terça-feira, 14 de junho de 2011

RETIRO DA PASTORAL FAMILIAR (3)


2ª meditação (11/06/11) – Família de Fé, Livre e Comedida

(Dom Antônio Augusto Dias Duarte)


O retiro hoje é mais ou menos o mesmo que experimentamos ontem. Ontem, estávamos no mesmo lugar, mas era noite... Hoje com a luz do dia, vemos outros cenários. O Papa João Paulo II, aqui do Sumaré, contemplou a paisagem e disse: “Que bela arquitetura dos homens. Mais bela ainda é a arquitetura de Deus.”.
Conosco também é assim. Da nossa família, da nossa paróquia, da nossa diocese é a mesma paisagem sempre, mas a luz de Deus pode realçar sua bela arquitetura mais visivelmente.
Pensemos em nossa família, toda a nossa família como missionária. Aos apóstolos Jesus pediu que deixassem suas famílias para constituírem uma nova família: a Igreja. Em determinado momento, este grupo teve uma prova para continuarem seguindo esta família de sal, fermento e luz dentro da humanidade. Foi na sinagoga de Cafarnaum. Jesus anunciou que sua carne seria alimento e que deveríamos estar sempre unidos a ele assim. Diante destas afirmações muitos disseram: “Esta palavra é dura! Quem pode escutá-la?.” (Jo 6, 60). Muitas famílias hoje também pensam assim: “Como a Igreja é dura... como é exigente!”. E Jesus, sabendo com quem poderia contar, pergunta: “Vós também quereis ir embora?” (Jo 6, 67). Jesus não poderia mudar seus planos por causa da fraqueza humana... E Pedro responde: “A quem iremos....” (Jo 6...). Foi o dia “D” para aquele grupo de homens.
Para cumprir a missão que Deus confia a cada família, existe toda a força do próprio Deus a favor da sua missão. Devemos servir o mundo em muitas coisas. Como está o mundo de hoje:
1- É um mundo descrente É um mundo escravo
2- É um mundo consumista
Temos que quer, em contrapartida, uma família de fé, livre e comedida.

FAMÍLIA DE FÉ
Uma família onde todos (pai, mãe, sogro, sogra, filhos, etc) vivem de fé e não apenas tem fé. De nada serve a fé, a saúde a cultura se as possuímos, mas não as vivemos. É preciso agir de acordo com as categorias da fé. Esta família é que é capaz de mudar a paisagem do deserto de fé que é o mundo hoje neste mundo que confia mais na técnica que na Palavra de Deus. Os primeiros apóstolos não tinham outra bagagem senão o Cristo ressuscitado e sua Palavra de Vida.
No Credo, professamos: “Creio em Deus Pai todo Poderoso”... e por que ainda nos intimidamos diante dos outros que tem certos argumentos contra a Palavra de Deus? Professamos: “Creio na comunhão dos santos.”... como há gente em todo o mundo, no céu e na terra rezando por nós! Estamos todos em comunhão: “Uma alma que se eleva a Deus, eleva o mundo.”, dizia João Paulo II em um dos seus documentos.
É importantíssimo que os lares sejam usinas de fé! Ter categorias de fé na nossa mente e na nossa vida, mesmo dentro das nossas limitações. Tomo minhas decisões tendo como base a minha fé? Faço meus projetos de acordo com minha fé? O mundo pode dizer o que quiser, mas que resposta de fé eu dou? É como a de Pedro ou como a da multidão?
Respostas de fé, famílias de que tomam decisões enraizadas na Palavra de Deus são capazes de mudar o mundo! Uma família que demonstra sua fé, que reza na alegria e na tristeza fará a diferença neste mundo tão carente de amor. É claro que não se pode obrigar ninguém a rezar, nem a freqüentar os sacramentos, mas também não se pode ocultar, privar ninguém da presença de Deus no lar. Uma família assim, é usina que fornece energia para o mundo descrente.

FAMÍLIA LIVRE
Outro grande serviço que se presta ao mundo escravizado por todo tipo de algemas do medo, das opiniões, notícias é sermos famílias onde se respira a liberdade.
Dizia são Tomás de Aquino: “A natureza não pretende somente a geração da prole, mas também o seu desenvolvimento e progresso até o estado perfeito do homem.”. O que é uma pessoa perfeita? É quem não tem defeito, quem tira boas notas, quem não tem defeito?... Não. É uma pessoa livre, que não se escraviza por seus defeitos. O desenvolvimento de uma pessoa se mede pelo grau de liberdade que ela tem. Faz seus deveres porque quer e não porque é obrigada. Sabe como utilizar bem o seu tempo sem que outro precise ficar lhe cobrando. Sabe que lugares freqüentar, sabe usar a tecnologia com moderação. Sabem agir com responsabilidade. Isso não se aprende nas escolas, mas em casa. Quando os filhos são formados nesta perfeição os pais não precisam se preocupar com a libertinagem, porque os filhos sabem o que é a verdadeira liberdade. Mas para isso é preciso que cada um respeite a liberdade do outro. É preciso dar razões para que as pessoas assumam compromissos. Razões, motivos e não ordens.
Precisamos mostrar as pessoas “porque” fazer e não só como fazer... não devemos dar receitas prontas. O mundo não está acostumado com esta liberdade, mas quer respostas prontas... por isso está tão escravizado. Um sinal claríssimo de falta de liberdade no mundo em que vivemos é o excesso de busca de direitos. Muitos cobram seus direitos, mas não sabem cumprir livremente os seus deveres. Só faz isso que ainda está imperfeitamente cumprindo seus deveres por obrigação. Às vezes estamos tão acostumados com certos procedimentos que nem percebemos que somos escravos. Onde estou preso? Só poderemos mudar o mundo se mudarmos a nós mesmos primeiro. Assim, teremos pessoas perfeitas que serão capazes de mudar o mundo escravo.
Logo no início de seu pontificado João Paulo II perguntava às famílias:”Como eu sou pai e como eu sou mãe?”. Começando numa ordem de ação. respondia: “A sociedade, o país e a Igreja são construídos sobre os alicerces que vós lançais.”. Se as famílias forem escravas, criarão uma sociedade escravizada. E o mesmo aconteceria com a Igreja.
A medida da nossa responsabilidade será a medida da nossa liberdade. A sociedade escrava pensa: “O que eu vou ganhar com isso?” e já a pessoa livre diz: “O que os outros vão ganhar com isso?”.

FAMÍLIA COMEDIDA
O mundo consumista não sabe viver na moderação. Faltam freios. Uma das principais virtudes de uma pessoa de fé e livre é a moderação. Revela um estilo de vida senhorio. A pessoa é dona de si. Sabe os valores que a realizam como pessoa, como cristã. Tudo isso precisa ser uma nota característica da nossa família.
Vemos um mundo que depende cada vez dos bens que passam, vendendo os bens que não passam, ou seja, vendendo sua alma. E isso não em questões materiais, mas também com relação aos bens morais. Um mundo de informações tão abundantes que gera pessoas cada vez menos formadas em seu caráter. Não é só comedimento no uso dos bens materiais, mas também culturais e espirituais. Quantas pessoas só conseguem conversar sobre fofocas, BBB, assuntos irrelevantes e até inadequados, sem nada de substancial.
A temperança é uma virtude cardeal, ou seja, é o eixo, em torno dela “vira” a vida. Do contrário seremos como um astro que perde sua órbita em torno do sol e se torna errante. Dentre estas virtudes cardeais, há uma que precisa ser vivida individualmente e em família. O sexo é um bem, mas como está banalizado. O dinheiro deveria nos ajudar, mas como é usado de forma destemperada. Um padre amigo me dizia que os jovens tem que ser como as mulheres que vão ao shopping. Ela entram querendo comprar com uma coisa, mas sai com outra e muito feliz! Assim, deve ser o jovem ao entrar na Igreja. Ele entra com uma idéia, com um preconceito, mas pode sair com uma surpresa.
O critério da temperança é: “O que convém mais para mim, para minha família?”
Em 1980, João Paulo II exortava os casais que a decisão com respeito ao número dos filhos e dos sacrifícios que dela derivam deve levar em conta uma realidade seriíssima: negar aos filhos certas comodidades é melhor do que eu negar-lhes o direito e o bem de ter um irmão ou irmã... Para se viver uma vida gozosa são necessários sacrifícios tanto por parte dos pais como por parte dos filhos.”
Poucos filhos significa intemperança nos bens materiais. É melhor ter mais um irmão do que um curso de inglês, uma aula de balé... afinal, estamos criando profissionais para esta sociedade consumista ou pessoas humanas, cidadãos, cristãos?
Como a temperança é capaz de mudar o mundo. Uma família assim ama apaixonadamente o mundo porque sabe ter, sabe usar, sabe que o fim é a perfeição como pessoa. Irradia a luz do Espírito Santo e mostra ao mundo aquilo que quem vive nas trevas não consegue enxergar.

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