sábado, 25 de junho de 2011

RETIRO DA PASTORAL FAMILIAR (7)


3ª palestra: Família, projeto de Deus

(Dom Antonio Augusto Dias Duarte)



Na Cartilha da Pastoral Familiar, Familiaris Consortio, 3, lê-se: “A Igreja, iluminada pela fé, que lhe faz conhecer toda a verdade sobre o precioso bem do matrimônio e da família e sobre os seus significados mais profundos, sente mais uma vez a urgência de anunciar o Evangelho, isto é, a «Boa Nova» a todos indistintamente, em particular a todos aqueles que são chamados ao matrimônio e para ele se preparam, a todos os esposos e pais do mundo.”.

A Igreja tem esta experiência que a sociedade vai bem e a própria igreja vai bem quando a família vai bem. Hoje tenta-se causar uma certa comoção social dizendo quea a família está mudando por que a sociedade mudou. Este é o princípio que tem buscado legitimar e justificar muitas atitudes, posturas e até leis (ex. reconhecimento civil da união entre pessoas do mesmo sexo equiparadas a uma família).
Nosso grande trabalho é mostrar que a família e o casamento são projetos de Deus e não meramente humanos. Desde o princípio são sagrados e estão profundamente ligados à criação: Deus fez o homem e a mulher e os uniu para que colaborem com seu projeto.
O matrimônio deve ser protegido por leis, mas não estabelecido por leis. Muitos crêem que o matrimônio é humano e isto começou no século XVIII. E muitos ainda acusam a Igreja de ser retrógrada. E não há nada mais antigo que o pecado e que idéias como as do iluminismo francês que pretendeu desvincular a humanidade de Deus. Os filósofos e pensadores da época da revolução francesa eram liberdade, igualdade e fraternidade. E para que tal o homem deveria se libertar de Deus. E assim, o matrimônio passa a ser um assunto civil e não religioso. Era o início do que hoje conhecemos como “estado laico” no qual a Igreja não pode manifestar suas normas de conduta. Voltaire dizia (por volta de 1750): “Em 70 anos, acabará a Igreja.”. E a enfermeira que o atendeu à época da morte reclamou: “Nunca mais me chamem para atender um homem sem fé.”. Morreu em desespero, este homem para quem os amigos negaram a visita de um padre, achando que estaria delirando ao pedir Unção dos Enfermos.
O Iluminismo gerou uma cultura secularizada, regida pelo relativismo ético em que cada um tem o poder de determinar seu comportamento, o individualismo e o indiferentismo religioso. Não negam que Deus existe, mas não tem nada a dizer à sociedade da técnica. Nesta mentalidade, também as leis humanas é que devem determinar a natureza e a duração do matrimônio.
Nossa sociedade brasileira já está bem contaminada com esta ideologia que já se alastrou amplamente pela Europa. Basta ver o número de divórcios e a deficiência da preparação para a vida matrimonial.
Se vamos deixando que o Iluminismo e seus filhos vão penetrando em nossas paróquias o projeto de Deus fica em segundo plano. Não podemos secularizar a Igreja, mas devemos cristianizar a sociedade. O uso de meios ilícitos para viver a paternidade e a maternidade com a desculpa de que o Estado é laico e minha consciência me diz que eu posso usar pílula, camisinha, fazer ligadura, viver o hedonismo em minha família.... que perigo para o matrimônio que é instituição e vocação divina, da mesma categoria que a vocação religiosa. Não há diferença entre elas. O padre renunciou a todas as mulheres do mundo pela Igreja. O marido renunciou a todas as mulheres do mundo para ter a sua. O mesmo é com a freira e a esposa... cada um tem sua missão a ser cumprida no mundo e na Igreja. Pelo profeta Jeremias sabemos: “Antes que te formasses dentro do ventre de tua mãe, eu te conhecia...”. Em duas barrigas já estavam duas pessoas que Deus chamou desde a eternidade e estas pessoas se cruzam e juntas dizem ‘sim’ a Deus e um ao outro no matrimônio. E Deus vai dando sinais para que se conheça a vocação. Mas isto exige uma preparação, especialmente, na fase remota de preparação ao matrimônio (infância, adolescência e juventude). O matrimônio se realiza quando duas pessoas se reconhecem como dom de Deus um para o outro. É necessário uma Educação para o Amor. Claro que a vontade livre está sempre presente. Deus chama, mas eu sou livre para dar minha reposta. Um relacionamento puramente afetivo é fugaz porque depende de muitos condicionantes externos. O amor não é uma emoção, nem um afeto, mas um ATO da vontade livre. Mas não é esta vontade livre que determina a natureza da vocação. A vida a dois tem essência própria regida por Deus: uma aliança eterna e indissolúvel, aberta à vida. Somos convocados à adesão ao matrimônio, mas não à modificação. Tenho liberdade para subir ao ônibus que vai à Zona Sul ou à Zona Norte, mas não posso querer que o motorista mude o itinerário que foi determinado pelas autoridades a meu bel prazer. Entrar numa vocação é muito difícil e sair é muito fácil. Mas saibamos que sair não é simplesmente abrir uma porta. Sair é trair.
Deus não vai mudar uma vírgula do matrimônio. A vocação deve ser vivida ao modo de Deus. Isto é um grande bem para nós mesmos e para as pessoas que dependem desta vocação. Da vocação matrimonial depende toda a humanidade. É da família inclusive que saem as vocações sacerdotais. Jesus, o Sumo Sacerdote, veio de uma família. Na cerimônia em que um bispo recebeu o anel cardinalício, ele estendeu a mão para que sua mãe, ali presente, pudesse beijá-lo. Ao que ela, mostrando sua aliança de casamento, diz: ‘Você não teria seu anel se não fosse este outro anel aqui.”
A Igreja ensina que esta união íntima dos esposos é uma nova aliança, um novo testamento, elevado à ordem da graça que representa o amor esponsal de Cristo pela Igreja. As duas formas de amadurecermos nossa sexualidade na terra são o matrimônio e o celibato. Ambos prefiguram de modo concreto o casamento místico que Deus quer realizar com cada um de nós. A aliança no dedo é uma verdadeira aula de Teologia. Por isso, casamento não é uma mera convenção social. Esta aliança compromete, é um compromisso, um afeto da vontade e não só do “afeto”. Deve, sim, “afetar” todo modo de viver numa entrega de corpo e alma. Não é só “sentimento” é “consentimento” que exige das pessoas em contínuo ato de liberdade de entregarem-se mutuamente no amor e por amor.
A vocação de vida exige totalidade. É diferente da vocação profissional que se vive em horário comercial. Deus quer que eu viva um amor completo, apesar de eminentemente humano, já que não é um amor espiritual. Ele está presente no corpo, na alma, na vontade, na liberdade etc, como doação total de vida.
E, João Paulo II, no número 11 da Familiaris Consortio diz:” Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, chamando-o à existência por amor, chamou-o ao mesmo tempo ao amor. Deus é amor e vive em si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor. Criando-a à sua imagem e conservando-a continuamente no ser, Deus inscreve na humanidade do homem e da mulher a vocação, e, assim, a capacidade e a responsabilidade do amor e da comunhão. O amor é, portanto, a fundamental e originária vocação do ser humano.”
Logo, a pessoa que se casa, já se casa com a capacidade de amar. O objetivo dos Encontros de Preparação para Vida Matrimonial deve trazer a tona, lapidar esta capacidade de dar amor e gerar comunhão.
O matrimônio é união exclusiva porque exclui todos os outros homens e mulheres por um(a) só. Exclui, não destrói. Exclui inclusive todos os outros tipos de amor. O cônjuge vem sempre em primeiro lugar, antes dos pais, dos filhos, etc. O amor aos filhos não pode entrar na frente. Diz Bento XVI que os filhos têm o direito de ver seus pais se amando. Um direito natural, não das leis humanas. Ao nascer um filho os pais têm que se amar ainda mais.
Já o amor paternal/ maternal, por exemplo, é inclusivo. Se um filho adolescente te disser: “Pai, mãe, vocês não podem se meter na minha vida.” pode-se responder: “Ora temos todo o direito, pois você se meteu na nossa!...”. Nas relações familiares cada um deve ter o seu devido lugar. Isto não é conveniência. É do plano divino: “Deixará o homem seu pai e sua mãe...”. Assim sogro(a), avós devem cumprir seu papel de conselheiros. Isto não é desprezo, mas é dar-lhes o amor que lhes é devido. Cada um respeitando a vocação do outro. Os pais que dizem: “Meus filhos dão muito trabalho, por isso não temos tempo um para o outro.”. Não coloquem a culpa nos filhos. O casal é que tem que organizar o seu tempo e as suas prioridades.
Não se vive a fidelidade celibatária ou matrimonial porque existem leis que as regem, mas porque Deus nos concede um dom. Mas é preciso que nós queríamos com uma vontade firme renovar esta vocação que fortalece e eleva as virtudes humana. Muda sua visão da vida e do outro, vendo-os como dons de Deus.
O matrimônio além de garantir a continuidade da humanidade aumenta o número de filhos der Deus é um meio de santificação.
O sacramento aumenta a graça santificante e envia graças específicas para se viver bem esta vocação, ajudando-as em todas as circunstâncias da vida matrimonial, quando recebido em estado de graça. Daí, mais uma vez a necessidade da adequada formação.
“Onde dois ou três estiverem reunidos...”. O casamento é para ser vivido a três. Nada pode se resolver sozinho. Vejam o exemplo da Igreja, reunida como nos Atos dos Apóstolos. Sobre eles veio o Espírito Santo.

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