segunda-feira, 28 de junho de 2010

A BELEZA DE SER CRISTÃO (parte 5)


Trazemos mais uma bela reflexão feita por Dom Antônio Augusto no último retiro arquidiocesesano de Pastoral Familiar.


Há um adágio latino que diz: “Melhor é o fim do que o princípio.”. Os gregos também diziam que nada é capaz de mover algo ou alguém se não há uma finalidade atraente. Se pensarmos bem, o que mais desejamos, no fundo do nosso coração, é a paz. A paz é muito atraente, melhor do que qualquer outro valor. E Santo Agostinho dizia que: “a paz é a tranqüilidade da ordem.”. E no que consiste o pecado? Na desordem. Portanto, onde há o pecado (o sensualismo, o egoísmo, etc.) não pode haver paz. Enquanto não houver ordem interior não haverá paz interior; enquanto não houver ordem nos relacionamentos, não haverá paz na sociedade.
A ordem interior consegue ir se estabelecendo como padrão espiritual quando sabemos as duas convocações em nossa vida. Uma vocação impressa em nós: somos chamados por Deus desde dentro, no íntimo do nosso coração e também de fora dele. Deus nos chama através dos bens próprios da nossa natureza humana. Alguns deles são comuns às outras criaturas: são os bens vitais (alimentar-se, descansar, reproduzir-se, curar-se, crescer...). São bens imediatos que nos garantem uma vida saudável. Mas para os seres humanos há uma diferença. Sentimo-nos chamados por eles não instintivamente, mas inteligentemente. E usando a inteligência e a liberdade avaliamos se e quando eles nos farão bem, associando esses bens vitais a outros bens superiores.
Um exemplo disso é questionar-se: “Por que devo me manter saudável?”. Ora, uma vida saudável favorece o serviço a Deus e aos irmãos, afinal, quem não vive para servir, não serve para viver...
Alguns só sentem a chamada dos bens imediatos e se esquecem de que Nosso Senhor também nos chama. Chama-nos especialmente para amar, para dar-nos. “Quem quiser vir após mim, negue-se a si mesmo...”: essa é a chamada mais profunda do nosso coração. Amar dar muito mais prazer que todos os outros bens.
Mas, além desse chamado interior, há também vozes exteriores, os chamados de fora. É o chamamento dos deveres. Dizem que os bens atraem e são prazerosos e os deveres obrigam e massacram. Isso só é verdade para as pessoas desordenadas.
Há deveres que nos chamam “de fora” devido ao nosso estado de vida: deveres para com Deus (comuns a todos os batizados), os deveres familiares (pois não vivemos isolados), os deveres sociais (amizade, trabalho...). Quem não ordena a sua vida exterior a partir dos seus deveres é uma pessoa caótica. E já dizia um autor espiritual: “Deus não constrói sobre a desordem.”. Deus não manda anjos para ordenarem o mundo, nem exterior, nem interior. Para tal, ele nos dotou de inteligência, fé e muitas outras graças. Foi a desordem que o demônio sugeriu a Jesus no deserto, tentando-o a transformar as pedras em pão. Mas Jesus mostrou que conseguiu ordenar o mundo porque foi na terra uma pessoa ordenada: não fez nenhum milagre em favor de si próprio, porque sabia de seus deveres e de sua missão. Ressuscitou Lázaro, mas não são José.
Os deveres se tornam prazerosos no amor. Aprendemos que primeiro é amar a Deus com todo o nosso ser: inteligência, coração... O primeiro mandamento é entregar-se a Deus. Mas, por uma inércia cultural, até entre n´so, católicos, achamos que só quem abraça o sacerdócio ou a vida religiosa faz essa entrega total. Não. O leigo que cumpre seus deveres para com Deus e os irmãos por amor, se entrega totalmente a Deus dentro daquilo que Deus pede em sua lei. Quando nos entregamos verdadeiramente cumprir nossos deveres para com o próximo não é massacrante. Renunciar, negar-se, abdicar de outros prazeres não se torna mais penoso. Ninguém é obrigado a ir direto do trabalho para casa. Poderia ficar no barzinho, bebendo com os amigos ou ir passear no shopping... É o amor que torna leve a tarefa de voltar para a família, ainda que lá nos esperem deveres e trabalhos.
É fundamental ordenar o tempo: quem diz que não tme tempo não pode colocar a culpa nos seus deveres, mas em si mesmo. Quem é preguiçoso é desordenado porque não sabe organizar o seu tempo. É por isso, que além do medo biológico e psicológico de morrer, temos uma medo muito mais profundo de terminarmos nossa vida de mãos vazias.
Deus nos deu o tempo, bem precioso. Quem diz que não tem tempo para rezar, para ler a Bília é porque, an sua liberdade, escolheu não entegar-se a Deus na oração. Perdemos muito tempo em bens vitais, mas que não nos são úteis, nem valiosos.
O casal que não acha tempo para namorar, nem tempo para os filhos, usa o tempo como deculpa para não dar-se. Isso é uma falah gravíssima.
Se colocarmos os bens em sua devida ordem, com sua devida prioridade, sempre haverá temp para tudo. Isso é a ciência da ordem. Negar-se a outras coisas supérfluas para entregar-se aquilo que especificamente Deus pede de mim.
Quem pensa que toca sete instrumentos ao mesmo tempo e faz uma sinfonia, na verdade só faz barulho! Como conseguir ouvir., então a vos de Deus? Não precisamos de mais horas num dia; precisamos de ordem.
É vital termos tempo com Deus na consciência, recinto sagrado onde estamos sós com Deus. Ter uma orientação espiritual frequente, a prática da confissão, a vida sacramental ajudam demais nesse sentido. Do contrário, correremos o risco de que nossa vida espiritual seja regida pela lei do gosto e do desgosto, como fazem as crianças. Os deveres e bens acabma ficando questão de preferência e comodidade. É o infantilismo adulto que abafa a voz da consciência com outros ruídos.
"O discernimento é a mãe de todas as virtudes.", já dizia um texto da patrística. Miremo-nos no exemplo de Deus que é a ordem suprema.

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