sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Retiro Arquidiocesano (11-10-13)

MOTIVAÇÃO INICIAL DO RETIRO
(Dom Antonio Augusto Dias Duarte)
Vamos já começar nosso retiro sabendo porque estamos aqui: Deus nos chama e nós respondemos. Ele quer se encontrar conosco, quer que estejamos em sua presença. Talvez quiséramos ter estado aqui, nesta casa do Sumaré, de 23 a 28 de julho, quando o Papa comia no mesmo salão que nós, celebrava nesta capela... mas não estamos aqui para nos encontrarmos com o papa, mas sim com Deus.
Destaco uma frase do livro de Oséias: “Eu te atraí e te conduzi ao deserto, para falar ao teu coração.” (cf. Os 2,14). A imagem do deserto é muito interessante: aquela imensidão, com areia para todos os lados, sem estradas. O deserto nos faz perceber duas coisas: neste espaço que parece não ter fim, nos sentimos pequenos. Diante de toda a humanidade, Deus quer falar conosco. Outro pensamento, é que, no deserto, procuramos um oásis, um pouco de água. Para chegarmos a um destino, às vezes é necessário uma parada. Deus nos mostra que somos peregrinos para o nosso encontro definitivo com Deus.
Mas antes desse encontro último, do nosso destino final precisamos de muitos outros pequenos encontros. Podemos fazer orações, ir à Missa, mas alguns instantes depois estamos na nossa rotina normal. Mas num retiro não há distrações: nossa última preocupação é nos encontrarmos com Deus.
São Bernardo (séc. XIII), numa carta dirigida ao demais religiosos do seu convento, disse: “Quem deseja ouvir a voz de Deus que se retire pra a solidão. Esta voz não ecoa em meio aos barulhos das multidões. Uma voz secreta requer uma escuta secreta.”. Deus espera um momento como este: um oásis.
E continua: “Deus não conversa com as pessoas que permanecem fora de si mesmas.” Parece o mundo de hoje que nos chama nos puxa tanto para fora de nós mesmos. Podemos aproveitar este momento para desligarmos o celular, esquecer dos filhos: Deus está cuidando deles, afinal, foi Ele quem nos chamou aqui. Vamos nos encontrar, nos centrar em nós mesmos, ou perderemos a oportunidade para que Deus converse conosco.
E conclui São Bernardo: “O próprio Deus feito homem sentia uma atração forte pela solidão para viver plenamente seu amor filial com o pai e viver intensamente o modo como ia dar a salvação para a humanidade.” Necessitamos do silêncio interior principalmente e cuidar também do silêncio exterior.
Vamos aproveitar a oportunidade deste retiro. Pra escutarmos a Deus precisamos seguir quatro passos:
1- Uma leitura aberta e profunda da nossa vida, isto é, examinarmos a raiz das preocupações e do que Deus vai nos falando na nossa consciência. O que tem acontecido em nossas vidas que nos afasta de Deus ou nos torna surdos à sua voz. O que me fasta de Deus e o que me impede de ouvir a Deus.
2- Fazer meditação. Meditar é fazer uma operação da inteligência que se concentra para procurar as verdades escondidas. É um esforço para buscarmos as verdades escondidas. O papa na missa em que celebrou na catedral no sábado dia 27 de julho de 2013, falou uma verdade escondida: Chamados por Deus. É importante reavivar em nós esta realidade que, frequentemente, damos por descontada em meio a tantas atividades do dia a dia: “Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi”, diz-nos Jesus (Jo 15,16). Deus escolheu que eu vivesse, escolheu meu cônjuge. Este é um caminhar de novo até a fonte. E continua: “Vocês não podem ser uns desmemoriados. Perde-se a referência essencial da vida.”. Amanhã é dia de Nossa Senhora Aparecida, e no domingo o papa consagrará a Igreja a Nossa Senhora de Fátima. Peçamos a Nossa Senhora a graça de não sermos "desmemoriados". Se não corremos o risco de atribuirmos a nós mesmos o que é de Deus. Não roubemos para nós o que pertence a ele. A história da nossa vida é escrita a quatro mãos: as nossas e as dele. Maria tinha boa memória: guardava, meditava tudo no seu coração. Este é exemplo que Maria nos dá.
3- A oração é fundamental. Consiste em voltar com fervor o próprio coração para Deus a fim de evitar o mal e chegar ao bem. Pensamos as vezes só na petição... pedimos demais. Ele nos mandou pedir, é verdade. “Convém rezar sempre, sem desfalecer.” (cf. Lc 18,1). Mas a petição não pode atrofiar a oração como um todos. A oração nos ajuda a chegar aos bens devidos e evitar os males indevidos. O que Deus quer que eu abrace. Nossas meditações e palestras neste retiro, vão nos dar material para nossa oração.
4- A contemplação é o caminho para chegarmos a Deus. É colocar-se diante de Deus e saborear suas palavras e ações. Isso deveria ser comum em nossa vida: os casados devem contemplar-se mutuamente. Saborear a presença do outro, ter o prazer de estar junto. Uma pessoa contemplada é uma pessoa amada. Se esta deve ser um experiência profunda no casamento, quanto mais no nosso encontro com Deus. Ele também quer ser contemplado e amado, não porque ele é carente, mas porque Ele é o nosso tesouro. O que é o céu, afinal? É contemplar a Deus eternamente. São Cura D´Ars via todos os dias um camponês que ficava parado na Igreja. Ao ser perguntado o que fazia, o homem respondeu: “Eu olho para Deus e ele olha para mim.” Deve ser um exemplo para nós, que entramos na Igreja e conversamos com todo mundo, reparamos na roupa dos outros...
O papa disse: “Deus sempre surpreende, como o vinho novo, no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reserva o melhor. Mas pede que nos deixemos surpreender pelo seu amor, que acolhamos as suas surpresas. Confiemos em Deus! Longe d’Ele, o vinho da alegria, o vinho da esperança, se esgota. Se nos aproximamos d’Ele, se permanecemos com Ele, aquilo que parece água fria, aquilo que é dificuldade, aquilo que é pecado, se transforma em vinho novo de amizade com Ele.”.
Sabe por que as pessoas se derramam tanto para fora de si mesmas: porque procuram surpresas no mundo e não no Deus que criou o mundo. Não resistimos diante de um espelho, de uma vitrine, de uma janela... Aqui no retiro temos a chance de nos encontrarmos e contemplarmos a Deus. E devemos sair do retiro com um propósito: devemos fazer um retiro pelo menos uma vez ao ano para fortalecermos e renovarmos nossa vida espiritual. Preciso aproveitar este convite de Deus que me chama ao deserto para se encontrar comigo. Tenhamos presença: Deus me chamou, eis-me aqui. Não para fazer algum trabalho exterior, mas para termos apenas um trabalho exterior.
Que Nossa Senhora nos ajude a nos encontrarmos como ela todos os dias com o rosto de Deus em sua humanidade, que conversava com Jesus. Ela que foi contemplativa aos pés da cruz. Não falava nada: olhava para Jesus e Jesus olhava para ela.

Nenhum comentário: