quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

FORMAÇÃO - Família, Escola de Valores (3)


3- O Amor é a Fonte de Todos os Valores

Definir o amor sempre foi algo difícil, mas todos nós sabemos o quanto o necessitamos, e que, sem ele, a vida perde o sentido. O AMOR não é precisamente um sentimento, mas um ato voluntário que é acompanhado por um sentimento. Ou seja, não é algo que aconteça por si só: somos nós que decidimos amar ou não. De fato, em praticamente todas as atitudes da nossa vida ele se encontra presente, seja porque o afirmamos ou o negamos.
Começo amando-me a mim mesmo para poder, depois, amar os demais: meu cônjuge, minha família, minha comunidade, meu país, o mundo inteiro. Mas é claro que existem diferentes classes de amor.
O amor aos pais, aos filhos, aos familiares, que começa pela proximidade e pelos laços genéticos que fazem crescer espontaneamente o afeto é um amor natural. Este é a razão de ser de uma família.
Outra forma de amor é a amizade, uma relação de afeto que se dá com aqueles que escolhemos manter uma relação baseada no afeto pela convivência cotidiana.
E, sem dúvida, há o amor que acontece entre o homem e a mulher, parte integrante da sexualidade. É um afeto que começa com uma atração, que evoluindo e amadurecendo, acaba por encontrar sua finalidade em fazer feliz a pessoa amada.
Infelizmente, com o estilo que vida que temos na atualidade, com as informações “deformadas” que recebemos diariamente pelos meios de comunicação e a velocidade com que vivemos a vida temos aprendido que o amor é algo banal, supérfluo, sexual, momentâneo, emocional, de impacto... A conseqüência disso são relacionamentos frustrantes, divórcio, rupturas familiares e carências de toda a ordem.
Se não formos egoístas, nem soberbos aprenderemos a amar verdadeiramente. Compreenderemos, assim, que muitos que causam danos aos demais é porque não sabem o que é o amor e, portanto, não são capazes de amar. O melhor remédio é o amor. Se formos capazes de dá-lo a todos, especialmente aos que mais necessitam dele, estaremos plantando sementes de um mundo melhor.
Sou capaz de amar quando:

- Ajudo os mais necessitados
- Desejo o bem dos outros
- Alegro-me com o êxito de alguém
- Escuto todos com atenção
- Procuro eliminar meus defeitos
- Sou capaz de sorrir até nas dificuldades

Mas não podemos deixar de falar em AMOR sem associá-lo ao próprio Deus. O amor verdadeiro vem de Deus e o ser humano só é capaz de amar justamente por foi criado à imagem e semelhança de Deus, que é amor. É o que nos lembra Bento XVI:
« Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele » (1 Jo 4, 16). ... Nós cremos no amor de Deus — deste modo pode o cristão exprimir a opção fundamental da sua vida. Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo. No seu Evangelho, João tinha expressado este acontecimento com as palavras seguintes: « Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único para que todo o que n'Ele crer (...) tenha a vida eterna » (3, 16). Com a centralidade do amor, a fé cristã acolheu o núcleo da fé de Israel e, ao mesmo tempo, deu a este núcleo uma nova profundidade e amplitude. O crente israelita, de fato, reza todos os dias com as palavras do Livro do Deuteronômio, nas quais sabe que está contido o centro da sua existência: « Escuta, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças » (6, 4-5). Jesus uniu — fazendo deles um único preceito — o mandamento do amor a Deus com o do amor ao próximo, contido no Livro do Levítico: « Amarás o teu próximo como a ti mesmo » (19, 18; cf. Mc 12, 29-31). Dado que Deus foi o primeiro a amar-nos (cf. 1 Jo 4, 10), agora o amor já não é apenas um « mandamento », mas é a resposta ao dom do amor com que Deus vem ao nosso encontro. (..)
Em primeiro lugar, recordemos o vasto campo semântico da palavra « amor »: fala-se de amor da pátria, amor à profissão, amor entre amigos, amor ao trabalho, amor entre pais e filhos, entre irmãos e familiares, amor ao próximo e amor a Deus. Em toda esta gama de significados, porém, o amor entre o homem e a mulher, no qual concorrem indivisivelmente corpo e alma e se abre ao ser humano uma promessa de felicidade que parece irresistível, sobressai como arquétipo de amor por excelência, de tal modo que, comparados com ele, à primeira vista todos os demais tipos de amor se ofuscam. Surge então a questão: todas estas formas de amor no fim de contas unificam-se sendo o amor, apesar de toda a diversidade das suas manifestações, em última instância um só, ou, ao contrário, utilizamos uma mesma palavra para indicar realidades totalmente diferentes?
Ao amor entre homem e mulher, que não nasce da inteligência e da vontade mas de certa forma impõe-se ao ser humano, a Grécia antiga deu o nome de eros. Diga-se desde já que o Antigo Testamento grego usa só duas vezes a palavra eros (paixão) , enquanto o Novo Testamento nunca a usa: das três palavras gregas relacionadas com o amor — eros, philia (amor de amizade) e ágape — os escritos neo-testamentários privilegiam a última, que, na linguagem grega, era quase posta de lado. Quanto ao amor de amizade (philia), este é retomado com um significado mais profundo no Evangelho de João para exprimir a relação entre Jesus e os seus discípulos. A marginalização da palavra eros, juntamente com a nova visão do amor que se exprime através da palavra agape, denota sem dúvida, na novidade do cristianismo, algo de essencial e próprio relativamente à compreensão do amor. (Deus Caritas Est, 1-3)

A família que queira viver o amor como fonte de todos os demais valores precisa perseverar na Comunhão íntima com Cristo, que foi quem nos revelou o amor do Pai. A vida sacramental, de oração e de caridade preparam nossa inteligência e vontade para sermos fiéis aos valores que o amor nos aponta a praticarmos. Este trecho de artigo de Padre Luiz Antônio Bento, da Comissão Nacional de Pastoral Familiar, é bastante esclarecedor:
“Educar para o amor é despertar para a resposta a Deus, sobretudo através do próximo. Educar para o amor requer conhecimento claro das dimensões e formas do amor humano. O amor altruísta (ágape) é o que mais se aproxima da novidade cristã. É a dimensão gratuita do amor, que nada espera em troca. O amor incondicional vivido e comunicado por Jesus Cristo. Ama-se pelo dom de amar e de sair de si ao encontro do outro. O amor verdadeiro é sempre um ato de reciprocidade, uma constante oblação, recepção, acolhida. Quem ama vai além da materialidade, passa a uma visão personalista, na qual o outro não é considerado um objeto. O puro “eros” é superado e permanece o amor como oferecimento de si. O amor ágape é o que existe no coração de Deus (cf. Jo 3,16), um amor incondicional, desinteressado. Já a espera de recompensa e de retorno do amor oferecido representa, talvez, aquilo que torna o ser humano menos livre para submeter o amor humano ao ágape de Deus.”

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