quinta-feira, 29 de abril de 2010

I Encontro Nacional Sobre a Espiritualidade do Acolhimento e da Adoção (7)


ABANDONO E ADOÇÃO: A PROPOSTA DE AI.BI – Amici Dei Bambini e La Pietra Scartata
(Trechos das palestras de Dr Gianmario Fogliazza e Marco Griffini)



Ambiguidade do Sistema de Assistência

É necessário explorar a questão do abandono para que nenhuma criança fique em tal condição, esquecida por anos. Somente uma percepção não superficial do abandono permite atuar adequadamente e permite tornar o abandono reversível e superável.

“… se ser criança é tão importante, então, todas as crianças são importantes. Todas as crianças são importantes, todas! Não pode nem devem existir crianças abandonadas, quanto menos crianças sem família ...” (Discurso de João Paulo II às crianças por ocasião da viagem apostólica ao Brasil, Baixa do Bonfim – Salvador, 20 de outubro de 1991)

A praxe da colocação e da permanência das crianças e adolescentes fora do contexto das relações familiares constitui uma resposta não adequada à perda ou ausência dos pais, configurando-se como ulterior trauma. A privação das relações familiares, estáveis e definitivas, configura-se como abuso se por um período prolongado são satisfeitas somente as necessidades físicas, mas não aquelas psicológicas e afetivas da criança.


É como um “limbo artificial” (cultural, jurídico, político e social) no qual são “conservadas” milhões de crianças por motivo de pretensões alheias, limites ou defeitos, vínculos ou interesses. O período de permanência no sistema de atendimento, deveria ser superado o quanto antes para que seja restituída à criança e ao adolescente a dignidade plena de filho, com uma relação de acolhimento em uma família, autêntica e definitiva.

O estado de abandono é a situação em que milhões de crianças se encontram, mas não na condição em que devem habituar-se a sobreviver. É possível superar o abandono. E a adoção vivida de segundo o sentido cristão do acolhimento é um concreto e profético testemunho.


A Contemplação do Mistério do Abandono

Jesus Cristo, na agonia da Cruz, sente o abandono causado pelo peso dos pecados de toda a humanidade que carrega consigo:

Primeiro momento
“Na nona hora (…) Jesus (…) disse (…): tenho sede (…) – e depois – tudo é consumado!” (Jo. 19,30) (…)

Primeiro grito
Jesus vive a experiência do abandono. Ele gritou em alta voz: "Elì, Elì, lemà sabactàni?, que significa: “Meu Deus, meus Deus, porque me abandonaste?”.(Mt. 27,46)

Segundo momento
(… mas Deus se cala) Jesus deve escolher como morrer: no desespero ou na esperança.

Segundo grito
Jesus, deu um grande brado (Mc. 15,37): era o grito da vitória. “Pai, nas tuas mãos entrego o meus espírito.E, dizendo isso, expirou.” (Lc. 23,46 b)

À semelhança da experiência de Cristo, unem-se a ele na Cruz a dor do casal estéril e a dor da criança que foi abandonada. Eles também gritam: “Meu Deus, meu Deus, por que me abendonaste?”

É daí que vem a espiritualidade da adoção: uma esperança contra toda a esperança. A experiência da esterilidade do casal pode se tornar fecunda à medida que encara esta provação como um presente que pode dar nova vida, ou seja, ressuscitar uma criança morta para o amor familiar.

Essa é a grande missão dos cônjuges estéreis, afinal todos somos predestinados a sermos filhos adotivos da obra de Jesus Cristo (cf. Ef 1,5).

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