2ª PALESTRA: ESTUDO DE CASOS
CASO 1
Tícia está grávida de 28 semanas mas sofreu uma ruptura da
bolsa e infecção. Apesar do tratamento, seu estado piorou, com risco de
septicemia e os médicos recomendaram uma indução prematura do parto. Explicaram
que havia um risco para o bebe que por imaturidade do desenvolvimento dos
pulmões. Durante o procedimento, porém, os médicos alertaram que poderia haver
momentos em que os médicos poderiam ter que decidir entre a vida dela ou do
bebe. Teriam 24h para decidir se aceitariam tal procedimento. O casal pediu
aconselhamento ao sacerdote, que lhes explicou que o procedimento era justo,
pois visava salvar duas vidas. Os pais concordaram com os médicos e tudo correu
bem.
CASO 2
Atenágoras e Escolástica
são um casal jovem. Conheceram-se e de pois de um namoro não muito longo
se casaram. Tem dois filhos pequenos em idade de educação infantil.
Aproveitando a flexibilidade no seu horário de trabalho em vendas, Escolástica
decidiu reduzir seu horário de trabalho para se dedicar mais a família, o que
Atenágoras achou ótimo. Pouco tempo depois, ele recebeu uma promoção na
multinacional em que trabalhava. Pela segurança financeira, Escolástica pensou
que poderiam ter mais filhos. Sabia que a empresa exigiria mais dele, como já
havia visto acontecer com os maridos de amigas.
O marido começou a chegar cada vez mais tarde em casa,
viajar muito... quando estava em casa só viam televisão ou discutiam sobre
questões econômicas, brigando e acusando se mutuamente.
Depois de uma briga, Escolástica foi desabafar com sua amiga
Eufrásia, que é divorciada. Esta lhe aconselhou que, como tem gente que não dá
sorte nas escolhas e que não há sentido em continuar se o amor acabou.
Escolástica começou a cogitar a possibilidade de um divórcio.
Foi se confessar com o sacerdote a quem costumava recorrer e
lhe expôs toda situação.
PERGUNTAS
CASO 1
Em que consiste a indução prematura do parto?
É um conjunto de procedimentos que visa induzir as
contrações uterinas para antecipar o parto quando há algum risco de vida para a
mãe e/ ou o bebê, já em estágio mais avançado de gestação. Seria o indicado
para o caso de Tícia de ruptura da bolsa sem trabalho de parto natural.
Há chance de sobrevivência da criança, ainda que seja em
unidades de tratamento intensivo com os devidos cuidados? Nos países com bom
sistema de saúde a partir das 22/ 23 semanas já há viabilidade de sobrevivência.
Portanto, induzir o parto antes da viabilidade do feto é
aborto, dentro do estágio atual de progresso da neonatologia. A taxa de
sobrevivência nesta etapa é de 17% apenas. A partir de 28 semanas, essa taxa já
sobre para 80%. Após a 30ª semana, já se chega a 95%. O normal seria uma
gestação de 42 semanas. Esse é o panorama médico. Aqui no Brasil, infelizmente
há poucas UTIs neonatais. No Rio, só há duas UTIs verdadeiramente
especializadas em estrutura e pessoal: na Perinatal de Laranjeiras e da Barra.
Agora analisamos a ética humana e cristã. Quando a situação
da criança e da mãe alcança uma situação crítica, surge a pergunta: deve-se ou
não induzir o parto? A indução prematura de um feto viável pode ser a única
chance de salvar-lhe a vida. Em casos, por exemplo de incompatibilidade de RH.
Não há risco para a mãe, mas para a criança, sim. Outros casos lícitos são em
casos de perigo de vida para a mãe, como infecção intrauterina ou
pré-eclampsia. Não se procura a morte da criança, mas procura se salvar a mãe
em risco eminente de morte.
Qualquer ato que na indução prematura do parto cause
intencionalmente a morte da criança não nascida é um ato mau e desordenado,
pois é um aborto.
Na mentalidade de pessoas que não tem formação ética, existe
o aborto terapêutico. Mata se primeiro a criança e depois vão tratar a saúde da
mãe. O temor terapêutico aí é totalmente mau empregado, porque não é o aborto
que cura a mãe. Portanto, não pode ser moralmente aceito.
E quando os dois correm risco eminente de morte e a criança
ainda não é viável. É o caso de uma gravidez ectópica por exemplo. Nesses casos
a chance é de apenas 1% de chegar a um tempo de viabilidade sem que se trompa
se estoure. É um caso complicadíssimo. Não havendo nenhuma chance de salvar o
filho, a opção do casal e do médico é a de salvar a mãe. Já que a morte do bebe
é inevitável, salva se, pelo menos, a mãe. Ninguém de seja a morte da criança,
nem se provoca voluntariamente a sua morte. A atitude mais ética neste caso é
tentar salvar a vida dos dois, mas quando não há mais salvação para a criança é
um mal menor deixar a criança morrer para conseguir salvar a mãe.
Se há um acidente de trânsito com uma grávida de 20 semanas
e a mãe está à beira da morte. O que fazer se também não há viabilidade? Deixar
o bebê nascer, ainda que tenha todas as chances de morrer e tentar salvar a
mãe. Ou seja, salvar a vida salvável.
O que devemos estar muito atentos? Há um projeto de lei para
a indução ao parto. Ora, isso não é algo jurídico, mas médicos! Nada mais é do
que tentativas de se legalizar o aborto depois do diagnóstico de doenças. É uma
manipulação da linguagem para aborto eugênico para casos de síndrome de Down,
microcefalia, defeitos no tubo neural... Jamais podemos aceitar isso! E
precisamos acompanhar essas questões no cenário político.
Em 1971, o secretário de estado americano produziu o chamado
relatório Kissinger. Um programa de controle demográfico da população mundial
feito por ONGs, pela ONU e por Fundações com McArthur, Rockfeller e Ford
recomendando aborto como única saída Lara o controle do crescimento da
população mundial. Por isso, se chama o embrião de monte de células, que só se
é ser humano depois de nascido, e agora, só depois dos quatro anos porque antes
disso não se tem consciência de si. Vemos como a mentira impera e se confundem
a consciência das pessoas.
CASO 2
Que princípios podem ter o sacerdote e os leigos para ajudar
quem passa por dificuldades matrimoniais?
1- Boa preparação para a vida matrimonial
O ambiente familiar em que as pessoas crescem deveria ser a
primeira e principal escola de preparação para a vida matrimonial, e não a que
é oferecida nas Igrejas. Aprendemos a viver a vocação como os pais vivem. Hoje
mais do que nunca com um ambiente social tão desfavorável é preciso cuidarmos
muito bem do ambiente familiar. A evangelização da cultura é urgente e esta
parte das boas famílias, disseminando bons costumes. Um EPVM de um dia não
adianta nada! Estamos sendo absurdamente omissos. Como resolver crises atuais
com o que deveria ter sido feito e resolvido antes mesmo do sacramento? A
prevenção pela educação adequada é a melhor maneira de se evitar as crises
conjugais.
2- E, no dia a dia,
cultivar detalhes de carinho ainda que exijam sacrifícios.
Pai e mãe juntos agindo na educação dos filhos. Já é errado
terceirizar a educação dos filhos para a escola, que dirá o pai terceirizar a
responsabilidade para a mãe exclusivamente.
Entre o casal, é preciso adiantar-se no diálogo aberto e
sereno, expressando seus sentimentos, dúvidas, sonhos e necessidades.
Não se surpreender com as crises também é fundamental. São
diferentes crises que podem surgir em diferentes etapas da vida, desde o início
do casamento até quando os filhos saem de casa para seguirem suas vidas.
Não permitir que coisas pequenas ganhem grandes proporções.
Normalmente é um problema de egoísmo e não do problema em si.
Saber recriar o amor com coisas simples e normais.
Crise vem de critério. O que é melhor: a promoção
profissional ou matrimonial? No Encontro
Mundial das famílias de 2012 responder uma pergunta de um casal que quase
chegou ao divórcio, o papa Bento XVI relembrou que o escuro e o luminoso se
completam e que as crises enriquecem o relacionamento e nos motivam a amarmos
novamente e amadurecermos enquanto pessoa e casal.
Quando se tem que recorrer a separação?
Prescreve o CCE (Código de Direto Canônico) 1153, 1, que se
um dos cônjuges põe em grave perigo espiritual ou corporal o outro cônjuge ou a
prole, ou faze exageradamente dura a vida em comum, o sacerdote pode,
dependendo da urgência e gravidade do caso, ele próprio ou o bispo local.
Quando não há mais nenhuma tentativa possível de reconciliação, a separação é
indicada e cabe à Igreja dar uma atenção e consolação toda especial
principalmente à parte mais fraca, reafirmando o valor do amor e do
perdão.
6ª MEDITAÇÃO: OS ÓCULOS E O CORAÇÃO DE DEUS
Vejamos esta história:
Um agiota morreu. Chegou na porta do céu, não viu ninguém e
foi entrando. Até que chegou a um lugar chamado escritório de Deus e viu um par
de óculos por sobre a mesa. Ao coloca lós, ele olhou para a terra e começou a
ver só coisas boas. Viu seu ex-sócio trabalhando e ganhando muito, muito
dinheiro. Com inveja e raiva, pegou o banquinho onde Deus apoiava seus pés,
jogou com toda força na cabeça do ex-sócio, que morreu na hora. Nisto, chega
Deus e todos os anjos e santos, voltando de um piquenique. Ele entra no
escritório e recebe com alegria o agiota. Ao perceber uma certa bagunça, Deus
pergunta: “Onde está meu banquinho?”. O agiota, muito constrangido, explica
tudo o que aconteceu. E Deus diz: “Não basta só olhar com os meus óculos... É
preciso sentir com o meu coração!”.
Como diz o salmista precisamos dilatar o nosso coração para
(re)aprendermos a amar. Precisamos “fazer um transplante” de coração, para
termos um coração mais parecido com Deus.
Vamos refletir sobre a misericórdia de Deus. Deus nos olha
com olhar de pai, misericordioso, mas também justo. Todos nós fomos criados
para a Vida Eterna, onde só haverá amor. A misericórdia é a máxima justiça de
Deus. Justiça é dar ao outro aquilo que lhe é devido. Deus nos criou para Ele e
quer que voltemos para Ele.
O papa Francisco nos tem falado muito sobre a misericórdia e
o diálogo. Lembrou que como Deus nunca se cansa de perdoar, nós também não
podemos nos cansar de pedir perdão. Uma prova concreta é o sacramento da
confissão. Não podemos nos cansar de pedir o perdão e nem de perdoar.
São Vicente de Paulo se dedicou muito à formação dos
sacerdotes e à caridade com os pobres. No final da vida, seus irmãos de
comunidade o ajudavam com perguntas para recitar o Credo. Depois passaram a
ajuda ló a fazer um ato de caridade. Ao perguntaram se perdoava as pessoas que
o tinham ofendido a longo da vida, ele respondeu um sonoro não. Os confrades se
espantaram e repetiram a pergunta: “O senhor tem certeza que não vai querer
perdoar quem o ofendeu ao longo da vida?” Ele insistiu: “Não!” E acrescentou que não precisava
perdoar ninguém que o ofendeu porque ele nunca havia se sentido ofendido. Só
quem já aprendeu a amar, não precisa perdoar.
Precisamos criar em nós um coração semelhante ao coração de
Deus, capaz de amar até nossos inimigos. Dilatados o nosso coração para esse
amor Divino pela confissão frequentem Eucaristia, adoração, leitura bíblica...“Nisto
conhecerão que sois meus discípulos se vos amardes uns aos outros.”, disse
Jesus.
O papa Francisco tem nos dado exemplos concretos disso. No
livro ‘O Nome de Deus é Misericórdia’ vemos tantos exemplos concretos e
comoventes. Como o caso da mulher que se prostituía para ajudar a alimentar os
filhos. A paróquia do padre Bergólio lhe dava mensalmente uma cesta básica. Um
dia, fez questão de agradecer pessoalmente ao padre, não pela comida, mas
porque ali era o único lugar em que ela era chamada de ‘senhora’.
A justiça é o mínimo da misericórdia e a misericórdia é o
máximo da justiça. Temos o coração transplantado e precisamos cuidar muito bem
dele para que o amor não morra em nós.