quinta-feira, 23 de junho de 2011

RETIRO DA PASTORAL FAMILIAR (6)


Continuamos publicando as palestras e meditações de Dom Antônio Augusto no Retiro Arquidiocesano da Pastoral Familiar deste ano de 2011, realizado de 10 a 12 de junho, e que teve como tema: "Como minha família pode ser sal, fermento e luz do mundo?".


4ª meditação
A ação do Espírito Santo na vida pessoal, familiar, social e eclesial

(Dom Antônio Augusto Dias Duarte)


O nascimento da Igreja foi no dia de Pentecostes. Os padres e estudiosos da Igreja concordam que o Calvário foi o momento em que a humanidade foi salva, em que foi concebido o novo povo de Deus Mas o rosto deste povo só foi visto no dia de Pentecostes, quando Pedro e os demais apóstolos, cheios do Espírito Santo, falaram ao povo de todas as raças e nações. Eles então compreenderam que depois da paixão, morte, ressurreição e ascensão de Jesus surgia um novo povo de filhos de Deus redimidos.
E o rosto do Espírito Santo não é outro senão a bondade de Deus. E se este rosto ainda não se mostrava com todos os seus contornos desde o princípio da história da humanidade já podemos ter uma imagem: tudo o quando Deus fizera era bom. Tudo o que Deus faz em seu amor é bom!
Um dia Jesus foi questionado sobre a bondade da criação, sobre a originalidade do matrimônio. Perguntaram se era lícito o homem repudiar sua mulher (cf. Mt 19). E Jesus responde: “No princípio não era assim...”. Deus ao criar o homem e a mulher e aos destiná-los ao matrimonio, concluiu dizendo que tudo isso era muito bom! E a pergunta que o Espírito Santo nos faz hoje, neste dia solene de Pentecostse é esta: “É bom estar casado? É realmente boa a minha união matrimonial?”. Pode parecer uma pergunta supérflua, do contrário não estar casado, você pode pensar... Mas, hoje, o Espírito nos pergunta: “É bom estar casado, ser esposo, esposa, pai, mãe....?”.
Neste trecho do Evangelho de Mateus, vemos que Jesus não discute a lei, o que é lícito, de acordo com o bom senso. Não, Jesus não discute a licitude porque nem tudo o que é lícito é bom. Deus vai ao núcleo da questão: é bom ou não o casamento? Ë bom ou não formar uma família? E o Espírito Santo pede hoje de nós uma resposta sincera e concreta.
Os pecados, o original e os atuais, mancharam, mas não destruíram os sonhos de Deus, não impedem que a bondade de Deus, que o rosto do Espírito Santo, continue se mostrando. Se acreditamos verdadeiramente que Deus é bom e que tudo que sai das mãos de Deus, inclusive o casamento, tem este selo de bondade, temos que tirar conseqüências disso e agir coerentemente diante do que esta verdade exige de nós.
Se creio nisso a primeira conseqüência é cumprir os deveres familiares. Desde que João Paulo II se criou Papa, seus dois grandes movimentos foram com a família e a juventude. Ele partia destes dois princípios embora tenha vivido num mundo muito mal: da II Guerra Mundial, do comunismo... um mundo em que se pisoteava a liberdade e a dignidade humanas. Ele se manteve fiel ao amor e à bondade. Toda a sua família morreu sendo ele ainda muito jovem, mas Deus providenciou remansos de esperança e paz interior. “Onde não há amor, coloques amor e encontrarás amor.”: esta frase de São João da Cruz ressoou em sua alma. Este é o primeiro dever dos esposos, dos pais, das famílias cristãs no mundo. Colocar amor onde não há amor para que Deus faça nascer o amor.
O maior prazer da vida é cumprir o dever de amar e ser amado. Este dever está claríssimo na família trinitária do céu e na família trinitária da terra. Em ambas só imperava uma lei: o amor. E que ama esquece-se de si e só pensa no outro. Da infância de Jesus só conhecemos o nascimento e o episódio de Jesus aos 12 anos. E mesmo nesta última passagem, em meio à angustia da perda do menino, vemos Maria colocando José em primeiro lugar: “Teu pai e eu te procurávamos aflitos?” (cf. Lc 2). E Jesus ensina que também se esquecia de si, para cuidar das coisas de seu Pai – Deus . A família é boa porque eu vou colocar amor, vou colocar o outro na frente... e quem coloca o outro em primeiro lugar, também será colocado em primeiro lugar pelo outro. Quando o marido coloca a mulher na frente, também a mulher fará o mesmo. Pais que amam verdadeiramente os filhos serão por eles amados (mesmo que este amor não seja claro e aparente, como nas crises da adolescência, por exemplo...).
“No princípio não era assim...”. Jesus não fez análises jurídicas ou psicológicas, mas tomou o Amor original como referência. A mentalidade de hoje pode nos levar a pensar:“Se eu colocar o outro em primeiro lugar, onde eu fico? Eu só dou amor e o que recebo?”. Estas são reclamações carregadas de egoísmo, contrárias ao que o Espírito Santo inspirou a São Paulo: “Há mais alegria em dar do que em receber.”. E quem dá com amor, dilata seu coração e tem mais capacidade e receber amor, primeiramente de Deus e depois dos outros.
O dever da fidelidade também é fundamental. Quem ama é fiel em pensamentos e ações. Ser fiel não consiste em simplesmente não trair, mas em fazer tudo o que se deve fazer, manter-se fiel às promessas matrimoniais e familiares. Mesmo o que pode parecer estranho para o mundo é o certo diante de Deus. É bom ser fiel à Deus, à família, à doutrina da Igreja, à Pastoral Familiar. Não tenhamos medo de chocar o mundo. É melhor isso que escandalizar a Deus.
É bom dedicar tempo à família? Quanto tempo dedico de forma personalizada (e não genérica) ao outro: à minha esposa, meu esposo, meus filhos...? diz o Salmo “Se ouvirdes hoje a voz de Deus não endureçais o vosso coração.”. Só temos o hoje para amar, não podemos adiar para amanhã. Quando se constrói uma Igreja, antes que se comecem as celebrações é preciso que seja feita a dedicação do altar. Depois desta cerimônia, o que antes era uma mesa de pedra ou madeira, só pode ser usado como altar. Só o que tem relação com a Eucaristia pode ficar sobre ele. Até as toalhas precisam ser abençoadas. Colocar uma cadeira sobre ele e subir para trocar uma lâmpada é um sacrilégio.
Podemos fazer uma comparação com o matrimônio. Depois do sacramento, depois da dedicação o esposo, à esposa, os filhos são sagrados. Dedicar mais empenho e zelo com o trabalho seria um sacrilégio se colocar em detrimento a família. Quanto tempo espiritual e físico eu dedico à minha família? Os deveres que temos devem ser muito bem ponderados na presença de Deus para que sejam justos. Pais dedicados gerarão filhos dedicados. E um sinal próprio do amor é ser criativo neste sentido, proporcionado aos filhos a vontade de estar em família. Quantos jovens procuram diversão fora de casa, porque o ambiente doméstico não é amoroso nem atraente... É uma forma não só de proteger os filhos de ambientes perniciosos, mas também de ensinar a amar. Quem ama é criativo e pro-criativo.
É bom dedicar-se espiritualmente e fisicamente à família. O que estou renunciando para me doar mais à minha família? Cuidado, pois a rotina é o sepulcro do amor. E como o demônio não tira férias, conhece bem as tendências humanas e é muito criativo ele atuará como aquilo que é: divisor. O amor afetivo e efetivo coloca o outro em primeiro lugar, é fiel, dedicado e criativo. É dever de todos amar. Casamento não para ter os sonhos realizados, nem uma forma de dividir despesas... isso é muito secundário! Eu me casei por que vi aí uma chamada divina para ser o rosto do Espírito Santo que é amor e bondade? Casei-me para isso? O que atrai jovens hoje para ao casamento é ver família santas que estão convencidas de que fizeram o “melhor negócio das suas vidas”! O casamento é um projeto divino e não humano. Os jovens não devem casar só quando tem dinheiro para a festa ou quando tiver carro, apartamento... não! Quando há amor, começa-se como se pode e termina-se como se deve.
É bom que cada um de nós realize hoje este convite de Jesus de voltarmos ao princípio, vendo o essencial. Deus viu, desde o princípio da humanidade, que minha família era algo bom. Devemos sair deste retiro com o propósito de amarmos o mundo a ponto de deixar fluir a bondade de Deus, que é o próprio Espírito Santo. Tenho colocado amor na minha família e no mundo? Tenho sido aristocrata do amor? Pensemos nisso... que resposta daremos aos questionamentos do Espírito Santo em nós?

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