sexta-feira, 4 de novembro de 2011

PLANEJAMENTO NATURAL DA FAMÍLIA (3)

Ainda dentro da primeira sessão do Congresso que teve como temática: “Planejar por amor”, o Prof. Valdir Reginatto abordou em sua apresentação a seguinte questão:



“Autodomínio: o sentido cristão da castidade conjugal”
(Prof. Dr. Valdir Reginatto)



Aldous Huxley, em 1932, publica “Admirável Mundo Novo”. Uma obra de ficção que descreve uma sociedade em que todas as crianças são fruto de inseminação artificial e são incentivadas desde a infância à pratica de jogos eróticos e o homem e a mulher usam o sexo como diversão, uma sociedade em que permanecer com o mesmo parceiro por mais de dois meses é considerado uma imoralidade; as palavras pai e mãe são obscenidades; Deus e a família não existe. A cultura e os valores cristãos só existem em alguns rincões do mundo, chamado “selvagem”. A história conta sobre a saga de John que migra da terra selvagem para este novo mundo e seu choque é tão grande que ele acaba por suicidar-se.
No prefácio de 1946, o autor diz que projetou esta obra para mais de 600 anos na frente, mas se assusta como via esta realidade utópica já estava se aproximando galopante.
Estamos em 2011 e nos assustamos mais ainda... Ou, o que é ainda pior... nos tornamos indiferentes!
Quando se fala hoje em “castidade”, nos dicionários diz-se que é a abstinência completa do amor e dos prazeres, carnais. Por outro lado, a palavra conjugal é própria dos cônjuges. Será que os dois termos não têm relação? É incompatível haver uma castidade conjugal?
Vivemos em um contexto que palavras como fidelidade, castidade, matrimônio, família vêm sofrendo alterações. A castidade quer ser apagada como um termo medieval hediondo. Depois da II Guerra Mundial houve o afastamento da mulher da família para o mercado de trabalho externo. Houve um mau juízo de qualquer atividade realizada no lar, visto como inferior. Coloca-se a mulher competindo com o homem e o lar, o cuidado, a educação dos filhos ficaram totalmente descuidados. Outro fato histórico é o controle da reprodução humana, o favorecimento do divórcio, crescimento da pornografia, a legalização do aborto. Todo este quadro histórico não é coincidência, mas faz parte de um projeto de permissividade que intoxica desde a infância até os mais velhos. Recebemos uma carga violenta da ruptura da estrutura familiar, como um golpe mortal para aqueles que ainda querem viver na esperança do desígnio divino e da Lei Natural.
Não fosse a nossa fé no verdadeiro amor e nas promessas de Cristo mantidas pelo Espírito Santo, poderíamos nos sentir desorientados em meio à tantas tempestades. Lembremo-nos das histórias dos primeiros cristãos que tiveram dificuldades ainda maiores para poder levar a mensagem de Cristo ao mundo e não foram suficientes 300 anos que perseguição para que os cristãos se calassem. Não temos que nos apavorar com os leões que nos são colocados. Não podemos abandonar o mandato imperativo do Mestre: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo.”. Em última análise, a castidade vem do amor. Não é uma aniquilação subserviente, mas a alegria de manifestarmos este amor a Deus, a nós mesmos e aos outros. A castidade é uma atitude de amor. Tudo mais são discursos sem a verdadeira razão.
Diante dessas circunstâncias, acreditar que a castidade deve se ruma bisca do comportamento para seu melhor desenvolvimento enquanto pessoa é uma questão de fé. Não podemos no tornar surdos à Palavra de Deus que nos convoca a uma participação consciente na redenção. Fortalecer a castidade nos dias de hoje, exige, primeiramente o fortalecimento e esclarecimento da fé. Fé não é amuleto para os ignorantes, mas é caminho reto para a felicidade, é caminho para o amadurecimento. Quem é responsável por esta educação na fé que é fundamental para a vivência da castidade? Os pais. Podem ser ajudados pela escola, pela Igreja, mas seu papel fundamental é insubstituível. A boa orientação em família levará os jovens a perceber que a castidade não é algo descabido dentro de um lar cristão. A pedagogia deve ser o testemunho de vida, diálogo franco e a paciência diante das falhas dos filhos. A vivência da castidade futura será fruto da castidade nos primeiros anos da adolescência.
Daí podemos concluir que a castidade deriva da fé e também do amor. Virtudes infundidas na graça batismal, mas que precisam ser muito trabalhadas, porque, na nossa liberdade, podemos também fazer escolhas erradas por causa da concupiscência. O Batismo por si ó não é garantia de santidade. Daí devem vir as nossas boas obras, como nos lembra São Tiago, que a fé sem obras é morta. É exatamente nas nossas obras que vamos crescer na fé e no amor.
Onde estão estas obras? Elas começam no cuidado com o que os filhos falam, se vestem, os programas que assistem, os sites que visitam, os passeios de férias... Tudo pode ser campo fértil em que a castidade possa se firmar, arrancando as ervas daninhas que precisam ser tiradas no momento e no certo, como o joio que cresce com o trigo. As festas, os finais de semanas com namorados, a bebedeira... Precisamos ficar atentos, pois não sabemos quando virá o ladrão... Educar para a temperança, o autodomínio exige trabalho. Precisamos ter iniciativas de promover o que é sadio e não ficar simplesmente criticando o mundo. Assim, quando eles vão crescendo e tomando contato com tantas coisas distorcidas, vai crescendo também a prudência.
Tudo isso começa na preparação remota e se perpetua até a castidade matrimonial. Quando se casam no vigor da juventude, o casal faz a experiência de ter o seu coração preenchido por uma única mulher, por um único homem. O matrimônio é o maior vestibular da vida: são três bilhões de candidatos para uma vaga! Há dificuldades neste caminho, crises que podem corroer as colunas do altar onde apoiamos nossa vida conjugal. Diante dessas situações que nos convidam à quebra dos compromissos, São Josemaria Escrivá nos adverte: “Não tenhas a ousadia de ser corajoso: foge!”.

A castidade conjugal deve ser vivida mesmo em meio às provações. Diz Tg 1, 12-14: “Feliz o homem que suporta a tentação. Porque, depois de sofrer a provação, receberá a coroa da vida que Deus prometeu aos que o amam. Ninguém, quando for tentado, diga: É Deus quem me tenta. Deus é inacessível ao mal e não tenta a ninguém. Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e alicia.” Para alimentar a castidade conjugal é preciso convivência, contato, diálogo, presença, mesmo em meio às adversidades. São Paulos aos Hebreus (12, 3-7, 12-14): “Considerai, pois, atentamente aquele que sofreu tantas contrariedades dos pecadores, e não vos deixeis abater pelo desânimo. Ainda não tendes resistido até o sangue, na luta contra o pecado. Estais esquecidos da palavra de animação que vos é dirigida como a filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor. Não desanimes, quando repreendido por ele; pois o Senhor corrige a quem ama e castiga todo aquele que reconhece por seu filho (Pr 3,11s). Estais sendo provados para a vossa correção: é Deus que vos trata como filhos. Ora, qual é o filho a quem seu pai não corrige? Levantai, pois, vossas mãos fatigadas e vossos joelhos vacilantes (Is 35,3). Dirigi os vossos passos pelo caminho certo. Os que claudicam tornem ao bom caminho e não se desviem. Procurai a paz com todos e ao mesmo tempo a santidade, sem a qual ninguém pode ver o Senhor.” A castidade é remédio para que não fiquemos “mancos” no amor. É a castidade que favorece a fidelidade.
Nós não nos casamos por acaso, mas com aquela pessoa que escolhemos por amor. E essa escolha, exige sacrifícios. Uma vez foi perguntado a um alpinista sobre a necessidade de preparação para a escalada de uma montanha. Deve haver uma preparação de, pelo menos, um ano para estar preparado. Da mesma forma, o atleta que se prepara para um Pan-americano ou Olimpíada, e ainda assim se corre o risco de se perder a medalha com um simples escorregão. Também, as modelos de revistas que fazem dietas para o dia do desfile... Ou seja, todos se sacrificam pelas suas causas, por um fim desejado, onde está efetivamente o seu coração.
Alguns pontos são fundamentais:
A confissão periódica, a eucaristia freqüente, a oração como espaço de desejo de encontro com Deus. É preciso esforço, em meio às consciência das nossas fraquezas. Aprendamos com Pedro: “Simão, tu me amas? Tu sabes tudo, Senhor, tu sabes que eu te amo.”. Deus conheces toda a nossa fraqueza, mas sabe que desejamos amá-lo cada vez mais. No relacionamento conjugal encontramos u caminho para amar e servir a Deus. O verdadeiro mundo novo é onde Cristo reinará em cada família! “Felizes os puros de coração porque verão a Deus.”.

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