domingo, 24 de junho de 2012

RETIRO DA PASTORAL FAMILIAR

O Centro de Estudos do Sumaré reuniu mais de 120 pessoas para o retiro anual promovido pela Pastoral Familiar, conduzido pelo seu bispo animador, Dom Antonio Augusto. O tema deste ano foi "A Fé", baseado na Carta Apostólica Porta Fidei. Ao longo desta semana, traremos suas profundas reflexões. Acompanhe nosso blog!
1ª meditação
TESTEMUNHAR A FÉ
Porta Fidei é a Carta do Papa para anunciar que, de outubro de 2012 a novembro de 2013, viveremos na Igreja o ano da fé. O papa nos chama a atenção para este tesouro: que a porta da fé está sempre aberta para nós. É através dela que entramos em comunhão com Deus e participamos desta linda família que são nossos irmãos. Abrir esta porta é embrenhar-se num caminho que dura a vida inteira. Este caminho começa no Batismo, que nos torna filhos de Deus. Não somos simples “habitantes da terra”, mas temos este dom inigualável: Deus nos deu a vida para sermos seus filhos. Daí a importância de se batizar os filhos o quanto antes, para começarmos o mais breve possível este caminhar que só terminará quando chegarmos à nossa verdadeira casa, à casa do nosso Pai.
Aproveitemos este tempo para crescermos na fé. Temos, muitas vezes, a fé como algo segurado, garantido. Isto é um perigo. O parágrafo 2 do documento que diz: “Sucede não poucas vezes que os cristãos sintam maior preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé, considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida diária. Ora um tal pressuposto não só deixou de existir, mas frequentemente acaba até negado.Enquanto, no passado, era possível reconhecer um tecido cultural unitário, amplamente compartilhado no seu apelo aos conteúdos da fé e aos valores por ela inspirados, hoje parece que já não é assim em grandes sectores da sociedade devido a uma profunda crise de fé que atingiu muitas pessoas.”. É um ponto importante de reflexão: pensamos nas conseqüências da fé, mas não na fé em si e o que ela significa para mim. Se eu creio em Deus, eu rezo... mas rezar é a conseqüência. E a fé em si? Vemos uma crise de fé que é profunda e que atinge muitas pessoas. Será que estas crises também não atingem de forma concreta?! Seja pelo desanimo, desespero, angustia, ansiedade, vontade de deixar de lado o que um dia começamos, deixarmo-nos influenciar por novas idéias deixando de lado o que a Igreja nos ensina... são crises de fé. Como vai a minha fé? A nossa fé é sadia e vai bem se eu sei testemunhá-la, mostrá-la em todos os momentos e aspectos da minha vida.
A renovação da fé é fundamental. “A renovação da Igreja realiza-se também através do testemunho prestado pela vida dos crentes: de fato, os cristãos são chamados a fazer brilhar, com a sua própria vida no mundo, a Palavra de verdade que o Senhor Jesus nos deixou.” (Porta Fidei, 6) Uma das formas de crescer na fé (além da oração, dos sacramentos...) é o testemunho. Testemunhar a fé faz a nossa própria fé crescer e também ajuda a embeber Deus no mundo.
Há cerca de 100 anos um filósofo Nietzsche: “Procuro a Deus, mas para onde foi Deus? Deus morreu! Nós o matamos. Nós o matamos. Teve um sangramento enorme, graças as nossas facas.” Após esta afirmação, o personagem do seu livro reflete: ‘Eu acho que fui demasiado rápido em dar esta notícia. Isto ainda não chegou aos ouvidos deste homem.”. Isto tudo foi influenciado e influenciou o nazismo e também nos influencia até hoje. Deus não saiu da sociedade, a sociedade o matou pela indiferença. Deus está aí, mas perdeu o valor.
Como é difícil explicar para uma criança que Deus é Pai. A criança não sabe o que é um pai de verdade, porque muitos homens não exercem sua paternidade que deveria ser um reflexo da paternidade divina. Não sabem o que é a fé, porque não vêem a fé testemunhada em sua casa. Como explicar a uma criança hoje que Deus é bom, que ele nunca abandona, que a Missa é o Filho que se abandona nas mãos do Pai por amor a Ele e a todos nós. Como explicar a uma criança que é preciso agradecer, se acultura ensina a reivindicarmos nosso direitos?! Vivemos num mundo onde a linguagem da fé não atinge mais as pessoas. Por isso nos questionamos: como transmitir a fé num ambiente onde “Deus está morto”? Como é possível ser cristão e testemunhar a fé no mundo de hoje?
A fé é este caminhar que começa no batismo, mas pode ficar enfraquecida, porque o mundo não favorece, e até dificulta, a vivência da fé. O papa, então, pede que para testemunharmos a fé no mundo de hoje, precisamos, em primeiro lugar conhecer o mundo, jamais condená-lo. Não será possível transmitir a fé se uma boa compreensão do mundo como está hoje. Para tal, precisamos começar conhecendo o coração humano, a começar pelo nosso. Pois é no coração humano onde se levantam os altares. Sobre este altar há uma divindade. Se a fé está bem formada em nós, lá está Deus. Mas se a fé não está madura em nós, colocaremos no altar do coração outros “deuses”: o dinheiro, o poder, o consumismo, o êxito, a vitória, a beleza, os sentimentos vãos... “Paulo, em pé no meio do Areópago, disse: Homens de Atenas, em tudo vos vejo muitíssimo religiosos. Percorrendo a cidade e considerando os monumentos do vosso culto, encontrei também um altar com esta inscrição: A um Deus desconhecido. O que adorais sem o conhecer, eu vo-lo anuncio!”(At 17, 22-23) Viver a fé exige de nós conhecer o Deus que está dentro do altar do nosso coração. Podemos fazer isto em momentos de reflexão até no nosso dia-a-dia. Se não colocamos Deus no altar no nosso coração podemos acabar não acreditando em nada, ou, pior que isso, podemos correr o ristco de acreditar em qualquer coisa!
Cada um de nós, e não apenas o Papa, o bispo, o padre, é um bom pastor, porque tem ovelhas a zelar. Precisamos zelar por nossa fé e a fé dos outros: dos familiares, dos amigos, da pastoral. Somos ao mesmo tempo ovelhas, mas também pastores, mas para desempenharmos bem esta função precisamos estar com a fé bem arraigadas na vida. E testemunhar a fé, uma fé inabalável e amadurecida é uma forma de fazer a fé crescer em nós e nos outros à nossa volta. Não precisamos temer a cultura, a ciência, as tendências, as novas filosofias, mas temos que nos manter firmes em nossa responsabilidade de “bons pastores”. Uma grande crise de fé, é ter vergonha e timidez em testemunhar a fé. Deus está nos dando um grande presente que é esta mudança de época. Saímos de um tempo em que todos, mais por tradição que por convicção, testemunhavam publicamente a fé, para um tempo em que o mundo não aceita Deus, mas busca respostas em tantas outros “pacotes de idéias”.
Romano Guardini, pensador muito apreciado pelo Papa Bento XVI, fala sobre a perda dos valores verdadeiros e a popularidade dos ídolos: “É preciso dizer um grande sim a este mundo, no qual Deus nos pediu para viver, porque é exatamente do que Deus precisa, do nosso testemunho. É deus quem esta atuando nos momentos de mudança deste mundo. Devemos escutá-lo, deixar-nos moldar por ele; viver o presente para preparar o futuro.”. O documento da Rio+20 teve como título: “Que futuro Queremos?”. É um bom paralelo, pois não queremos voltar para o passado, este é um anseio da humanidade. Uma boa forma de testemunhar a fé é falar menos de Deus e mostrar mais Deus em nós. Santo Antonio, no século XIII falava: “A pregação é desnecessária, quando o exemplo é gritante.”. Temos que “ser” pessoas de fé e não simplesmente “parecer” pessoas de fé. Uma teoria da comunicação afirma que 80% da comunicação acontece de forma não-verbal. Transmitimos mais pelo que vivemos que pelo que falamos. Reclamamos: “meus filhos não me ouvem mais...”, “Meu marido não me entende...”. Precisamos falar menos e mostrar mais! Filipe falou de Jesus para Natanael que ficou desconfiado. Ao que o discípulo disse: “Vinde ver!”. Que bonito o pedido de dois pagãos também para Filipe: “Queremos ver Jesus!”.
As pessoas querem e precisam ver Jesus em nós, muito mais do que ouvir falar sobre os seus ensinamentos. Testemunhamos nossa fé por tudo o que nós somos. Pelo nosso gesto, olhar, pela forma de falar. A fé chega não tanto pelo raciocínio, mas pelo exemplo de cada um de nós. Claro que depois a fé precisa ser aprofundada, mas a rede de pescadores é a nossa forma de nos relacionarmos com as pessoas. Se queremos tocar o coração das pessoas precisamos, primeiro, colocar Deus no altar do nosso coração, pois a fé parte de dentro para fora. Nossa filiação divina nos torna mais humanos e é capaz de humanizar nossos relacionamentos. Se queremos ser divinos, precisamos ser extremamente humanos, no sentido pleno da palavra, revelando a bondade de Deus através da nossa humanidade, afinal fomos criado à sua “imagem e semelhança”.
Por que as pessoas à minha volta não se convertem, apesar do meu trabalho pastoral, das minhas palestras...? As pessoas não mudam porque eu não mudo! Ainda precisamos ser muito melhores na fé! Quem melhora na fé, melhora como ser humano e humaniza suas atitudes e seus exemplos falam muito mais que suas palavras. O mundo de hoje precisa ver um Crist encarnado, precisa ver Deus próximo de nós. O olhar de Cristo é o meu olhar? Ou eu, ao contrário, só vejo o lado negativo das pessoas e das situações? As palavras de Cristo são minhas palavras? Ou eu, ao contrário, faço julgamento, ironia, fofocas...? Um dos artigos do Credo é “... nascido da Virgem Maria...”. Para falar do Pai, Jesus se fez Filho. Parou e dedicou tempo aos que precisavam, chorou, se comoveu, festejou... Um católico que diz que não tem tempo de levar a fé aos outros está confundindo fé com “atividades”. Não é uma questão de tempo é uma questão de fé. O primeiro ponto importante, então: temos que mudar por dentro.
Temos que mostrar nossa intimidade pelo que nós vivemos na nossa intimidade. Temos muitas vezes despudor para confidenciarmos tantas coisas com as pessoas, mas conversamos sobre a nossa fé?! Abrimos o nosso coração com as pessoas para falarmos sobre nossa espiritualidade? Jamais podemos achar que tudo está perdendo e que devemos viver nossa fé particular, em nosso “mundinho”. Deus nos pede este favor, de entrarmos pela porta da fé. Não precisamos ressuscitar Deus, porque Ele não está morto... só precisamos revelá-lo, desvelá-lo, isto é, tirar as camadas de véus de tantas idéias vãs.

Um comentário:

Anônimo disse...

Retiro brilhante! É uma benção poder participar desta oportunidade com Dom Antonio Augusto e rever os amigos e irmãos! Ficou mesmo a sensação de "quero mais", como Dom Antonio fez a comparação com um "fast food", fica a necessidade de dizer que o alimento foi extremamente energético, fortaleza para a mente e espírito com pratos saudáveis repleto de reflexões, idéias e aprofundamento!!

Alberto (Baby) e Márcia