Dom João
Carlos Petrini, Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família,
deu as boas-vindas as famílias presentes para o III Simpósio Nacional da Família
que acontece na Canção Nova, em Cachoeira Paulista. Em seguida, a abertura do
Simpósio foi feita por Dom Raymundo Damasceno, que em seu discurso, ressaltou que
a missão da família crista é de educar na fé da Igreja os filhos que Deus lhes
confiar. O tema do Simpósio – Educação e Transmissão da Fé aos Filhos – esta,
portanto, em profunda harmonia com o Ano da Fe que estamos vivendo e com o tema
da JMJ Rio 2013, que se aproxima.
Dom Raymundo
ressaltou que o maior fruto da fé, é em ultima analise, a santidade. Deu o
exemplo de Santa Teresinha, que, ao ver seu pai recolhido em oração, teve o
exemplo concreto da paternidade divina. A família assume, assim, a parte que
lhe cabe e toma a justa direção para que os filhos encontrem, pela fé, o
sentido de suas vidas. De fato, a família e lugar privilegiado para que o ser
humano atinja o plano de Deus em sua vida. E os pais são convocados por Jesus a
redescobrirem a alegria de crer e redobrar o entusiasmo de proclamar a fé.
Concluiu, animando a todos a se confiarem a Mãe Aparecida para bem
desempenharem este papel educador.
1º tema – O matrimônio e a família
segundo o desígnio de Deus (Dom João Carlo Petrini)
Disse João
Paulo II que quando se há muita confusão, como nos dias de hoje, é preciso
voltar as origens para reaprenderem o projeto de felicidade plena de Deus. A
família fundada por Deus por meio do matrimonio entre homem e mulher e o bem
mais decisivo para que a sociedade encontre a paz. O futuro da humanidade passa
pela família, disse o beato na Familiaris
Consortio. Sabemos que hoje, apesar da propaganda contraria, muitas pessoas
fazem uma experiência muito positiva da família. Em uma pesquisa recente,
encomendada por um jornal de grande circulação, 98% dos entrevistados
consideravam a família como a coisa mais importante de suas vidas.
Sabemos também que é preciso
redescobrir o fascínio pela beleza do matrimônio e da família. Um novo começo e
necessário porque muitos princípios até óbvios sobre a família parecem
ignorados pela cultura contemporânea, ou gravemente deformados. Propõe também o
documento de Aparecida que é preciso recomeçar a partir de Jesus Cristo.
Um primeiro
ponto que vale a pena refletir é que o ser humano não se faz a si mesmo, mas é
criado. Recebemos de graça a vida. Somos criados, queridos, amados. Pai e mãe
foram os colaboradores de uma vontade e de um amor infinitamente maior, que
veio do próprio Deus. Por isso, podemos dizer que cada ser humano é relação com
o mistério criador. Um bica de água só existe por há uma manancial muito maior
que não vemos. Entre eles existe um canal, uma comunicação. Assim também deve
ser nossa comunicação com Deus e é exatamente por daí que vem nossa dignidade
humana inviolável. Daí vem a afirmação de João Paulo II que a pessoa humana
jamais pode ser usada como um objeto.
A pessoa tem sua singularidade.
Cada um é especial, pois não somos apenas um individuo a mais de uma mesma
espécie. A pessoa é marcada por uma vida interior e também pela capacidade de
escolher, diferentemente dos animais que vivem por puro instinto, apenas
segundo sua natureza carnal. O ser humano tem a capacidade de crescer, de se
desenvolver, de fazer escolhas para atingir o melhor em sua vida.
No livro do Gênesis
lemos que Deus criou o homem a sua imagem e semelhança. Podemos concluir que
somos semelhantes a Deus pela inteligência e também pela capacidade de amar.
Mas João Paulo II também recorda que somo semelhantes a Deus porque, como ele,
somos chamados a viver na comunhão, vivendo em relação de amor uns com os
outros. Na comunhão encontramos a origem da nossa vida que é essa nascente,
essa fonte inesgotável da nossa vida terrena. A comunhão também é o nosso
destino, quando retornaremos a casa do Pai. Mas a comunhão também esta no meio
do caminho. Nos encontrando com os outros, construindo comunhão já aqui nesta
vida. E a comunhão esponsal é a primeira e mais importante que imita a comunhão
da Santíssima Trindade. Vemos assim a grandeza da família nos planos de Deus.
Deus não é solidão, mas família, disse o mesmo João Paulo II, Deus é Pai, é
Filho e é amor. Assim, a família não é algo estranho a Deus. A comunhão familiar
é chamada a ser um sinal visível da comunhão de Deus.
Uma outra
palavra do Gênesis nos lembra que Deus nos criou homem e mulher. João Paulo II,
no Mulieris Dignitatem, nos convoca a
reconhecermos a intenção do Criador na diferença sexual. E desígnio de Deus
para que os seres humanos, pela comunhão da diferença, inclusive em sua
constituição corpórea, sejam fecundos e participem o seu processo criador. O
ser humano existe para a relação com o outro que o complementa, até mesmo
fisicamente. Fomos feitos para a doação e para o vinculo amoroso, e a diferença
sexual é um meio privilegiado para isso. A dignidade e os direitos de homens e
mulheres são os mesmos, mas a beleza de cada um esta na diferença.
A família
permanece como o lugar em que as exigências humanas profundas (de amor,
aceitação, de felicidade, etc) são mais fortemente respondidas.
Como esta comunhão se torna
possível: da mesma forma que acontece na Trindade. Pelo dom total de si para o
outro. Assim também nos somos chamado a repetir esta atitude no dia-a-dia,
doando-nos uns aos outros.
Esta é a visão
cristã, que passa, até mesmo pelo sacrifício por amor ao outro. Isso aprendemos
olhando para Jesus. São Paulo, na carta aos Efésios, convida os maridos a
amarem suas esposas como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela. Mas essa
não é a mentalidade que prevalece no mundo, mas, ao contrario, sobressai o
egoísmo, mesmo com sacrifício de outros. Isto é exatamente o oposto do desígnio
de Deus para a nossa vida. Só o cumprimento da vontade de Deus e que vai nos
trazer a verdadeira felicidade.
O ser humano
vive num patamar muito mais elevado do que os animais. Buscamos o amor e a
verdade. Por isso, vemos novamente no Gênesis que Deus cria a mulher para
auxiliar o homem nesta busca pela comunhão. É a via para a realização humana.
O sacramento
do matrimonio torna presente a morte e a ressurreição de Jesus na vida conjugal,
não só na cerimônia em si, mas no dia-a-dia. O casal vive imerso na fonte de
amor que e o coração transpassado de Cristo. O casal cristão, pelo matrimonio,
participa do dom esponsal de Cristo, pois reflete o amor e a doação de Cristo
pela sua Igreja. O sacramento é o canal que permite que esta graça chegue ate
os nossos lares.
A imagem da
família como Igreja Domestica – que vem do quarto século, com São João Crisóstomo
– foi retomada no Concilio Vaticano II e também por João Paulo II e Bento XVI. É
um tema-chave para o futuro da evangelização. A família pequena igreja é
chamada a ser um sinal da grande Igreja a ser um sinal profético do Reino de
Deus. Na Igreja encontramos Jesus, rezamos, trocamos o abraço da paz,
partilhamos o pão... na família também não podemos viver e compreender estas
realidades admiráveis?!
E um último
ponto e a missão evangelizadora da família. Família Igreja Doméstica e
santuário chamada a acolher a vida nova e a vida na sua etapa final e,
portanto, chamada a tarefas grandiosas. E é chamada a abraçar sempre mais a
missão de Igreja. A família não pode só olhar para dentro, mas é convocada a
olhar para fora, para os outros que tanto precisam de amor. A família e chamada
a
- Preservar o amor verdadeiro, não a emoção momentânea, mas que quer
afirmar o bem da outra pessoa. A família precisa ser o lugar mais provável onde
se testemunha isso, sendo sinal para os outros que nunca encontraram um amor
verdadeiro e gratuito.
- Revelar o amor em meio à sociedade que parece estar se
desumanizando. Sendo um reflexo vivo da participação da comunhão divina já
neste mundo.
Chegou a hora
da família! Chegou a hora da família missionária! Disse João Paulo II. O amor
dos batizados casados não somente é abençoado por Deus, mas é por Ele assumido.
É sua representação real e concreta na Terra. Sua natureza eclesial torna Jesus
Cristo presente entre nós. Olhemos para a Sagrada Família de Nazaré, protótipo
da Igreja Doméstica. Ali estava o trabalho, a oração, a presença de Jesus. E é
para Ele que vivemos, Ele e a razão da nossa alegria. As nossas famílias devem
participar desta mesma alegria, este e o nosso chamado, enquanto família.
Participaremos, assim, da renovação deste mundo, retomando o desígnio de Deus.
2º tema – Família e Sociedade
(Marcelo e Ariane Dias)
Como as
ciências humanas de modo geral vêem a família hoje. O casamento que esta em
vigência, ainda que seja muito questionado, é o modo ainda hoje ordinário para
a convivência entre o homem a mulher e seus filhos. Levi Strassus diz que a
união mais ou menos durável entre o homem, a mulher e seus filhos é algo
presente em todas as culturas.
O casamento
civil, a família como esta constituída, essa instituição precisa ser
redefinida? Lembremos que na família não se transmite só a vida, mas também o
sentido da vida. E na família que a criança e acolhida e amada de modo
gratuito, onde se aprende a conviver com as diferenças, onde aprendemos a enfrentar
os primeiros desafios... cada acontecimento é oportunidade de aprendizado. É
espaço de solidariedade, cuidado e partilha. Nela também são treinadas as
atitudes que serão necessárias para a convivência social mais ampla. Não tem
relevância, portanto, só em si mesma, mas e fundamental para toda a sociedade.
E um bem para todos.
As diversas
atividades que se desenvolvem na família – nascer, crescer, gerar os filhos,
trabalhar, adoecer, morrer – podem acontecer também fora dela. Mas pense como
são muito melhores se forem vividas no ambiente familiar. A família, portanto, é
uma experiência fundamental.
Se tudo o que
a família faz fosse terceirizado, a sociedade entraria em colapso. Mas existem
condições necessárias a isso para que ela responda de forma satisfatória a
essas demandas da pessoa e da sociedade. Uma delas e a estabilidade. Numa família
estável os cônjuges assumem de maneira publica o cuido um pelo outro e pelos
filhos. O ambiente de estabilidade e o ideal para o pleno desenvolvimento de
uma criança e sua educação. Píer Paulo Donatti diz que a força dos vínculos
aumenta a equidade até dos bens na sociedade de uma forma geral, pois se vive
constantemente a divisão, a partilha. As pessoas aprendem a cooperar mais e a
se ajudarem nos desafios.
A família
também é uma rede de relacionamentos que define o rosto com que cada pessoa se
apresenta a sociedade. Uma pessoa cheia de problemas familiares vai repercutir na
forma como a pessoa se comporta em todos os seus outros ambiente sociais. Quem
vive bem na família leva alegria, amor, justiça e paz onde quer que estejam. Eu
sou minhas relações. Quanto melhores forem minhas relações familiares, melhor
serão todos os espaços onde nos relacionamos.
Na família eu
valho pelo que sou. No trabalho, valemos pelo nosso desempenho. Se falhamos,
perdemos nosso espaço. Na família valemos por tudo o que somos, e não por um
único aspecto ou talento.
A família é um grupo de pessoas
que se caracteriza pela plena reciprocidade e cooperação entre os sexos (eixo
horizontal) e as gerações. (eixo vertical).
Já a sociedade
pós-moderna acredita que na concepção que a realização da vida esta na busca do
bem estar pessoal, ainda que seja em detrimento da felicidade do outro.
No horizonte vemos quatro
mudanças que são grandes desafios para a família
1) Definição de liberdade – liberdade e
estar livre de qualquer amarra, especialmente os vínculos a outras pessoas,
para que assim eu possa me realizar pessoalmente. Nesta concepção a família é
um obstáculo para a felicidade.
2) 2) Ideologia de Gênero – é uma nova
filosofia da sexualidade. O gênero e uma escolha pessoal e não uma determinação
genética, biologia e psicologia, e menos ainda, um desígnio do Criador.
Libertar-se a sociedade que impõe parâmetros e fundamental.
3) Libertar-se dos elemento amor – sexualidade – procriação – esses elementos
unitivos no matrimonio são separados. A sexualidade é vivida como uma
brincadeira sem conseqüências... e muitos mecanismo são criados para manter
isso, como por exemplo, a contracepção. Por outro lado, o filho pode ser uma
encomenda, um produto de laboratório e não um dom de Deus, como nos casos de
reprodução artificial.
4) A base da família é a afetividade – o
sentimento é colocado como o único critério para unir as pessoas. Isso é um
perigo porque os afetos são frágeis e efêmeros. Jamais podemos aceitar uma família
baseada no afeto, pois será como a casa construída sobre a areia. O afeto e uma
dimensão subjetiva da família, mas não se podem esquecer suas dimensões
permanentes - conjugalidade, paternidade, maternidade, filiação, fraternidade. Apenas
com o afeto, não só a família, mas todas as relações sociais ficam
fragilizadas. E quanto mais frágil estiver a família, mas frágil ficara também
a sociedade.
Na sociedade
de hoje, muitos jovens não estão mais almejando a família como algo natural,
mas, cada vez mais se torna uma decisão. E essa decisão precisa ser cheia de
razão. Perceber que ela é uma vocação,
um chamado de Deus para a nossa felicidade. Dar razões para que as novas
gerações também escolham a família e a nossa missão.
No contexto em
que qualquer convivência quer tomar para si o titulo de família, precisamos
analisar bem qual tipo de relacionamento mais contribui para a pessoa e a
sociedade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário