terça-feira, 14 de junho de 2011

RETIRO DA PASTORAL FAMILIAR (2)


1ª meditação (10/06/11) – Compreendendo o propósito deste Retiro

(Dom Antônio Augusto Dias Duarte)



O retiro é um lugar muito bom para experimentarmos o descanso da alma: aquilo que, um dia, chegará para todos nós na eternidade. Ficaremos felizes, embora todos à nossa volta estejam chorando. Um sacerdote nos dirá: “Descanse em paz.”. E começará para nós uma dimensão totalmente nova, que como diz São Paulo, “nenhum olho viu, nenhum ouvido ouviu o que Deus tem reservado para aqueles que o amam”. Um retiro nos prepara para esta surpresa de Deus.
Pensemos nesta cena. Era noite. Jesus descansava. Mesmo sendo Deus, enquanto homem precisava de descanso. Quando estava se recolhendo, uma pessoa o aborda, chamando-o de Mestre que vem da parte de Deus. Também neste retiro, o mestre é o Espírito Santo. E este homem, fascinado pelos ensinamentos de Jesus era Nicodemos, Doutor da Lei. E de Jesus ouviu algo que jamais poderia pensar: “É preciso nascer de novo.” Esta afirmação o deixou atordoado. “Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus... não te admires de eu te haver dito: vós deveis nascer de novo.” (Jo 3, 5.7).
Não importa o caminho da vida cristã que já tenhamos percorrido. Ao nos colocarmos na presença de Jesus ele repete também a nos: “É preciso nascer do Alto, é preciso nascer de novo.” E por que Jesus está sempre nos pedindo para renascer? Jesus foi explicando para Nicodemos. Porque não devemos conhecer Jesus apenas como um Mestre que ensina uma bela doutrina. É preciso receber Jesus como Deus que se fez homem, Deus que desceu para nos elevar. De Deus viemos, com Deus caminhamos, para Deus voltamos. Nascemos para viver a vida eterna com Deus.
Desde a concepção até a entrada na eternidade, entre esses dois momentos, existe uma missão a ser cumprida, um papel ao qual Deus não nos dispensa, uma vocação de conhecê-lo e amá-lo. Não somos só nós que precisamos de Deus, Deus – todo Poderoso, Criador, que preparou para nós a eternidade inimaginável – estende sua mão a nós dizendo: ‘Eu preciso de você!”
Precisou de uma mãe para entrar no mundo; de cinco pães de dois peixes para fazer um milagre; de um julgamento para mostrar o quanto nos ama... e continua estendendo a mão para pedir nossa colaboração. Celebramos Pentecostes: “O vento sopra aonde quer e ouves o ruído, mas não sabes de onde vem, nem pra onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito.” (Jo 3, 8). O Espírito nos ensina o que é ser um verdadeiro colaborador de Deus.
E daí vem uma decisão que Jesus propõe a Nicodemos naquela noite: “... assim é necessário que seja levantado o Filho do Homem, para que, todo o que nele crer tenha a vida eterna. Pois de tal modo Deus amou o mundo que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crer, não pereça, mas tenha vida eterna.” (Jo 3, 15-16). Deus amou tanto este mundo que não quer saber dele, que o odeia. Aqui está a coluna vertebral deste retiro: Quer tomar consciência do que é ser colaborador de Deus? Quer saber o que significa viver o primeiro mandamento, amar a Deus com todo o seu coração, toda a sua alma... e toda a sua família? O que é amar o próximo com a si mesmo e amar o mundo como ama sua família? Deus precisa da sua família para continuar amando o mundo apaixonadamente. O mundo dos anti-valores, que rejeita a fé, precisa ser amado por nós. Nós não podemos fugir do mundo, porque o próprio Deus o ama. Não podemos formar em nossas paróquias um castelo com altas muralhas de proteção contra o mundo. Deus quer que o amemos, que amemos apaixonadamente o mundo no qual Deus nos colocou, o mundo de hoje como ele está! E é nele que somos chamados, juntamente com nossas famílias, a sermos discípulos missionários neste mundo!
Às nossas famílias se aplica perfeitamente o que Jesus disse: “Vós sois o sal da terra... Vós sois fermento na massa...Vós sois a luz do mundo.” (cf. Mt 5..). E quantas famílias se não estão nas trevas, vivem na penumbra.... Como podemos ser sal, fermento e luz como foi a família de Nazaré? Como os órfãos de Betânia, em cuja casa Jesus gostava de ficar? Como o casal Áquila e Priscila que ajudou Paulo na sua missão e de evangelizar? A família de Lídia, que são Paulo encontrou perto do rio e que o convidou para ir até a sua família e falar de Crist,o e por cuja família o cristianismo entrou por toda a Europa? Como os pais de Santa Terezinha? Imaginem o bem que estas famílias fizeram ao mundo inteiro?!
É preciso compreender a obra sobrenatural que implica a fundação de uma família irradiadora da fé, a educação dos filhos, a construção da sociedade. Disto depende nossa felicidade. Vale refletirmos: “Eu amo apaixonadamente o mundo ou fujo dele? Tenho procurado diversões baratas porque não tenho uma missão? Estou consciente desta missão que Deus me deu? Sou capaz de conquistar outras família para que também sejam colaboradoras de Deus?”. Só o amor poderá salvar o mundo.
Na Conferência de Aparecida, em uma das homilias, o Papa Bento XVI perguntava: “Quem me deu a fé? Uma família.”. Vejamos Abraão, a quem Deus prometeu uma descendência numerosa. De sua família saiu um povo, deste povo saiu o próprio Filho de Deus. Quando o mundo estava em desgraça Deus escolheu a família de Noé para ajudá-lo a salvar a humanidade. Tenho consciência de que minha família pode salvar a grande família que é a humanidade?
Olhe São Tomás de Aquino. Nasceu numa família rica, tinha terras, castelos. E daí, resolveu entregar sua vida a Deus. Os irmãos julgando-o louco o trancaram numa das torres. E lá preso, o filho pediu aos pais livros e mais livros. Sem saber, sua família fazia um grande bem à humanidade. O próprio santo escreveu: “A quem Deus elege para uma missão os prepara e os dispõe de tal forma, que os resulta idôneos para desempenhar tal missão.”
Podemos pensar: “Sim, a família salvará a humanidade... mas não a minha!”. Ora, confiemos na providência e na misericórdia divinas que nos tornará idôneos. Os sacerdotes e consagrados têm a missão de formar as famílias para que cumpram bem a sua missão. O sacerdócio ministerial está a serviço do sacerdócio comum dos fiéis. Por isso, a família é chamada de “Igreja Doméstica”. E ambos estão a serviço do mundo. Não podemos nos contentar com o nosso “mundinho” enquanto o mundo a nossa volta está insosso, nas trevas.
Numa das catequeses de quarta-feira, João Paulo II usava a imagem de uma árvore: “Pelo fortalecimento da família surgirá a vitalização das Igrejas locais e haverá um florescimento e vocações.”. Deus pede a colaboração das famílias.
Já que Nicodemos se aproximou de Jesus, chamando-o de Mestre Jesus lhe deu e dá também a nós, esta missão de amar o mundo. Deus nos deu o Filho e o Filho nos dá o Espírito Santo.

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