segunda-feira, 25 de junho de 2012

RETIRO DA PASTORAL FAMILIAR (2)

Continuamos trazendo aos nosso amigos internautas, nossa família virtual, os temas desenvolvidos no Retiro Anual da Pastoral Familiar, realizado neste domingo, dia 24 de junho, em que a Igreja celebrou a Natividade de São João Batista. Nada poderia ser mais "familiar", não é?! Carinho de Deus para esta data. Aproveitamos também para colocar as fotos do retiro na nossa galeria no final do blog. Confira os momentos marcantes e continue conectado ao longo desta semana para ficar por dentro das palestras e meditações maestralmente desenvolvidas por nosso bispo animador, Dom Antonio Augusto Dias Duarte.


1ª palestra
Histórico do Concilio Vaticano II

A Porta Fidei, 4, explicita: “À luz de tudo isto, decidi proclamar um Ano da Fé. Este terá início a 11 de Outubro de 2012, no cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II, e terminará na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, a 24 de Novembro de 2013. Na referida data de 11 de Outubro de 2012, completar-se-ão também vinte anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica, texto promulgado pelo meu Predecessor, o Beato Papa João Paulo II, com o objetivo de ilustrar a todos os fiéis a força e a beleza da fé. Esta obra, verdadeiro fruto do Concílio Vaticano II, foi desejada pelo Sínodo Extraordinário dos Bispos de 1985 como instrumento ao serviço da catequese e foi realizado com a colaboração de todo o episcopado da Igreja Católica. E uma Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos foi convocada por mim, precisamente para o mês de Outubro de 2012, tendo por tema A nova evangelização para a transmissão da fé cristã. Será uma ocasião propícia para introduzir o complexo eclesial inteiro num tempo de particular reflexão e redescoberta da fé. Não é a primeira vez que a Igreja é chamada a celebrar um Ano da Fé.
O meu venerado Predecessor, o Servo de Deus Paulo VI, proclamou um ano semelhante, em 1967, para comemorar o martírio dos apóstolos Pedro e Paulo no décimo nono centenário do seu supremo testemunho. Idealizou-o como um momento solene, para que houvesse, em toda a Igreja, «uma autêntica e sincera profissão da mesma fé»; quis ainda que esta fosse confirmada de maneira «individual e coletiva, livre e consciente, interior e exterior, humilde e franca». Pensava que a Igreja poderia assim retomar «exata consciência da sua fé para a reavivar, purificar, confirmar, confessar». As grandes convulsões, que se verificaram naquele Ano, tornaram ainda mais evidente a necessidade duma tal celebração. Esta terminou com a Profissão de Fé do Povo de Deus, para atestar como os conteúdos essenciais, que há séculos constituem o patrimônio de todos os crentes, necessitam de ser confirmados, compreendidos e aprofundados de maneira sempre nova para se dar testemunho coerente deles em condições históricas diversas das do passado.”
Vamos nos situar no porquê deste Ano da Fé: comemora os 50 anos da abertura do Concílio Vaticano II (CVII) e os 20 anos da primeira edição do Catecismo.Muitos católicos conhecem muito do que acontece no mundo, mas pouco do que acontece na Igreja Católica. O papa falou de dois grandes tesouros. Ao falar do Catecismo da Igreja Católica, de onde vem a força e a beleza da fé, lembramos de como é importante conhecermos a fé. E o Papa ainda diz que o CVII foi a maior graça da Igreja no século XX, bússola para o início do século XXI. Uma pena que muitos ainda pensem que os frutos do CVII sejam apenas para grandes especialistas, como teólogos ou bispos e o povo ficaria sem acesso a eles. Mas não nos esqueçamos que a Igreja é o povo de Deus!
Tantas coisas que vemos hoje em dia vêm do CVII. Por exemplo, o protagonismo do leigo na Igreja, o diálogo da Igreja com determinados temas da modernidade... não que estas coisas não existissem antes... mas foram muito mais evidenciadas e estimuladas depois do CVII. Da mesma forma, o estudo do Catecismo, que também é para todos. Muitos lêem certos “Best Sellers” espirituais e cada um tem seu “gosto” de leitura, mas nada deveria passar a frente na nossa prioridade de leitura quanto o Catecismo. Estas são prioridades no ano da fé: estudar individualmente ou em grupo, o Catecismo e os documentos do CVII. A própria Pastoral Familiar foi inspirada no n. 50 da Gaudium et Spes para ser mais tarde organizada por João Paulo II na Familiaris Consortio, de 1981.
Para entendermos o CVII precisamos voltar ao século XVIII. Só por ele, poderemos entender os séculos XIX e XX. Todas as grandes mudanças começaram por ocasião da Revolução Francesa. Até então, a Igreja tinha como grande protagonista absoluto o Papa. Suas posições marcaram as linhas principais de atuação da Igreja no mundo. Não foram séculos “papistas”, mas as decisões dos papas nestes três séculos marcaram profundamente a história da Igreja e do mundo. Nós fomos testemunhas, por exemplo, da ação e da influência de João Paulo II e de como ele influenciou na história da Igreja e do Mundo. Vemos hoje como a imagem do Papa é atacada. Não precisamos ser “papistas”, mas precisamos ser bons filhos do nosso papai.
A Revolução Francesa é fundamental para entendermos o mundo de hoje porque foi essencialmente anti-Igreja. Ela tinha causas justíssimas ao defender causas humanitárias e se contrapor a um sistema político-econômico-social injusto, mas, agregadas a esta causa, alguns se aproveitaram das reivindicações boas para introduzir o mal. E daí, veio um grande movimento anti-católico que começou a progressiva descristianização da sociedade. E nós estamos vivendo o auge desse laicismo: “O Estado é laico.”; “Não podemos favorecer uma religião.”, “A Igreja não deveria se pronunciar sobre esta questão.”... Isto não vem de agora! Quem diz que a cultura moderna é laicista, não conhece a história, pois isto já vem desde a Revolução Francesa...
A descristianização da sociedade criou o laicismo, uma corrente de pensamento que não reconhece o direito do indivíduo e expressar-se segundo a sua fé. Era preciso, desde aquela época, acabar com a Igreja porque a Igreja era a custodia, intérprete e transmissora da Verdade. E há correntes que não suportam essa idéia, de uma Verdade absoluta que seja diferente das suas vontades e interesses. Infelizmente desde o século XVIII, por causa desta ação anti-fé, os papas tem tido que lutar contra o positivismo, o marxismo, o materialismo, o relativismo, numa sociedade em que as idéias têm mais força que a Verdade. Cada papa, com suas características pessoais, procurou em sua época delinear as atitude de fé dos cristãos do seu tempo.
Um primeiro ato de grande vulto, foi quando Pio IX, então, convocou o Concílio Vaticano I, para contribuir para uma renovação da sociedade Cristã que começava a se descristianizar. Em 1854, o Papa decreta, por exemplo, a Imaculada Conceição. Dez anos mais tarde, publica também a Encíclica “Quanta Cura”, ou seja, “Quanto cuidado” em que procura esclarecer o verdadeiro conceito de liberdade, erradamente entendido enquanto autonomia total e plena. Vemos que até hoje este erro teima e persiste: o homem acha que é livre de Deus. Aproveitou também para exortar contra o indiferentismo religioso que é pior que o ateísmo confesso. E o indiferentismo leva à perda do sentido do sagrado e daí, a perda do valor e da sacralidade da vida humana. Vemos isso na disseminação da mentalidade abortista, por exemplo. O que vemos hoje, não começou a ser gerado hoje... há toda uma história por trás.
Em 1869, inaugura-se o CVI para que a Igreja se posicione diante das mudanças bruscas na sociedade. O seu primeiro Documento foi o “Dei Filius”, que falava como nós, filhos de Deus, devemos dialogar com o mundo com a razão e a fé, as duas grandes asas que nos levam a Deus. Era uma época em que alguns cientistas ousavam dizer: “Chegamos ao cume do progresso humano.”. Ora, na época da máquina a vapor, do telégrafo... ora, ora... Fé e razão ajudam as pessoas a chegarem ao conhecimento da Verdade. O segundo documento foi sobre a autoridade papal. E este Concílio foi bruscamente interrompido pela guerra entre França e Rússia, que impediu a chegada de muitos bispos e a independência da Itália. Mas foi interrompido com a intenção de continuar... apesar de ter demorado quase 100 anos.
Um papa que foi eleito com 78 anos de idade e sucedeu Pio XII, que havia governado por 19 anos, João XXIII, que ia anunciar um Sínodo, convocou também um Concílio para continuar o que havia sido interrompido. Por isso, se chamou Concílio Vaticano II. O CVII foi instrumento de Deus para acelerar os passos que a Igreja já vinha dando. Muitos o interpretaram mal, dizendo que veio mudar e romper com tudo o que a Igreja fazia... isto é um equívoco. O CVII só continuou um movimento que já estava iniciado há muito tempo. A Igreja sempre havia dialogado, desde as suas origens, com o mundo pagão. O CVII foi, sim, um grande passo em direção a questões muito urgentes: a unidade dos cristãos em um mundo de pluralidade religiosa, o diálogo com os grandes progressos tecnológicos da sociedade e como isso afeta a vida das pessoas, a importância da educação na vida dos povos (inclusive a educação para os valores e a fé), a atuação apostólica dos leigos e sua força evangelizadora, que são os principais responsáveis pela evangelização dos cristãos no mundo. Também é preciso termos "cabeças" intelectualmente preparadas para responder aos questionamentos que são colocados pela sociedade. Logo, é necessário nos formarmos sobre os documentos da Igreja, começando pelos documentos do Concílio Vaticano II.
Uma palavra-chave utilizada pelo Papa foi a necessidade de por a Igreja na atualidade (aggiornamento) cristianizando o mundo e não secularizando a Igreja. Não se trata de colocar-se no mesmo nível do mundo, mas elevar o mundo, colocar diante do mundo valores mais elevados. O CVII não poderia ter sido convocado antes? Por várias razões sociais e eclesiais só foi convocado 90 anos depois, no tempo de Deus. Não porque a Igreja seja lenta, mas sim prudente, como toda mãe. É segurança e certeza, depois de muito estudar e avaliar. E os frutos do CVII, depois de 50 anos do seu início, ainda estão só começando. É uma boa oportunidade para estudarmos e aplicarmos o conteúdo e as orientações do CVII.

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