quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

FORMAÇÃO - Família, Escola de Valores (7)


7- O Valor da Vida
A principal questão que a família de hoje deve encarar na educação cristã dos seus filhos não é religiosa mas principalmente antropológica: o relativismo radical ético-filosófico, segundo o qual não existe uma verdade objetiva sobre o homem e, por conseguinte, tampouco sobre o matrimônio e sobre a família. A mesma diferença sexual, manifestada na biologia do homem e da mulher, não se fundamenta na natureza, mas é um simples produto cultural, que cada um pode mudar. Com isso se nega e destrói a mesma possibilidade do matrimônio e da família.
Diante desta realidade tão radical e condicionante, a família tem hoje a inevitável tarefa de transmitir aos seus filhos a verdade sobre o homem. Como já ocorreu nos primeiros séculos, hoje é de capital importância conhecer e compreender a primeira página do Gênesis: existe um Deus pessoal e bom, que criou o homem e a mulher com igual dignidade, mas diferentes e complementares entre si, e deu-lhes a missão de gerar filhos, mediante a união indissolúvel de ambos em una caro, ou seja uma só carne (matrimônio). Os textos narram a criação do homem, evidenciando que o casal homem-mulher são – segundo o desígnio de Deus – a primeira expressão da comunhão de pessoas, pois Eva é criada semelhante a Adão como aquela que, em sua alteridade, o completa (cf. Gn 2, 18) para formar com ele uma só carne (cf. Gn 2, 24). Ao mesmo tempo, ambos têm a missão procriadora que os faz colaboradores do Criador (cf. Gn 1, 28).
São Paulo descreveu tudo isso com traços muito vigorosos em sua carta aos Romanos, ao escrever a situação do paganismo da sua época e a desordem moral em que havia caído por não querer reconhecer com a vida o Deus que havia conhecido com a razão (cf. Rm 1, 18-32). Esta página do Novo Testamento deve ser bem conhecida hoje pela família, para não edificar sua ação educadora sobre areia movediça. O desconhecimento de Deus leva também ao ofuscamento da verdade sobre o homem.
Os Padres da Igreja oferecem doutrina abundante e são um bom exemplo no modo de proceder, pois tiveram que explicar detalhadamente a existência de um Deus Criador e Providente, que criou o mundo, o homem e o matrimônio, como realidades boas; e combater as desordens morais do paganismo que causavam dano ao matrimônio e à família.
A Igreja vê no homem, em cada homem, a imagem viva de Deus mesmo; imagem que encontra – e está chamada a descobrir cada vez mais profundamente – sua plena razão de ser no mistério de Cristo. Cristo nos revela a Deus em sua verdade; mas, às vezes, manifesta também o homem aos homens. Este homem recebeu de Deus uma incomparável e inalienável dignidade, pois foi criado à sua imagem e semelhança e destinado a ser filho adotivo. Cristo, com sua encarnação uniu-se, de alguma maneira, com todo homem.
Por ter sido feito à imagem de Deus, o ser humano tem a dignidade de pessoa: não é só alguma coisa, mas alguém. É capaz de conhecer-se, de dar-se livremente e de entrar em comunhão com outras pessoas. Esta relação com Deus pode ser ignorada, esquecida ou removida, mas jamais pode ser eliminada, porque a pessoa humana é um ser pessoal criado por Deus para relacionar-se e viver com Ele.
A dignidade da pessoa humana – de toda pessoa humana – não depende de nenhuma instância humana, mas de seu mesmo ser, criado à imagem e semelhança de Deus. Ninguém, portanto, pode maltratar essa dignidade sem cometer uma gravíssima violação da ordem querida pelo Criador. Portanto, uma sociedade justa só pode realizar-se no respeito da dignidade transcendente da pessoa humana.
Os não-nascidos são também pessoas desde o mesmo momento da sua concepção; e sua vida não pode ser destruída pelo aborto ou pela experimentação científica. Destruir a vida de um não-nascido, que é completamente inocente, é um ato de suprema violência e de gravíssima responsabilidade diante de Deus.
Uma corajosa mudança de mentalidade passa, sem dúvida, pela família. Primeiramente porque a família é o lugar onde aprendermos (ou não) a amar. Nas palavras de João Paulo II, a família foi criada por Deus para ser uma escola de amor. Em segundo lugar, porque essa escola de amor é que nos fornece as habilidades humanas e sociais que são necessárias para nos relacionarmos com os outros. E, finalmente, porque a família tem o potencial de transcender obstáculos políticos, especialmente no que diz respeito à proteger a vida humana.
Ao contrário do que se pensa e diz nos âmbitos seculares, um dos aspectos mais interessantes da Igreja Católica é seu entendimento tão profundo do físico: não nos dá medo nem vergonha falar sobre a sexualidade humana.
Para entender o valor da vida humana não se deve evadir o tema da sexualidade. A Igreja deve aproveitar seu profundo conhecimento sobre a corporeidade humana para falar e manifestar sua posição sobre o tema. A corporeidade está arraigada até mesmo na vida religiosa cotidiana dos fiéis: tocamos relíquias, beijamos imagens, nos damos as mãos, seguramos rosários... O corpo de Cristo não está totalmente formado; nós é que temos que formá-lo e devemos começar com o que temos.
A ética nos ensina que temos que respeitar o corpo, não com um determinismo biológico, mas simplesmente não podemos contradizer violentamente o corpo humano. O exercício e a experiência da própria sexualidade não estão limitados ao âmbito físico, mas encontram sua razão e propósito divino através da vida espiritual e da fé. Vivemos um tempo de cultura de morte, que ganha forças, principalmente, por questões econômicas. Mas mesmo muitos não-católicos têm reconhecido na Igreja um ponto de profunda verdade na defesa apaixona de toda a vida humana, desde a primeira célula até o último suspiro.
A família pode ser a salvação para gerarmos uma cultura de vida. Deus decidiu trazer vida nova ao mundo por meio de um ato de amor. A forte cultura para desinstitucionalizar o matrimônio prega que este é um modelo de vida “fora de moda”, que prejudica o exercício da liberdade humana. Ora, o fato de o casamento ser um compromisso duradouro tem, até mesmo, uma raiz biológica, visto que o ser humano é, dentre todos os mamíferos e dentre todos os animais, o que mais leva tempo para amadurecer.
Mas nós sabemos que a família é o lugar onde aprendemos a amar, a partilhar, a nos sacrificar pelo outro, a respeitar as diferenças entre os sexos, a exercermos diversos papéis (de pai, filho, irmão...). É na família onde ganhamos as habilidades necessárias para enfrentar a vida, onde leis e costumes da sociedade podem ser transcendidos... Uma instituição assim pode ser substituída por outras formas de associação?

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