terça-feira, 21 de junho de 2011

RETIRO DA PASTORAL FAMILIAR (5)

3ª meditação: Família: lugar de paz e serenidade


(Dom Antônio Augusto Dias Duarte)






Se formos perguntar a um casal recém-casado quem bem eles mais desejam para sempre em sua vida matrimonial, eles certamente dirão: o amor. Depois de alguns anos, se fizermos a mesma pergunta, eles provavelmente dirão: a paz. Ora, as pessoas vão mudando o seu modo de ser com o tempo e as situações ruins ocorrem até ara fazer o amor crescer e amadurecer. E as desavenças vêm. A paz continua sendo um bem inestimável, tanto mais necessário quanto mais o temo vai passado. Não é que o amor tenha diminuído. O entusiasmo e a paixão podem ter se tornado mais serenos. O amor continua sendo um bem inestimável, mas também a paz é um dom divino.
Depois da ressurreição, após ter se entregado na cruz por amor, Jesus sempre dizia: “A paz esteja convosco.” Em um mundo em que as pessoas convivem com a falta de paz interior e exterior, as família missionárias precisam ser redutos de paz. E paz que vem da harmonia nas diferenças, que é construída a partir da compreensão, da valorização e da firmeza do amor. Compreender, animar e exigir. Para que haja paz no mundo, a família tem que transbordar a paz e para que a família transborde a paz, cada um de nós tem que transbordar a sua paz interior. Transbordar a paz na consciência para gerar a paz na convivência.
Jesus era cheio de paz. Há uma cena emblemática que começa com uma cena de violência. Está Jo 8: querem saber a opinião de Jesus sobre apedrejar a mulher adúltera. E Jesus abaixa a cabeça e escreve na areia (pena que o vento levou sua escrita..., como gostaríamos de saber o que ele escreveu...). Diante da insistência das pessoas, Jesus responde: “Quem estiver sem pecado, atire a primeira pedra.”. Vejam o aparente paradoxo: quem tem paz na consciência que faça a violência. Ora Jesus sabia que quem tem paz verdadeira, não é capaz de atos violentos. E Jesus conclui: “Nem eu te condeno. Vá e não peques mais.”. Exemplo emblemático de compreensão, valorização e firmeza.

Compreender:
Nunca aprovar e nem ser causa de violência. Especialmente contra os seus, dentro do seu lar. Não ferir o outro. Sermos imitadores de Jesus, respondendo a violência com serenidade. Ter o autodomínio para não responder precipitadamente. Imitar Jesus que se acalmou antes de responder à situação conflituosa que lhe foi apresentada. Quem não gastar com a virtude, gastará mais tarde com remédios... Compreenda o outro. Faça como Jesus: abaixe sua cabeça e escreva no chão...
No episódio do seu julgamento, um dos soldados o esbofeteia e Jesus questiona sua atitude violenta com serenidade. Quando queriam jogá-lo precipício abaixo... mas Jesus, com sua paz, passa em meio aos homens furiosos, abrindo caminho entre eles. Os remédios específicos para os humanos desentendimentos não podem ser puramente psicológicos. Há de ser de ordem moral. E não são outros senão o ato de humildade e o ato de generosidade. “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”, disse Jesus. Quando nos dominamos, as pessoas vão aprendendo a se calar e a serem mansas, humildes, compreensivas. E daí vem a valorização, a animação, o apoio, o estímulo... ingredientes fundamentais para a paz familiar. Portanto, em primeiro lugar silêncio, calma, serenidade... Do contrário, faremos coisas piores do que os que nos ofendem. Primeiro escrever no chão do coração.

Valorizar:
Lembremos do episódio em que dois dos discípulos queriam ter privilégios e envolveram sua mãe: “Quando estabelecer seu reino na terra, coloca os meus filhos um a tua direita e outro à tua esquerda...”. Diante deste mal-estar causado entre os outros, disse Jesus: “Podeis beber do cálice que eu hei de beber?” e eles responderam: “Podemos.”. Mas Jesus deixa bem claro que o lugar que ocuparão só cabem ao Pai escolher. Vemos que mesmo diante dos defeitos, Jesus valoriza os dois jovens.
Para que haja paz familiar é preciso potencializar as capacidades das pessoas, nunca fazer por elas e no lugar delas. Propor desafios na vida, ir contra os climas extremos opostos: ou muito sentimentalista ou muito autoritário. Vejam tudo o que Tiago e João fizeram!
Enxergar na pessoa seus limites, mas também a graça de Deus que habita nela e a pode fazer crescer, criando um sadio complexo de superioridade que a faça dizer: “Eu posso! Eu sou capaz de fazer muitas coisas boas!”. Que grande gesto de amor é este: ajudar as pessoas a terem autoestima, a vencerem os seus limites. Quando prepara-se as pessoas para isto é mais fácil exigir.

Firmeza:
A mulher adúltera sentiu amor na exigência de Jesus: “Vá e não peques mais.”. O mesmo com a mulher samaritana (Jo 4). Primeiro, Jesus valorizou seu serviço: “Dá-me de beber.”. Só depois fez a exigência: “É verdade, não tens marido.”. E ela percebeu que Jesus olhava além do comportamento. E acabou se convertendo e realizando uma grande missão.
Quem ama corrige e ajuda a pessoa a se superar, exige mudança de atitudes. Mas para isso é preciso dar os dois passos prévios do exigir, que são: compreender e valorizar.

Para vivermos estes três passos da paz, o primeiro caminho é a oração. Não só rezar a Deus pelos familiares, mas conversar com Deus sobre os familiares, conhecer por onde Deus está querendo conduzir as pessoas. Nosso erro é querer ajudar as pessoas a serem melhores pelo nosso caminho e não ajudando-as a cumprir os planos de Deus. E para sabermos qual é o jeito de Deus, precisamos levar várias pessoas à oração. O apostolado é transbordamento da vida de oração. Entender as pessoas em Deus é um grande propósito que o amor exige de nós. Cada pessoa é um dom de Deus. Só somos capazes de perceber este tesouro se estivermos muito mergulhados em Deus. Só o conhecimento psicológico, técnico das pessoas não basta. É de Deus que sairão palavras de vida eterna, o bom conselho e o entendimento inspirados pelo Espírito Santo. Isso é o início para que o lar se transforme num remanso de paz.
São Paulo, homem de passado violento, depois de muitos anos, escreveu aos Efésios: “Nenhuma palavra má saia da vossa boca, mas só a que for útil para a edificação, sempre que for possível, e benfazeja aos que ouvem. Não contristeis o Espírito Santo de Deus, com o qual estais selados para o dia da Redenção. Toda amargura, ira, indignação, gritaria e calúnia sejam desterradas do meio de vós, bem como toda malícia. Antes, sede uns com os outros bondosos e compassivos. Perdoai-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou, em Cristo.” (Ef 4, 29-32)
Podemos perguntar para Deus: Que bem inestimável eu preciso cultivar mais em minha família? Que sementes mais precisam germinar? Demos ao Espírito Santo a alegria de promovermos a paz na família e desde a família.

Nenhum comentário: