terça-feira, 1 de novembro de 2011

PLANEJAMENTO NATURAL DA FAMÍLIA (1)


Aconteceu em Brasília, no final de semana de 28 a 20 de outubro o II Congresso Nacional de Planejamento Natural da Família, que teve como lema: “Construir a Família: por amor, com amor e para o amor”. Todo material estará disponível na VIDEOTECA DA VIDA no site www.promotoresdavida.org.br. E, aqui em nosso blog, você também terá acesso a esta formação riquíssima, pois a cada dia disponbilizaremos os resumos das conferências e palestras.
A abertura do evento, sediado no Colégio Madre Carmen Salles, foi com a Santa Missa presidida pelo arcebispo de Brasília, Dom Sérgio da Rocha, e co-celebrada, entre outros, por Dom João Carlos Petrini, Presidente da Comissão Episcopal para a Vida e a Família, e Dom Antônio Augusto Dias Duarte, bispo animador da Pastoral Familiar do Rio de Janeiro e do Regional Leste 1 e membro da Comissão Vida e Família do CELAM.
Em sua homilia, Dom Sérgio relembrou, na Solenidade de São Simão e São Judas Tadeu, que todos nós somos chamados à santidade. E esta busca da santidade em Deus, pela Igreja, é que nos traz hoje aqui. Como sermos santos em todas as dimensões da nossa vida, inclusive na sexualidade, na afetividade, na família, trabalho, escola... Nada deve ficar fora dos desígnios de Deus. E mais ainda, o exemplo dos santos no mostram o caminho a seguir, nos ajudam a crescer no discipulado. A cor litúrgica vermelha vem nos recordar o grande testemunho destes apóstolos São Judas Tadeu e São Simão. Recordam a fidelidade, os sacrifícios, às renúncias, a coerência e o compromisso que fazem parte do seguidor de Cristo. Não devemos jamais desanimar ou desistir de testemunhar a fé, mesmo diante dos desafios. E há muitos a serem enfrentados pelos casais e famílias. E a força para superá-los é sempre graça, dom de Deus. O tempo todo foi seu amor misericordioso que sustentou os apóstolos e que há de nos sustentar sempre na nossa vida familiar também.

Somos chamados com a Igreja a testemunhar com firmeza e humildade os valores que brotam do Evangelho, transmitidos pelo seu Magistério, entre eles estão os valores do matrimônio, dos filhos, da família, enfim. E juntos nos reunimos para refletir sobre situações tão atuais e urgentes como a transmissão da vida que enfrentam embates éticos, morais e teológicos para o modo de vida cristã.
Não esqueçamos que há uma multidão à espera da Boa Nova, assim como mostra o Evangelho de hoje (cf. Lc 6,12-19). Em primeiro lugar, podemos nos colocar no lugar desta multidão que vem buscar no Senhor a luz, a força e a sabedoria que vem do Senhor. Porém, mais do que apenas isso, queremos retornar para o dia-a-dia das nossas famílias e comunidades, também anunciarmos com palavras e com a proprra vida a vivência da sexualidade conjugal. Convidou-nos a aproveitarmos este tempo de convivência fraterna e de busca de orientação na Igreja. Temos a responsabilidade de passar adiante toda a riqueza que aqui receberemos.

Dom Sérgio da Rocha também presidiu a conferência da sexta-feira, que apresentamos a seguir:


A revelação e a antropologia a respeito do sexo como possibilidade e a visão bíblica da sexualidade
(Dom Sérgio da Rocha, Arcebispo de Brasília)



A compreensão e a vivência da sexualidade conjugal dependem muito da visão antropológica que se tem, ou seja, nossa visa de pessoa humana condiciona em grande parte a conduta moral que temos. Por isso, esse tema serve de fundamento para tudo o que é proposto no agir moral. Na compreensão da sexualidade da pessoa humana, busca-se muito a dimensão científica, ainda que mediada pela filosofia. O Magistério da Igreja reconhece a importância do diálogo com as ciências e apresenta critérios orientadores para compreender melhor a pessoa e sua sexualidade. Destaco como premissa desse congresso a necessidade de se ir além dos dados científicos meramente. Precisamos buscar o sentido mais profundo da pessoa humana na Palavra de Deus. A sexualidade humana não pode ficar à margem do campo da espiritualidade, da teologia, nem da moral. Se não estaríamos nos rendendo à uma neutralidade ética da sexualidade que tem sido defendida e vivida por muitos na sociedade atual. Destaco algumas referências fundamentais que nos dêem alguns critérios éticos para a vivência da nossa sexualidade e para o planejamento natural das famílias.

(1) O primeiro aspecto que se destaca é a dignidade da sexualidade humana decorrente da dignidade inviolável da pessoa humana. O ser humano é imagem e semelhança de Deus. Como a sexualidade é algo essencial do ser humano é, portanto, fundamental. É dom do criador: não podemos reduzir, nem negar a dignidade intrínseca do ser humano. E a sexualidade é uma dimensão do ser que deve ser compreendida numa visão integral. Não é a única, mas não pode ser menosprezada, nem renegada.
Corremos riscos muito grandes de reducionismos. No passado, por exemplo, tivemos o reducionismo que valorizava apenas o espírito em detrimento do corpo. E hoje, ao contrário, um reducionismo apenas para a sexualidade (ou melhor ainda, a genitalidade). Para uns vale o intelectual, para outros a questão material e utilitarista... Qualquer que seja, o reducionismo sempre mutila a pessoa humana. Há, então, uma necessidade de uma antropologia bíblica, que resgata e destaca a unidade do ser humano. O próprio vocabulário utilizado para se referir ao ser humano (seja no Antigo ou no Novo Testamento) destaca bem essa unidade. As Cartas de São Paulo aos Gálatas e aos Romanos podem ser mal interpretadas quando se fala da “carne” e do “espírito”, quando, na verdade, ele fala de dois estilos de vida.
Além da unidade outro ponto importante é o dinamismo da pessoa humana que também é dom do criador: não nascemos prontos e acabados. Crescemos cheios de potencialidade, rumo ao amadurecimento em todas as áreas da nossa vida, inclusive na da sexualidade. Precisamos ter uma visão esperançosa do futuro para caminharmos rumo à plenitude da vida.

(2) A sexualidade é dom do Criador. Ao contrário da visão maniqueísta que pregava que dentor de si o ser humano trazia um deus do bem e um deus do mal, a Igreja sempre afirmou a bondade do criador e da sua criação, o que inclui, portanto, também a sexualidade que foi criada por Deus, e não pelo diabo. Isto nos dá uma visão positiva da sexualidade.

(3) A dignidade da procriação, a relação entre a sexualidade e a fecundidade. No relato bíblico da criação isto é bem destacado. Ao longo da história também. Os filhos são fruto e laços do amor entre o homem e a mulher: é tudo bênção de Deus. Mas ao mesmo tempo, a transmissão da vida tamb;em aparece no Gênesis como tarefa: “Sede fecundos... multiplicai-vos.”. Esses imperativos devem sempre ser respeitados e valorizados no que propomos no campo do planejamento familiar.

(4) A sexualidade como expressão de amor e união entre o homem e a mulher. É o que aparece no segundo relato da criação. Vemos a comunhão que une o homem e a mulher: “Não é bom que o homem esteja só... E se unirá à mulher e se tornarão uma só carne...”. Unidade confirmada por Jesus: Ö que Deus uniu, o homem não separe.”. Nós assumimos como base o relacionamento conjugal, o amor fiel no contexto matrimonial. Este é o plano original do Criador, confirmado por Jesus e que a Igreja anuncia até hoje.

(5) A comum dignidade entre o homem e a mulher. Ambos foram criados à imagem e semelhança de Deus e, portanto, têm igual dignidade. Quando se fala de planejamento natural da família ambos devem participar de maneira responsável.

(6) A ambigüidade da sexualidade humana. A grandeza, mas também a fragilidade da pessoa humana também aparecem na sua sexualidade. O ser humano é formado do pó da terra, mas com a infusão do sopro divino. A Teologia da Criação de completa com a Teologia da Redenção. Não podemos ser ingênuos. Tudo foi criado bom, mas o pecado corrompe o agir da pessoa humana e necessita da graça em todos os aspectos da sua vida, e também na sua corporeidade. O egoísmo também se faz aí presente e não podemos fechar os olhos para esta mazela. Sem a Graça de Deus não conseguiremos vivenciar toda a riqueza que Deus mesmo nos concede.

Faz-se, portanto, urgente de orientar eticamente a vivência da sexualidade. Precisamos de critérios que transcendem a pessoa, mas que possam ser vividos pela pessoa. Não podemos repetir os pecados dos nossos primeiros pais e querermos ter os nossos próprios critérios do bem e do mal, decidindo por conta própria o que vale e o que não vale.
Deus educa seu povo. Educa também no campo da sexualidade e da vida em famílias. Precisamos trabalhar isto de forma espiritual, ética e pastoral. Que esta reflexão sirva de estimulo para as outras questões trabalhadas durante o Congresso.

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