terça-feira, 30 de agosto de 2011

Palestras XIII Congresso Nacional (5)


IDENTIDADE PESSOAL E FAMÍLIA

(Dra. Renate Jost de Moraes)



A partir dos resultados obtidos com a pesquisa da interioridade humana na Abordagem Direta do Inconsciente (ADI) e os valores intrínsecos do ser humano que aí aparecem, é possível remover e prevenir sofrimentos da família e da sociedade.
O mais sério sofrimento da humanidade é a desestruturação familiar, não só por falta de recursos materiais, mas principalmente emocionais, afetivos, relacionais e existenciais. Quantas crianças são geradas sem amor e por isso nunca aprendem o que é amar. São educadas sem segurança, sem limites, tornando-se vítimas fáceis para as drogas, da gravidez precoce, do aborto. Tornam-se adultos fracos, instáveis, tendem a naturalizar os problemas e perpetuam este ciclo vicioso de agressividade, angústia existencial e amoralidade.
A destruição das famílias monogâmicas é uma estratégia política para enfraquecer a sociedade e torná-la mais fácil de se dominar. Esta situação ainda é corroborada pela ciência, que neutraliza a verdade e que considera o homem como ser apenas físico (quando muito psíquico), sem referencial humanístico.
Mas existem movimentos contrários: a Pastoral Familiar é um deles e com ela todos os Movimentos Familiares e iniciativas como a Fazenda Esperança, etc.

ADI
A Abordagem Direta do Inconsciente olha os sintomas, mas procura pela terapia, com a pessoa em alto grau de relaxamento, revelar as raízes dos problemas formulados através de decisões de ser ou fazer: “Sou um problema, sou divido, não devo viver...”. A ADI resgata estas formulações e, por meio, de olhares positivos da situação, reformula estas proposições.
Descobriu-se com esta pesquisa que a fase da gestação é a mais importante da vida humana, pois é quando se estruturam não só o organismo, mas também o psiquismo, a vida relacional e amorosa. O que a criança mais quer no útero materno é a união dos pais e é nesta fase que programa registros positivos ou negativos. Como é importante os casais se acertarem, dialogarem sem discutir, nem brigar... A criança que tem pais que se amam, dificilmente vai dar problemas.
O nascimento reflete a gestação, e o próprio bebê é capaz de influir sobre o seu nascimento, enrolando o cordão umbilical no pescoço, prendendo-se pelos ombros, antecipando ou atrasando o parto ou mudando de posição para dificultar o parto. As pesquisas descobriram que o parto reflete no ser, no pensar e no agir, e que o médico pode falar à criança, para ajudar no parto.
Na fase da infância, a criança é altamente intuitiva, percebe naturalmente o inconsciente e percebe o que há por detrás das palavras e gestos. É capaz de identificar-se com o pai ou a mãe. Necessita continuar vendo seus pais se amando para aprender a amar e para manter-se equilibrada. Os problemas sociais ou escolares têm sua origem na família, especialmente na desunião dos pais.
A adolescência e a juventude, ao contrário do que muitos pensam, não são fases de problemas, mas de transformações. Adolescentes e jovens querem acertar sua vida e mudar o mundo, querem viver o amor autêntico. O sexo precoce e as drogas só aparecem em cena quando não se sabe amar a si e aos outros. Quando não se tem experiências de amor, a única saída possível parece ser fugir de si mesmo. Mas as crises existenciais só aumentam, pois nada disso satisfaz. O que mais precisamos é treinar, exercitar nossa capacidade de amar. Quantos perdem tempo no sexo frívolo, quando o sexo existe para ser complemento no amor legítimo, e não é base do relacionamento.
Na vida conjugal aparece muito a mulher identificada à sua mãe e o marido identificado ao seu pai. Há uma transferência de características e de problemas também, que são passados pelas gerações.
O resultado das pesquisas com mais de cem mil pacientes revela, que no momento da concepção, a criança se vê por inteiro e se enxerga no óvulo e no espermatozóide separados na hora exata da concepção. A pessoa se vê porque já existe numa luz. Os relatos revelam que a pessoa vem de uma luz de amor (alguns chegam a verbalizar que a luz é Deus). É um “eu” noológico, que existe fora do tempo, que habita na eternidade. Na concepção, a pessoa busca um modelo em seus ancestrais, assimilando características positivas ou negativas de sua família.
Desde esse momento, o “eu-pessoal” livre é capaz de decidir. O paciente que se cura neste tipo de terapia volta ao seu eu-original, resgata o bem e decide ficar bom, física e psiquicamente. Na interioridade humana, todas as realidades se encontram numa só verdade.

Aplicando os resultados da Pesquisa à Pratica
Dicas para um casamento realizador:
- abertura para a chegada de um filho;
- alinhamento nas decisões conjugais;
- evitar ou postergar a todo custo qualquer assunto que possa causar tensão na gestação
- cultivar gestos de carinho do casal entre si;
- abertura para qualquer que seja o sexo da criança;
- abertura para a intimidade social;
- falar bem do outro;
- querer o bem do outro;
- focar no positivo para esquecer o negativo;
- criar um ambiente acolhedor em casa;
- dialogar: o que eu faço que te desagrada?
- querer que dê certo, mais do que querer ter razão

Como orientar os filhos:
- dosar firmeza com amor;
- falar sobre a existência de sofismas;
- exercitar a escuta interior;
- ser coerente e ter bom senso;
- conduzir à humanização e à integração social;
- quebrar os desvios de comportamento;
- aproveitar o sono da criança para falar ao seu ouvido mensagens positivas;
- abrir-se à prática da espiritualidade.

Se todos os problemas do mundo fossem resumidos em um só seriam o “desamor”. Com a aprendizagem do amor cortaremos os males sociais pela raiz. Humanizar, harmonizar e socializar o mundo dos nossos filhos. O referencial do amor lhes dá segurança para optarem pelo que é melhor para eles e para o bem comum. Com pessoas mais equilibradas, equilibraremos as famílias e a sociedade. São coisas simples que fazem muita diferença em meio à escuridão do mal.
A solução para os problemas sociais não é criar mais prisões, nem clínicas para adolescentes grávidas, mas trabalhar a família e, mais especificamente, os problemas psicológicos dos casais. Vivenciar o amor é querer acertar.

domingo, 28 de agosto de 2011

Palestras XIII Congresso Nacional (4)


ECOLOGIA HUMANA
(Dom Petrini)


Introdução:
“A primeira ecologia a ser defendida é a ecologia humana”, disse Bento XVI pela abertura da Campanha da Fraternidade deste ano de 2011 e acrescentou que podemos incluir entre os “gemidos da criação” os que são provocados ao próprio homem, pelo egoísmo humano
A primeira destruição irracional do ambiente natural que é mais grave é a destruição do ser humano e a primeira estrutura em favor da ecologia humana é a família, disse João Paulo II na Centesimus Annus, pois é na família que, através do amor, da verdade e do bem, se aprende a ser pessoa. Isso só acontece em plenitude, diz o Papa, na família fundada sobre a rocha firme do matrimônio.
Não temos apenas que defender a terra, a água e o ar, mas, sobretudo, proteger o homem da destruição de si mesmo, diz Bento XVI na Caritas in Veritatem. Essa destruição não é só física, mas atinge ainda sua humanidade, aquilo que é lhe mais característico da sua condição humana: o problema decisivo é a solidez moral da sociedade em geral. Sem isso, de que adiantam as penalidades para empresas poluidoras ou incentivos fiscais para as empresas verdes?! Se não é respeitado o direito à morte natural, se se torna artificial a concepção e a gestação, se são sacrificados embriões nas pesquisas científicas de que adianta lutarmos por leis na ecologia do meio ambiente?!
O debate cultural que se trava faz com que a Igreja tenha que dar as razões e os signficados para revelar o significado da pessoa mesma, da convivência, da beleza do matrimônio e da família. É preciso voltar às origens: “A cada um nos toca recomeçar em Jesus Cristo.” (Novo Milenio Ineunte, 28). Não basta repetir as doutrinas, relembrar os papéis familiares... é preciso testemunhar essa beleza da vida em família, como fonte de plena realização do ser humano. É preciso gerar fascínio e atração das novas gerações para o matrimônio. Foi assim com a multidão que seguia Jesus...

Ecologia: uma casa para o homem
Ecologia vem do grego e significa o estudo da casa. É o estudo que se preocupa em garantir uma morada que bem acolha o ser humano, levando em conta todos os fatores contextuais.
Como estudo, interessou-se nas condições para garantir o equilíbrio da natureza física e animal, mas algumas mentes mais iluminadas estão mostrando sua preocupação com o futuro do ser humano e da sua convivência na sociedade.
O ser humano tem considerado sua autonomia, com escolhas determinadas por suas preferências subjetivas, alegando poder sobre a vida e sobre a morte, ignorando sua natureza de criatura. Trata-se de uma mentalidade, hoje, difusa, que começou formalmente com as ideologias marxistas. O homem tem a ilusão de poder criar-se a si mesmo pelo seu trabalho.
Um grupo de estudiosos ateus, de origem hebraica, nos anos de 193/40, formaram a Escola de Frankfurt. Dois deles Adorno e Dorkheimer, migraram para os EUA e foram críticos da razão como colocada no Iluminismo. Denunciaram a razão como sendo usada para o lucro de poucos e não para trazer o bem humano e o bem comum.
O debate ecológico é um dos debates da “razão instrumental”, que não hesitou em poluir, destruir, envenenar, destruir, dizimar, para obter lucros ingerentes e rápidos, sem preocupar-se com o que as futuras gerações iriam encontrar. Destruição que começa largamente junto com a revolução industrial. Demoramos 200 anos antes de compreender que é preciso impor limites a certos avanços tecnológicos. Já há legislações neste sentido, mas muito mais ainda que se avançar. Será que devemos levar outros duzentos anos para tratar também da ecologia humana?!
Os interesses econômicos que, às vezes, prevalecem sobre os valores da natureza também tem prevalecido sobre a genética humana. O primeiro passo para pensar uma ecologia humana é retornar ao desígnio de Deus sobre o matrimônio e a família. Diz a Gaudium et Spes (24) que o homem só se encontra no dom de sim ao outro. Vivemos numa cultura em que são valorizados os “gladiadores”, os “vampiros”, os “predadores” que estraçalham a vida dos outros para poderem viver. A quem temos ensinado nossos filhos a valorizar: o “predador” ou o bom samaritano?
Esta mentalidade hostil ao bem é pior do que a poluição das grandes cidades que atinge a todos os que lá moram. Os desvios morais vêm atingindo a todos e são absorvidos até pelas “boas famílias”... Mesmo sem querer acabamos participando disso. Por isso, é preciso ter como filtro o Evangelho. As famílias precisam ser bem formadas.

Fatores que desequilibram a ecologia humana:
Desde Adão e Eva, havia o tripé sobre o qual se apóia o matrimônio e a família: amor – sexualidade – procriação. E assim o foi até poucas décadas atrás. A sexualidade deveria expressar o amor e estar aberta à vida. Agora é encarado como “normal” o desvirtuamento de sexo sem amor, procriação sem sexo, procriação sem amor, sexo sem procriação... Os vínculos afetivos entre homem e mulher foram profundamente abalados e consequentemente o sentido da vida do próprio ser humano, da família e, em última análise, da sociedade. Esta mentalidade não concorre para o bem do ser humano. A cultura de massa especializou-se em oferecer a banalidade e a vulgaridade e daí decorre a violência.
O que caracteriza a família é a cooperação entre os sexos que gera a comunhão.




Quando falamos de ecologia humana nos referimos à teia de relações que favorecem o pleno desenvolvimento do ser humano. Isto inclui a família, toda a cultura, escola, lazer, etc... tudo que influencia a realização autêntica do ser humano.
“...a essência e os deveres da família são, em última análise, definidos pelo amor. Por isto é-lhe confiada a missão de guardar, revelar e comunicar o amor, qual reflexo vivo e participação real do amor de Deus pela humanidade e do amor de Cristo pela Igreja, sua esposa.” (Familiaris Consortio, 17)
Mostrar Jesus para que no seu exemplo os jovens e as famílias tenham um ponto de referência para saber a amar. “Gosto; quero para mim!” – é a mentalidade do mundo. Mas a mentalidade cristã é “Gosto, então quero entregar minha vida!”. Onde se aprende a viver o amor nesta qualidade superior?? A família cristã tem esta tarefa, de mostrar a beleza do amor verdadeiro, que corresponde mais à ecologia humana.

Pastoral Familiar Intensa e Vigorosa:
O que devemos então fazer na Pastoral Familiar?
Na dimensão eclesial:
- Criar grupos de vida fraterna de famílias, com momentos de conversa, partilha, espiritualidade, troca de experiências... Buscar especialmente as famílias afastadas, tendo uma postura missionária
- Presença transversal em outras pastorais
- Semana da Família
- Semana da Vida

Na dimensão social:
- Associação de famílias para ganhar visibilidade social
- Dia municipal da família
- Peregrinação Nacional das Famílias à Aparecida

Na dimensão formativa:
- Cursos do INAPF
- Escolas de Famílias
- Seminários, congressos
- subsídios

sábado, 27 de agosto de 2011

Palestras XIII Congresso Nacional (3)


FAMÍLIA, PESSOA E SOCIEDADE - 3

(Padre João Batista Libânio)

(www.jblibanio.com.br)
Que elementos teóricos iluminam a realidade familiar? É preciso ter uma abordagem dialética que olhe e afirme o que há de bom, e que olhe e negue o que há de mau. Nenhuma família, nenhuma realidade humana é totalmente positiva ou negativa.
Ao longo da história, vemos primeiramente a família patriarcal, que teve seus prós e contras. Ela vinha pronta da cultura, das experiências transmitidas de geração em geração. Esta família dava segurança, cada um sabia o seu papel. Por isso, as pessoas eram mais maduras.
Num segundo momento esta família tradicional foi bombardeada por quatro torpedos:


- Ciência: que pôs em crise os ensinamentos familiares (especialmente filosofia moderna, sociologia e psicologia)
- Subjetividade: “penso, logo existo.” (Descartes). A cultura decidia por nós e agora eu descubro que sou livre para decidir por mim mesmo.
- Autonomia: o ser humano acha que basta-se a si mesmo.
- Práxis: o pragmatismo, ativismo e utilitarismo de Carl Marx.

Hoje é preciso pensar na casa que construímos e não vem mais pronta como antigamente: e ela se constrói pelas relações. É preciso manter boas relações porque a família não vem mais pronta, ela vai se fazendo. Vamos trabalhar, então, os relacionamentos! Se a criança percebe que o pai e a mãe tem uma relação de amor e de ternura, e que com ele mesmo, o filho, uma dialética de carinho e limite, ele aprenderá a ter bons relacionamentos. Essa é a receita para a formação do caráter. Doçura e norma, disciplina.
Nossa sociedade fragmentada é um caleidoscópio. Forma imagens bonitas, mas são apenas cacos. É preciso juntar os pedaços. Olhar para a vida e juntá-la no grande contexto do plano da salvação. Nesta tarefa nos ajuda muito a Palavra de Deus.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Palestras XIII Congresso Nacional (2)


FAMÍLIA, PESSOA E SOCIEDADE - 2

(Padre Jorge Alves Filho)



O homem é imagem de Deus na sociedade e na família. Torna-se imagem e semelhança, não só por sua humanidade, mas também por sua comunhão: homem e mulher. É na diferença que o ser humano se encontra. Seu corpo é manifestação da sua identidade e do enriquecimento recíproco a que é chamado, pois foi criado no amor de Deus e deve expandir este amor.
A cultura em que vivemos é marcada por uma filosofia na qual os homens são indivíduos que buscam suprir suas próprias necessidades, e é vendida a idéia de que é preciso “se dar bem”, como se vivêssmos num universo autônomo. Cresce também a indiferença em nossa sociedade, e faz parte do processo de secularização. Como discípulos missionários, temos pela frente o desafio de ajudarmos o homem a viver nesta sociedade, evitando a secularização, o distanciamento do senso religioso, pois cremos que sem Deus (do qual somos imagem) jamais conseguiremos nos encontrar.
Não basta uma religiosidade somente intimista, mas é preciso resgatar a vivência em comunidade: é ela que nos aproxima do princípio da comunhão de pessoas, para a qual fomos criados e que nos define enquanto seres humanos.
É preciso amar profundamente a sociedade e o homem de hoje, para ajudá-los a se encontrarem. É preciso termos um olhar crítico sim, mas, antes de tudo, abertos para o que há de bom no novo. Valem os seguintes questionamentos:
- Será que a sociedade não tem nada de bom a oferecer à família?
- Não deveríamos nos abrir às boas coisas novas, sabendo “viver no mundo, sem sermos do mundo”?
- Temos dificuldades em entender os novos tempos?
- Será que só porque o homem pós-moderno não segue nossos padrões, isso quer dizer que ele também não esteja em busca da felicidade, da sua realização?
- Quais são os novos valores que está buscando?
- Sabemos diferenciar valores de simples tradições?
- Reconhecemos que nestas realidades é que estão se construindo os indivíduos?

Concluo com as palavras de João Paulo II:



“A família cristã é, portanto, chamada a fazer a experiência de uma comunhão nova e original, que confirma e aperfeiçoa a comunhão natural e humana. Na realidade, a graça de Jesus Cristo, «o Primogênito entre muitos irmãos», é por sua natureza e dinamismo interior uma «graça de fraternidade» como a chama Santo Tomás de Aquino. O Espírito Santo, que se infunde na celebração dos sacramentos, é a raiz viva e o alimento inexaurível da comunhão sobrenatural que estreita e vincula os crentes com Cristo, na unidade da Igreja de Deus. Uma revelação e atuação específica da comunhão eclesial é constituída pela família cristã que também, por isto, se pode e deve chamar «Igreja doméstica».” (Familiaris Consortio, 21)

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Palestras XIII Congresso Nacional (1)



Dentro da nossa proposta de trazer aos internautas a formação espiritual e pastoral do XIII Congresso Nacional de Pastoral Familiar (Belo HOrizonte, 19 a 21 de agosto de 2011), começamos com o tema "Família, pessoa e sociedade", exposto por três palestrantes diferentes. Vamos à primeira parte:




FAMÍLIA, PESSOA E SOCIEDADE
(Dra Maria Inês Mullen)




Cada pessoa é única. Mas ao mesmo tempo somos muito parecidos em nossos sonhos e desejos. Além disso, cada pessoa é também “muitas”.
Fomos criados por Deus e somos criados a irmos nos fazendo, nos conduzindo ao longo da nossa história e com as histórias dos outros. O outro é que me diz quem eu sou, criamos grupos de convivência por afinidade ou necessidade.
O grande questionamento é como definir o nosso rosto pessoal e comunitário? Experimentamos algumas dificuldades neste sentido:



1- Fragmentação da experiência do viver nestes tempos da pós-modernidade. É como se vivêssemos aos cacos. Esse é um grande desafio para pensarmos em termos de família;
2- Individualismo que nos remete ao abismo de nós mesmos;
3- Liquefação da vida, dos ideais e do tempo; vivemos as provisoriedades e as incertezas;
4- A perda dos ideais éticos pela negação dos fundamentos, dos princípios e dos valores, já que a modernidade rompeu com os valores;
5- Conformismo reducionista descomprometido com a vida e a história da sociedade;
6- Materialismo, vivemos um tempo materialista, que valoriza mais as coisas que as pessoas.


Este quadro é pessimista, mas não pode tirar nossa esperança de que, mesmo em meio às dificuldades, podemos reagir.

Família:
“Esse retrato de família está um tanto empoeirado... Ficaram traços de família perdido no jeito dos corpos... O retrato não me responde, ele me fita e me contempla nos meus olhos empoeirados... já não distingo os que se foram ou que ficaram e que viajam na minha carne...” (Carlos Drummond de Andrade)

A família não fica de fora dos desafios anteriormente citados. Para muitos ser que família seja coisa do passado, mas acreditamos que também é coisa do presente e do futuro, porque “viaja na nossa carne”, está latente em nós.
Um olhar honesto e corajoso, pode levar-nos a constatações muito importantes para pensar a Pastoral Familiar. A família assim como a pessoa e a sociedade encontra-se fragmentadas, liquefeitas, perdidas, conformadas, incertas.
Sabemos que a família brasileira é fruto de muitas culturas diferentes, para que tenhamos hoje vários modelos de família. Enquanto o modelo dominante, assegurado pelo Estado e pela Igreja, seja o modelo patriarcal, há vários outros dentro do jeitinho brasileiro>
Família ideal – casal monogâmico, institucionalizados, e seus filhos reais (ou pelo menos desejados).
O que nós sabemos, porém, é que muitas outras formas sempre existiram por questões sociais, culturais ou pessoais. Já outras são mais recentes. Desprezá-las significa uma incapacidade de discernir os sinais dos tempos. A partir daí temos outros modelos:
- Os casais não institucionalizados
- Família desestruturadas psicológica e socialmente
- Famílias poligâmicas
- Famílias de filhos adotivos
- Famílias ampliadas, com parentes e agregados morando todos na mesma casa
- Famílias em que faltam um dos pais, ou os dois, sendo os filhos criados por parentes
- Produções independentes
- Os jovens que vivem solitariamente ou com os pais, porque não querem se casar
- Famílias de recasados
- Famílias que não se encontram por motivos de trabalho
- Famílias das pessoas que vivem sozinhos
- Pessoas do mesmo sexo que coabitam
- Grupos que moram juntos (repúblicas estudantis, presídios, orfanatos)...
Como anunciar o Evangelho de Jesus Cristo às famílias contemporâneas. Desde o Gênesis vemos que a família faz parte do projeto salvífico de Deus. A solidão não é uma coisa boa. A união do casal é o começo de uma longa história que aponta para o íntimo do próprio Deus, que é família.
Com Jesus ouvimos a ampliação da Lei: “Eu, porém, vos digo...”. As relações familiares entram no novo esquema, do Reino do Amor, que vai muito além dos laços de sangue: “Aquele que faz a vontade de meu pai, este é minha mãe e meu irmão.”. Família é comunidade de pessoas que se amam, se respeitam e se sustentam.
O relacionamento amoroso entre os esposos, pais e filhos são caminho para amarmos todos os outros que encontrarmos em nosso caminho. Amor apesar de se substantivo abstrato, só vale se se realizar na concretude da vida. Amor é mandamento. Amor torna o outro precioso e único. É na família que somos convidados a aprender a cuidarmos uns dos outros. Essas experiências quando vividas autenticamente, constroem solidariedade. Esse é o desafio ao qual somos chamados.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

SEMANA NACIONAL DA FAMÍLIA NO RIO



A SEMANA NACIONAL DA FAMÍLIA na Arquidiocese do Rio de Janeiro no sábado, dia 13 de agosto, com as aberturas festivas nos sete vicariatos. Ao longo da semana houve intensa programação nas diversas paróquias para marcar este período e intensificar nossa fé e esperança na família, projeto de Deus. E, a cada noite, uma paróquia de um dos sete vicariatos recebeu a visita da imagem peregrina da Sagrada Família, -- Jesus, Maria e José -- e reuniu sua comunidade para a oração do terço pelas famílias


No sábado, dia 20, aconteceu o encerramento arquidiocesano com música, oração, testemunhos e a celebracão da Santa Missa. A imagem da Sagrada Família saiu em carreata da Paróquia Santo André, em São Cristóvão em direção ao Santuário Nacional de Adoração Perpétua de Sant'Ana, onde aconteceu a celebração. Foi um momento lindo de encontro das família com Deus.



A Comissão Arquidiocesana de Pastoral Familiar agradece a todos os que colaboraram para este momento tão significativo!

domingo, 21 de agosto de 2011

ENCERRAMENTO DO XIII CONGRESSO




No dia 21 de agosto, os trabalhos do XIII Congresso Nacional de Pastoral Familiar começaram com a Oração das Laudes presidida por Dom Petrini e acompanhada pelo coral arquidiocesano. Em seguida, Dom Severino Clausen, presidente da Comissão Episcopal para o Laicato, fez a primeira colocação do dia, falando sobre o tema do Congresso: “Somos cidadãos e membros da família de Deus.”. Ao final, a diocese de Araçuaí fez uma homenagem a Dom Severino que está deixando o comando desta diocese e indo para Santa Catarina.
A segunda atividade do dia foi um painel que começou com a apresentação de Carlos Berlini, da AIBi (Associação Amici dei Bambini – www.aibi.org.br) que falou sobre a Espiritualidade da Adoção e do Acolhimento. Apresentou alguns dados estatísticos: 200 milhões de crianças no mundo estão fora de suas famílias. No Brasil, são cerca de 80 mil. O abandono no mundo hoje é a quarta emergência mundial, ao lado da fome, da doença e da guerra, e o pior: este não mata fisicamente, mas vai corroendo a criança por dentro.
A exposição seguinte foi do casal coordenador do INAPF, João Bosco e Eunides, explicando seus cursos presenciais e à distância e a nova modalidade online. Maiores informações: www.eadseculo21.org.br.
Após o intervalo, Dom Petrini falou sobre o "Projeto Raquel", movimento que começou nos Estados Unidos, e que está começando a entrar no Brasil. O objetivo de acolher e preparar para o sacramento da Confissão, ajudando e orientando homens e mulheres envolvidos em casos de aborto. Haverá dois momentos de formação de agentes dentro desta metodologia específica com o passo-a-passo de acolhimento e reflexões, no mês de novembro, oferecidos nas cidades de São Paulo e Salvador. Maiores informações estarão em breve no site da Comissão Nacional de Pastoral Familiar: www.cnpf.org.br, onde também estará disponível o conteúdo de todas as palestras do Congresso, a partir da próxima semana.
A segunda parte do painel de experiências, contou com o casal Ayrton e Ana Lúcia Tenório, com o tema “Segunda União Estável”. Eles começaram lembrando o acolhimento, a misericórdia e a verdade do Bom Pastor, que vai atrás da ovelha desgarrada. Segundo estatísticas de CELAM de 1998 havia 50% de casais em segunda união no Brasil. O CERIS, centro de estatística da religião da CNBB mostrou, em 2004, que 87% dos casais em segunda união trocam de credo, o que torna tal situação uma urgência pastoral. A proposta da Igreja é para os casais em segunda união que vivem uma união séria, estável e que estão abertos ao acolhimento, à misericórdia e à verdade do Bom Pastor.
Um casal, do grupo “Famílias de Caná”, de Belo Horizonte, também apresentou sua experiência “A Família diante das Drogas”. O grupo promove encontros de final de semana para casais, para senhoras, e principalmente para jovens e adolescentes e para famílias de dependentes de drogas. Na atenção aos dependentes químicos, é feito um trabalho de prevenção nas escolas e é mantida uma comunidade masculina e outra feminina para tratamento dos que sofrem com as drogas. Há, ainda, grupos de terapia que se reúnem semanalmente para darem a continuidade ao tratamento. As estatísticas mostram que cerca de 84 milhões de brasileiros usam algum tipo de droga. É um dado mais do que alarmante para nossas famílias e nossa sociedade. Revelam ainda que a idade média de início do uso de drogas é de apenas 13 anos. E sabe-se que o envolvimento com as drogas tem muito a ver com a família. Não podemos generalizar, mas vê-se que a maioria de consumidores de drogas surge a partir de transtornos familiares. Existem muitos caminhos que podem ser conjugados para a prevenção, mas, sem dúvida, a base de todas é uma educação integral, especialmente nos relacionamentos, aliada ao bom exemplo dado pelos pais.
O encerramento foi feito pelo casal coordenador nacional, Raimundo e Vera, Padre Rafael Fornazier, novo assessor eclesiástico, e Dom Joaquim. Júlio e Marília e padre Edilson, do Leste II, responsáveis pelo Congresso, receberam as homenagens de agradecimento. Como de costume, a conclusão foi com a transmissão da Imagem peregrina da Sagrada Família para a sede do XIV Congresso Nacional da Pastoral Familiar de 2014, que terá como sede a Arquidiocese de São Luís do Maranhão (regional Nordeste V). Padre Jorge Alves Filho fez a leitura da “Carta de Belo Horizonte” com a mensagem final do Congresso e Dom Joaquim conduziu a oração final e a bênção de envio. As fotos estão na galeria do blog.
Apresentamos a seguir a “Carta de Belo Horizonte”, com os compromissos do Congresso. Use o seu conteúdo para divulgação e estudo em sua Paróquia.




13º Congresso Nacional de Pastoral Familiar
Dias 19, 20 e 21 de agosto de 2011
TEMA: Família, Pessoa e Sociedade
LEMA: “Somos cidadãos e membros da família de Deus” (cf. Ef 2,19)




CARTA DE BELO HORIZONTE





A Pastoral Familiar Nacional reuniu seus agentes no 13º Congresso Nacional da Pastoral Familiar nos dias 19, 20 e 21 de agosto de 2011, na cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais; realizou palestras, debates e painéis, com o tema “Família, Pessoa e Sociedade” e o lema “Somos cidadãos e membros da família de Deus” (cf. Ef 2,19), e sobre a proteção de Nossa Senhora da Piedade, padroeira do estado de Minas, se dispõe a continuar afirmando que a família é a primeira e fundamental célula da sociedade e a base para a ação missionária da Igreja.

A Pastoral Familiar reconhece sua missão como incentivadora de uma experiência familiar como desejo vivo de comunhão entre as pessoas, tendo como modelo a Comunhão Trinitária, para que os membros de cada família sejam iluminados pelo Espírito Santo em sua vivência de fé, fraternidade e caridade.

“A família é um espaço de convivência humana ao qual cada membro pertence. Ela constitui uma rede de relacionamentos que define o “rosto” com o qual cada um participa dos diversos ambientes que cotidianamente freqüenta e no qual encontra outras pessoas.” (Scolla, A. O Mistério Nupcial, Bauru, EDUSC, 2003)

A Pastoral Familiar se empenha, ainda, na busca do bem do homem, ajudando-o a redescobrir os valores implantados em seu coração por seu Criador.

É claro para a Pastoral Familiar que “se a família de Deus alimentada for pela Palavra, Eucaristia e Oração, com sabedoria viverá, então, nesta tal globalização, num lar cristão”. (Hino do 13º Congresso Nacional da Pastoral Familiar – composição de Mirani e Valéria)

Que cada pessoa se reconheça como membro da sua família, e participante da sociedade, ciente que todos “somos cidadãos e membros da família de Deus” (cf. Ef 2,19), e, por isso, cada um é co-responsável pelo bem do mundo, nossa casa.

Os congressistas, no intuito de serem fiéis à história do povo de Deus, desejam caminhar unidos como Pastoral Familiar, no empenho de suscitar grupos de vida fraterna, pois, como diz o Bem Aventurado João Paulo II: “A família é um dos tesouros mais importantes dos povos latino-americanos e caribenhos e é patrimônio da humanidade inteira.” (Apud, Documento de Aparecida, 432)

Pedimos, pois, à Nossa Senhora da Piedade que interceda por todas as famílias brasileiras para que nunca faltem em nossos lares a harmonia, o amor, a graça e a paz de Deus.




Belo Horizonte, 21 de agosto de 2011.

Padre Jorge Alves Filho
Assessor Eclesiástico da Pastoral Familiar da Arquidiocese de Belo Horizonte/ MG

Padre Rafael Fornazier
Assessor Nacional da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família e Secretário Executivo da Comissão Nacional de Pastoral Familiar