe o que deus uniu.”
“O próprio Cristo autor dos santos sacramentos com a sua Paixão mereceu
a Graça que aperfeiçoa aquele amos natural e confirma na indissolúvel unidade a
santificação dos esposos.” O amor humano em todos os seus elementos é
levado à perfeição por Cristo ao dar a vida por nós, sacrificando-se na Cruz.
Essa é a razão para que os batizados se casem na Igreja. Mas hoje vemos tantas
uniões de fato, apoiadas em meros e instáveis sentimentos...
Vejam como vivemos num mundo
contraditório... os homoafetivos acham que o matrimônio se baseia no afeto e
por isso os gays podem se casar e adotarem filhos, ou os terem por técnicas
artificiais. Quando os estilistas Dolce e Gabana, que são homossexuais foram à
público defender a família e dizer que os filhos devem ser gerados e educados
pelo pai e pela mãe, o cantor Elton John conclamou a todos que boicotassem os
produtos desta grife em protesto. E quando nós católicos, queremos boicotar os
produtos da rede “Boticário”, somos tachados de conservadores!
Esta semana a lei que autoriza as
biografias não-autorizadas colocou a liberdade de expressão acima do direito de
intimidade e privacidade. Olhem que perigo e a que isso pode dar margem, a
curto e longo prazo!
O amor humano, necessita,
portanto, ser aperfeiçoado e confirmado pela Graça.
Só para termos uma noção da
diversidade de temas do Compêndio. Um outro exemplo de Pio XII, em 1944, na
Pontifício Universidade Gregoriana, falando sobre o Natal. Ele se dirige às
crianças. “Natal é para vocês queridas crianças uma festa da alegria. Em torno
ao presépio todo iluminado da vossa Igreja, com cânticos de alegria. É que nos
deixa a imagem do Cristo sorridente. Talvez hoje longe da casa abandonada e
destruída, a vista dos vossos pais com lágrimas, vocês devem compreender melhor
que onde está o Natal com Deus ali está o mais pobre, a mais miserável de todas
as crianças." Interessante. E hoje o que vemos? O Natal comercial. Dom Orani
conseguiu apenas por dois anos com a Prefeitura que se colocassem presépios
pela cidade, mas por causa do “estado laico” não se pode colocar nada, sob o
pretexto de não ofender ninguém...
“Queridas crianças, meus
pequeninos irmãos, eu sei bem o que vocês vem sofrendo,. Eu também sofro. Jesus
sofreu na gruta de Belém. Eu quero que vocês olhe a Jesus, que escutem a gruta
de Belém, no berço está a mais bela imagem, uma imagem de Jesus, é a hóstia
santa que está presente escondida em Jesus.”
Voltando ao Concílio de Trento,
que falava da Graça que santifica o amor natural, deu um passo importante em
defesa da família. Segundo o costume da época, bastavam duas pessoas darem o
consentimento mútuo, sem necessidade de nenhuma testemunha, para estarem
casadas. Ou seja, o matrimônio era oculto. Desde o século XVI, foi definida a
condição de validade, ou seja, a forma canônica do matrimônio: que o
consentimento se dê diante de um representante legítimo da Igreja (bispo,
padre, diácono, um leigo designado). Uma questão pastoral foi resolvida assim.
Demos um salto para 1890, com
Leão XII, no Documento falando sobre a grande sabedoria divina, diz que o
matrimônio é uma instituição natural porque pertence à ordem da criação e é
também sobrenatural porque Cristo quis instituir o sacramento do matrimônio.
Isto significa que não existem dois matrimônios: um natural e um sacramental. O
Matrimônio é um só! Que para os batizados, que tem uma nova vida em Cristo, nos
leva à perfeição da Graça. Não há casamento civil e casamento católico. Há o
matrimônio natural. De modo que duas pessoas que não tenham nenhuma religião e
se casam colocando como a causa eficiente de seu matrimonio a vontade de
viverem aqueles três bens do matrimônio de que falamos antes (a prole, a
fidelidade e a indissolubilidade) é um matrimônio válido!
O matrimonio use duas pessoas
para o bem de si mesmas e da sociedade inteira! Quem muda primeiro é a família.
A família é que influencia a sociedade e não o contrário. Precisamos de uma
conversão pastoral. Não basta trazermos as famílias para dentro da Igreja, mas
levamos boas famílias cristãs para serem missionárias do amor na sociedade.
Pio XI, em 1930, escreveu um
documento muito importante Casti Conubiii,
falando sobre a castidade no matrimônio. Este documento recorda os três grandes
bens do matrimônio e para que fossem preservados e multiplicados, a fala é
firme contra a contracepção. Um parênteses interessante, foi quando as
feministas comemoraram os 50 anos de comercialização da pílula. E ainda dizem
que a Igreja sempre chega atrasada... É irônico, ver este documento de 1930! A
Igreja já falava que a contracepção destrói esses três bens. A camisinha já
existia desde a Roma Antiga com camisinhas feitas com bexiga de porco, o aborto
era comum. E os cristãos mudaram o mundo porque viviam justamente o contrário:
a alegria da prole. É tão triste ouvir este termo: “evitar os filhos”...
Pio XII, conhecido como o “papa
dos médicos”, ele mesmo estudava e escrevia discursos aos médicos e era até
convidado para fazer pronunciamentos em congressos de medicina. Dos seus vários
pronunciamentos sobre matrimonio e família, ele fala a favor dos métodos
naturais para a regulação da fertilidade, que permitiam aos esposos cristãos
espaçarem os nascimentos por razões graves e sérias. E exortava os cientistas
para realizarem pesquisas sobre a fertilidade. Um exemplo disso, é a pesquisa
dos Drs. Billings.
Um documento importante e caro é
o Concílio Vaticanos II, no seu discurso de abertura e na Constituição Gaudium et Spes (Alegria e Esperança).
Esses dois, em particular expandem a visão do matrimônio, encarada do ponto de
vista jurídico, como de fato o é, para uma visão personalista, um meio de
crescimento da pessoa humana; Isso se deu em grande parte pela influência do
então cardeal Karol Wojtyla.
O matrimônio é interpretado
sobretudo como uma comunidade de vida e de amor, entre um homem e uma mulher e,
ainda que seja uma instituição com seus múltiplos valores, é reconhecido como
uma relação de amor que Cristo elevou à dignidade de sacramento. Ao estado
conjugal é atribuída uma certa consagração. Isso é uma linguagem audaciosa. A
GS 48 a 52 discorre exatamente sobre essas questões. Há uma graça que eleva o
ser humano a um estado sagrado.
Após o CVII, foram aparecendo
vários outros documentos como a Humane
Vitae de Paulo VI, em 1968. Gostaria muito que em todas as Paróquias do Rio
de Janeiro fosse realizado em 2018 um tríduo comemorativo aos seus 50 anos.
Essa encíclica que teve seu conteúdo tão reduzido pela mídia, a ponto de ser
chamada “a encíclica da pílula”. O que não é absolutamente verdade.
Ela fala sobre a dignidade da
vida humana e sobre o amor do homem e da mulher que, por ser uma amor humano,
precisa ser compreendido em todas as suas dimensões: intelectual, emocional,
cultural, física, lúdica, social...
O relacionamento conjugal, como o
nome implica é total, fiel, leal, não penas ao não cometer um adultério, mas no
sentido de sempre ser verdadeiro com o cônjuge. Isso também fala a Humanae Vitae. Quando falta fidelidade e
transparência é porque há um recanto da minha vida que não pertence ao outro.
O documento trata da visão global
do homem e do amor conjugal em longos oito parágrafos. Depois traz a
anticoncepção como o que lesa o amor conjugal. O amor verdadeiro é fecundo,
enquanto fertilidade biológica, e enquanto gerador de humanidade e santidade no
outro. A vida familiar tem que tornar o outro melhor enquanto pessoa e enquanto
cristão. Pode se ter passado da época da fertilidade, mas nunca da época da
fecundidade. Sempre podemos gerar algo de melhor para os outros e para a
sociedade. O amor não se torna estéril apenas pela pílula, mas pela indiferença
para com o outro. Uma vez li em um livro que o homem se separa porque encontrou
outra mulher e que a mulher se separa porque encontrou-se a si mesma.
Só então começa a falar sobre a
pílula. O pior efeito da pílula não é o de evitar os filhos, mas de destruir o
amor conjugal. Sua principal consequência sociológica é o aumento explosivo dos
divórcios. Não há como se negar essa relação causa e efeito.
Em 1981 vem a Familiaris Consortio, que traz
abrangentes questões pastorais nos temas de matrimônio e família, texto fruto
do sínodo no ano anterior. E agora, este ano, teremos a conclusão de mais um
sínodo sobre a família, conduzido pelo Papa Francisco que tem se pronunciado,
pelo menos, semanalmente sobre o tema.
No final do prefácio do compêndio
que estamos mencionando o texto lembra que o matrimônio e a família são uma
encruzilhada onde se encontram a esperança humana e a graça divina, a promessa
e o seu cumprimento. A relação conjugal aberta e acolhedora ao dom dos filhos é
o lugar propicio onde a humanidade crê na promessa de Cristo para a redenção do
casal. Os esposos e a família crista nesta rica e variada experiência cultural
que vivemos são chamados hoje a serem fiéis ao dom da graça que lhes foi
antecipado do Dom que Cristo deu à humanidade inteira.
3ª Meditação
Queria começar falando de uma
família, que pelo conhecimento que se tem dela, marcada pela dor, mas que teve
um protagonismo muito grande na vida de Jesus. Não me refiro á família de
Nazaré, mas de Betânia. Este lar próximo de Jerusalém, muito visitado por
Jesus, só se fala dos irmãos: Marta, Maria e Lázaro. Muito provavelmente os
pais já deveriam ter morrido. O que sabemos entre eles é que Marta pareci ter o
papel de mãe e de pai, assumindo muitas responsabilidades. Quando Jesus chega,
como todos os homens de forma inesperada e trazendo doze amigos, é Marta que
fica preocupada em preparar tudo para alimentação e repouso. Em outro momento
essa família sem os pais, vive a dor da doença que evoluiu para o falecimento
do irmão, Lázaro. O texto bem detalhado de Jo 11, 1-45.
“Estava, porém, enfermo um certo
Lázaro, de betânia, aldeia de Maria e de sua irmã Marta. E Maria era aquela que
tinha ungido o Senhor com ungüento, e lhe tinha enxugado os pés com os seus
cabelos, cujo irmão Lázaro estava enfermo. Mandaram-lhe, pois, suas irmãs
dizer: Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas. E Jesus, ouvindo isto,
disse: Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus, para que o
Filho de Deus seja glorificado por ela. Ora, Jesus amava a Marta, e a sua irmã,
e a Lázaro. Ouvindo, pois, que estava enfermo, ficou ainda dois dias no lugar
onde estava.”
Amava muito, mas parecia que não tinha pressa
de amar, aparentemente.
Quando veio a morte Jesus disse:
“Assim falou; e depois disse-lhes: Lázaro, o
nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono. Disseram, pois, os seus
discípulos: Senhor, se dorme, estará salvo. Mas Jesus dizia isto da sua morte;
eles, porém, cuidavam que falava do repouso do sono. Então Jesus disse-lhes
claramente: Lázaro está morto; E folgo, por amor de vós, de que eu lá não
estivesse, para que acrediteis; mas vamos ter com ele.”.
Jesus fez questão de esperar este
tempo apesar de estar tão perto deles, a cerca de três quilômetros. Marta é que
corre ao encontro de Jesus e vem tirar satisfações com ele, como havia feito
antes naquele episódio doméstico quando Maria estava aos seus pés.
“E muitos dos judeus tinham ido
consolar a Marta e a Maria, acerca de seu irmão. Ouvindo, pois, Marta que Jesus
vinha, saiu-lhe ao encontro; Maria, porém, ficou assentada em casa. Disse,
pois, Marta a Jesus: Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria
morrido. Mas também agora sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus to
concederá. Disse-lhe Jesus: Teu irmão há de ressuscitar. Disse-lhe Marta: Eu
sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia. Disse-lhe Jesus: Eu
sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; E
todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. Crês tu isto? Disse-lhe ela:
Sim, Senhor, creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao
mundo.
Essa comunicação entre Cristo
revelando verdades futuras e a resposta de Marta fazendo um ato de fé, são
coisas lindas de se ver. O episódio segue com a ressurreição. E vamos entrando
no segundo aspecto da alegria na família que é fazer crescer.
“Tendo, pois, Maria chegado aonde
Jesus estava, e vendo-o, lançou-se aos seus pés, dizendo-lhe: Senhor, se tu
estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Jesus pois, quando a viu chorar,
e também chorando os judeus que com ela vinham, moveu-se muito em espírito, e
perturbou-se. E disse: Onde o pusestes? Disseram-lhe: Senhor, vem, e vê. Jesus
chorou. Disseram, pois, os judeus: Vede como o amava.”
Jesus comunicava não só a sua
verdade como Mestre, mas a sua intimidade. E alguns até o criticaram: “E alguns
deles disseram: Não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer também com que
este não morresse?”. Jesus ficou em silêncio, e não retrucou, mas novamente
fica comovido. E quando chegou ao sepulcro: “Jesus, pois, movendo-se outra vez
muito em si mesmo, veio ao sepulcro; e era uma caverna, e tinha uma pedra posta
sobre ela. Disse Jesus: Tirai a pedra. Marta, irmã do defunto, disse-lhe:
Senhor, já cheira mal, porque é já de quatro dias. Disse-lhe Jesus: Não te hei
dito que, se creres, verás a glória de Deus?”
Jesus faz oração em voz alta,
abre ao povo a sua alma. “Tiraram, pois, a pedra de onde o defunto jazia. E
Jesus, levantando os olhos para cima, disse: Pai, graças te dou, por me haveres
ouvido. Eu bem sei que sempre me ouves, mas eu disse isto por causa da multidão
que está em redor, para que creiam que tu me enviaste. E, tendo dito isto,
clamou com grande voz: Lázaro, sai para fora. E o defunto saiu, tendo as mãos e
os pés ligados com faixas, e o seu rosto envolto num lenço. Disse-lhes Jesus:
Desligai-o, e deixai-o ir.”
Interessante que o morto saiu,
mesmo estando meio amarrado, cheio de faixas.
Vemos um episódio desta família
marcada pela dor, mas que teve uma grande graça: hospedar o filho de Deus na sua
casa. Cada vez que ia a Betânia comunicava as verdades da fé, os verdadeiros sentimentos
humanos, comunicava confiança àquelas pessoas, comunicava paz serenidade, e proporcionava
momentos prazerosos ainda que isso desse trabalho, como dar abrigo a 13 homens
cansados e famintos. Jesus ensina: “Uma só coisa é necessária”. Ás vezes,
achamos que precisamos de muitas coisas para tornar o nosso lar alegre e fazer
com que as pessoas tenham vontade de voltar pra casa. Por que as pessoas querem
tanto ficar fora de casa hoje? Custa muito suor, sangue e lágrimas criar um
ambiente que faça com que as pessoas se sintam bem dentro de casa. Uma família
comunicativa e atraente é essa força centrífuga que congrega cada um dos seus
membros a que sejam felizes dentro de casa. Mas o que vemos é uma figa de casa.
Deve haver uma razão. Porque uma festa na discoteca é mais atraente do que uma
festa em casa. Será que é pelas luzes e bebidas, ou porque não temos a
criatividade para preparar um ambiente agradável?
Quando chegava em Betânia, Jesus
dava trabalho, mas dava muito mais que isso: levava Palavras de Vida Eterna!
Cito o psiquiatra e um escritor.
Freud disse em uma de suas obras: “Os acontecimentos ocorridos durante os
primeiros cinco anos de vida exercem uma influência sobre a vida do homem que
nenhum fato posterior pode anular.”. Isso vale pra nossa vida pessoal e
matrimonial. As tristes estatísticas mostram que os maiores índices de divórcio
ocorrem nos cinco primeiros anos!
E Dostoyéwski disse: “Quem
acumula muitas lembranças felizes nos primeiros momentos, de vida, este está
salvo para sempre.” Mais uma vez, isso vale para a vida matrimonial e familiar
também.
Por isso, é importante comunicar
as pessoas um ambiente familiar sadio desde o início, mesmo que ainda não
tenham vindo os filhos, mas é preciso já que o casal saiba disso, que os
primeiros anos são decisivos, e proporcionam um crescimento de amor. Quando se
cresce a comunicação melhora. Entre a família de Betânia e Jesus a comunicação
era fácil. Jesus atraía os irmãos, por isso Maria não conseguia sair dos pés de
Jesus. A vida social é importante, mas a vida em família é a melhor parte.
É certo nascemos no seio de uma
família que não escolhemos e na nossa família atual, só uma pessoa escolhemos:
o cônjuge. Também o futuro de nossas famílias não é escolhido por nós, mas por
Deus. E não dá mais para voltar atrás. Mas uma só coisa é necessária: escolher
bem as leis próprias do amor. E uma delas que nos faz crescer em humanidade e
em santidade, e é a pedra de toque da alegria familiar, é a comunicação. Jesus
é Deus se comunicando com a humanidade em seu grau máximo. Nós também podemos
usufruir dessa revelação. Marta sabia que havia a ressurreição, mas viu Jesus
revelar o seu mundo interior. Quantas vezes Jesus conversando com esses irmãos
também conversava com o Pai. Não temos que ter vergonha de ser o que cada um de
nós é nem termos vergonha de demonstramos isso. Há um escrúpulo exagerado de
falar das suas intimidades. A família é o único âmbito da sociedade em que
podemos nos expor sem nenhum respeito humano, porque lá somos considerados
importantes.
Nada pode ser banal em uma
comunicação intrafamiliar! Do contrário, entra a tristeza nessa casa. Quando se
ensinam aos meninos: “Homem não chora!” – ora, os sentimentos são banalizados.
E há consequências futuras. Por isso, quem encontra uma comunicação sadia, um
relacionamento sincero desde o início, encontro uma alegria de viver que não
achará em nenhum outro lugar. Uma das piores coisas que podem existir em casa é
o silêncio sepulcral. Mostra que no coração humano há uma fechadura. As caras
fechadas, os rostos sérios, a falta de revelação da intimidade são contrários à
lei do amor. Família não custa dinheiro, custa tempo! Tempo para estar e tempo
para se revelar!
Nota-se uma síndrome de
deficiência não imunológica, síndrome da vitamina T – Tempo! Tempo de
dedicação. Quanto tempo Jesus dedicava a família de Betânia. Numa semana
importantíssima da sua vida, que foi a semana que hoje chamamos de santa, Jesus
passa a quarta-feira em Betânia! Dedicou tempo a um homem que era odiado na
cidade, que foi Zaqueu e foi ficar na sua casa, com a sua família. E qual foi o
resultado deste tempo de dedicação? A conversão de Zaqueu e sabe-se lá quem
mais foi tocado por essa visita... No final do dia Zaqueu cresceu na fé e na
virtude, perdeu dinheiro, mas ganhou a alegria de viver. Quanto tempo dedicou o
Filho de Deus à sua família terrena? 30 anos! E quando começou sua vida
pública, porém, tinha pressa de pregar.
A vitamina “T” é a responsável
pelo crescimento familiar. Quantas mulheres dizem: “O que eu me arrependo é ter
perdido a infância e a adolescência dos meus filhos.”. As crianças acabam
terceirizadas pela escola, pela babá, pelo cursinho, pelo ballet... Quando
crescemos terceirzamos o tempo com os nossos irmãos, os meus pais... Tempo para
estar e tempo para pensar na família: “Como vai a minha família?”. Uma das
imagens que Jesus fez do juízo particular, está o Evangelho de Mateus é o tempo
que se dedica ao outro: “Tive fome e me deste de beber, tive sede e me deste de
beber...”. Na medicina há sinais significativos que, se a pessoa não estiver
atenta, e só prestar atenção quando uma dor aguda, pode ser tarde demais para
tratar a doença. Quanto tempo dedico para pensar em cada pessoa da minha
família e que criatividade uso para que a rotina não seja a rotina do nosso
amor?
Quanto tempo dedico para olhar
para as pessoas? Nos livros de pediatria aprendi que as crianças sempre olham
nos olhos, mas os adultos tendem a ser mais vagos. As crianças olham nos olhos
para se darem a conhecer e, ao mesmo tempo, estão atentas para captarem os
sentimentos e os pensamentos das pessoas. Nada de pudores fora de contexto!
Quanto tempo eu dedico para fazer os outros rirem e brincarem? Segundo um
estudo científico muito recente, um minuto de risadas equivale a 45 minutos de
ginástica. Gastamos dinheiro em academia, mas não gastamos tempo para fazerem
as pessoas rirem em casa, de graça. Mas é preciso tempo para pensar, preparar
isso, pensar em cada um da família. Comunicação na alegria e no bom humor, gera
alegria e otimismo. Cuidado com a ausência de lazer dentro de casa. Se isso
falta é sinal amarelo. O sinal vermelho é a fuga de casa, porque ninguém quer
viver numa casa que é séria demais.
Um sinal de bom humor e saúde
física e mental é não levar tão a sérios os problemas da vida e conseguirmos
rir de nós mesmos. O bom humor quebra o gelo em casa! A vida hoje não é fácil,
como não era fácil para Marta, Maria e Lázaro, mas eles hospedavam Jesus em
casa. E nós? Não somo templos do Espírito anto? Jesus não nos prometeu que ele
e Pai habitariam em nós? Por que, então, ficamos tão ocupados e preocupados com
a vida que perdemos o único necessário: criar um ambiente onde aas pessoas
sentem que estação crescendo humana, espiritual e culturalmente. E este
ambiente só se encontra na família. Até o melhor lugar para morrer é em casa.
Muito mais digno e acolhedor que entre as máquinas de um CTI.
Um ambiente leve e flexível faz
as pessoas crescerem na fé, na confiança mútua, na consciência de serem
importantes umas para as outras. Essa era a família de Nazaré, a de Betânia e
toda a família em que Jesus entrava, comunicando sua humanidade e sua
divindade. Há vários problemas de difícil solução, mas quando há uma certa leveza
vemos as soluções mais facilmente. Não tenhamos vergonha de expormos nossas
fraquezas em família, de pedir ajuda... Não pode ser um ambiente de quartel ou
de empresa, porque a vitamina “T” está em alta!
Não se trata apenas de uma
meditação de um verdadeiro exame de consciência. Antes de falar com sua
família, converse primeiro com Deus.
4ª Meditação
A Família de
Nazaré é igual a nossa em muitos aspectos. Um em especial é importante para
nós: a capacidade de harmonizar pessoas diferentes. Não podemos confundir as
diferenças com a dificuldade de convivência. Alguns casais dizem: “Éramos muito
diferentes, por isso, nos separamos.”. Ora, somos todos diferentes. A diferença
não é o motivo. Não podemos cair nessa confusão semântica.
A Igreja, Mãe
e Mestra, é testemunha de que o matrimônio só pode ser estabelecido entre
pessoas diferentes. E quer algo mais diferente do que um homem e uma mulher?! Dois
iguais não constituem um matrimônio. O verdadeiro casamento é entre duas
pessoas que não são iguais.
Os pais sabem
que se tiverem vinte filhos, um nunca será igual ao outro. Repito: diferença individuais
não podem ser sinônimo de dificuldades de relacionamento. Nem dentro, nem fora
de casa. O eixo mais vertical e mais profunda da vida familiar é exatamente
ensinar a harmonizar em si mesmo e nos outros as diferenças afetivas,
psicológicas, de valores, culturais, políticas, os gostos e, eventualmente, as
diferenças de religiosidade.
Às vezes se
incorre no erro de querer uniformizar tudo e acabamos criando a monotonia. Se a
mulher quiser que o marido a ame como ela o ama, vai se decepcionar! Cada um
ama de um jeito diferente. A convivência até com amizades diferentes enriquecem
a família. São muitas diferenças, não dificuldades. As pessoas não são
difíceis, são diferentes.
Aí a
palavra-chave é aprender a harmonizar, é saber e fazer as pessoas saberem que
essas claras e patentes diferenças tem um sentido bem divino: “Não fostes vós
que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi”. Isso Deus diz para cada um de
nós. Diz para cada um dos nossos ascendentes e descendentes. Forma todos
escolhidos por Deus. A diferença assume, então, um sentido vocacional. O que é
vocação? João Paulo II em 1980, disse em Porto Alegre: “O mesmo Deus que ama é
o mesmo Deus que chama.”. Deus ama tanto o homem que chamou para ele a mulher,
a qual também amava. O sentido misterioso das escolhas de Deus deve ser o nosso
ponto de partida. Ele escolheu o esposo, a esposa, os filhos bem diferentes
para que sua vida seja uma renovação constante. Deus escolheu esta época em que
você vive, o lugar onde mora... Não existe acaso, mas um plano amoroso eterno
de Deus!
Entendemos,
assim, que as diferenças são manifestações divinas. Hoje à tarde enquanto
rezávamos o terço pelo jardim, quantas orquídeas diferentes vimos?! A diferença
é sinal da sapiência e providência divinas. Precisamos saber conviver e
harmonizar as diferenças dos outros e as nossas próprias diferenças. Ser homem,
ser pai, ser profissional, ser católico, ser brasileiro... e cada um tem um
tipo de personalidade. Ser mulher, esposa, mãe, dona de casa, profissional...
ser jovem, colega, filho, irmão, aluno...
E ainda
organizarmos nossas prioridades:
1- Deus
2 – Família
3- Amizades
4- Trabalho
5- Descanso
6- Tecnologia
Não há
monotonia quando reconhecemos o sentido divino das diferenças humanas. A mão de
Deus nos dá carinho, mas também nos chama para vivermos com pessoas tão
diferentes.
Aprender a
harmonizar as diferenças não significa querer ser o diferente para sobressair
dos outros, para chamar a atenção. Quando quer ser diferente por ser diferente,
acaba sendo prepotente. E isso, sim, dificulta a convivência. As diferenças
existem para que TODOS ganhem com elas. Cada pessoa precisa compreender que é
parte de um todo: de uma família e de uma sociedade.
Uma
recomendação prática para que experimentem a alegria de viver a harmonização:
use uma das suas diferenças com as outras pessoas por uma hora por semana para
contribuir com toda a sua família. Ex. se eu falo muito, falarei só coisas boas
para edificar o outro e não uma verborragia sem sentido.
Uma diferença
não pode ser rota de colisão com as outras pessoas, mas faixas de uma estrada
em que cada um vai na sua, mas todos vão na mesma direção.
As diferenças
contribuem para a alegria porque ajudam na atitude ética fundamental em todas
as camadas da vida: o respeito. Não é simples tolerância. Porque pode-se ser
tolerante, mas não se respeitar o outro. Tolerância é pouco, respeito é tudo. A
palavra respeito vem do latim e significa olhar o outro por detrás das
aparências, é dar valor ao outro. É um olhar atencioso e compreensivo. Se não,
será criado um ambiente triste. Alegria não é compatível com olhar crítico, com
murmurações, fofocas... Ver o valioso no outro diferente e ver que ela me
enriquece.
A alegria é consequência
da caridade. O amor de Deus demonstrou-se não só na criação, mas também na
redenção, uma obra divina que começa com uma palavra que parece tão fácil de
pronunciar e tão difícil de viver: “Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que
fazer.”. Isso hoje se perdura, por exemplo, no sacramento da reconciliação,
mostrando que a graça está no perdão dado gratuitamente. Cristo harmonizou o
céu e a terra, criatura e criador, os filhos com o Pai.
Pensemos em
outra família que aparece em uma parábola: o pais com dois filhos, sendo que o
mais novo pede a herança antes mesmo o pai morrer. O pai respeita essa
diferença. E quando o filho, depois, de gastar tudo é recebido com festa. Mas
há também o filho fiel e cumpridor dos deveres, que se transforma totalmente quando
vê a festa. O filho ficou com o coração tão duro, sem perdão ou misericórdia! E
o pai, pacientemente, o exorta.
É impossível
viver a alegria num ambiente onde não exista perdão ou onde o perdão não é
aceito. Isso nos torna cada vez mais semelhantes s Deus. Perdoar é uma obra
mais divina do que a criação do mundo! Assim que acontecer o atrito, que
sejamos ligeiros em pedir, aceitar e dar o perdão. Perdoar não é só esquecer,
mas reconciliar-se. E as diferenças adquirem um novo significado quando
perdoamos, pois começamos a desenvolver uma série de virtudes importantíssimas
na vida familiar. Uma delas é a paciência. Paciência porque, às vezes, a pessoa
não vai conseguir mudar nunca. Outra delas é a fidelidade, que neste caso tem
tudo a ver com a humildade. Não diminuímos o amor pelo outro. Aprendemos a ser
generosos, caritativos, misericordiosos, benignos... Crescemos especialmente
com os que são mais diferentes de nós. Que as diferenças sejam uma escola de
virtudes para nós. Nada disso é fácil porque são raízes muito profundas da
alegria.
A nossa
sociedade acha que é democrática, intolerante e livre é cada vez mais o
contrário disso tudo. Por quê? Porque o respeito às diferenças se aprende em
casa e as famílias não capazes de harmonizar as diferenças hoje em dia.
Um Deus que é
homem, sem deixar de ser Deus, uma mulher que é mãe e esposa, mas permaneceu
virgem e foi concebida sem pecado original, e um homem, carpinteiro, pai
adotivo, que se deixa conduzir por Deus por meio dos seus sonhos. Pessoas tão
diferentes! A Sagrada Família é nosso modelo não só de oração e de virtudes,
mas porque nos ensina a harmonizar as diferenças.
A alegria na
família é um bem acessível. Não é fácil, mas é possível. Por isso mesmo existe
o matrimônio como fonte de graças para nos ajudar. A alegria é um cultivo dos
homens. Só teremos a felicidade plena como um prêmio no Céu. Um homem fez e
cuidou de uma vinha e a deu a uns vinhateiros para cuidar e de tempos em tempos
passa para ver os frutos. Assim é a nossa vida. E qual este fruto? O primeiro
fruto do Espírito Santo? A alegria! A sociedade cria muitas “Disneys”, mas não
sabe fazer as famílias alegres de verdade. Mas uma família alegre torna-se
agregador e atraente a outras famílias.