domingo, 6 de novembro de 2011

PLANEJAMENTO NATURAL DA FAMÍLIA (4)


Fechando este primeiro módulo de reflexões “Planejar por amor”, Dom Petrini apresentou sua conferência:


30º aniversário da Exortação Apostólica Familiaris Consortio
Deveres gerais da família: a formação de uma comunidade de pessoas, o serviço à vida, a participação no desenvolvimento da sociedade e a participação na vida e na missão da Igreja
(Dom João Carlos Petrini, Presidente da Comissão Episcopal para a Vida e a Família da CNBB)



Passamos de uma concepção principalmente jurídica e naturalista dos fins do matrimônio a uma concepção sempre mais personalista. Antes do Concílio Vaticano II, a pregação se concentrava na repetição dos compromissos, dos deveres conjugais e da responsabilidade com os filhos. Isto é válido, mas a Igreja deu passos mais a frente. Nos anos 70 e 80 concentrava-se mais a esperança de um bom casamento, mesmo no ambiente eclesial, mais nas ciências sociais que na Palavra de Deus.
Hoje é preciso iluminar as trevas do mundo moderno, apresentando a experiência humanamente atraente que reflita o fascínio de Jesus Cristo. A Familiaris Consortio foi um instrumento decisivo para esta mudança. Entretanto, mesmo depois de 30 anos, ela ainda precisa chegar a muitas bases. Também em 1981, no mesmo dia 13 de maio em que foi baleado, João Paulo II funda o Instituto para Estudos do Matrimônio e da Família, em Roma (hoje espalhado por nove países, inclusive o Brasil, em Salvador). O beato também dá visibilidade à família inclusive na imprensa leiga, com os eventos de massa que são os Encontro Mundiais.

Antropologia de Comunhão
A Pastoral Familiar entre numa nova etapa. Reynol Niebur, no livro “A Natureza e o Destino do Homem”, afirmava: ”Nada é tão incompreensível como a resposta a uma pergunta que não foi feita.”. A ação pastoral deve despertar, primeiramente, as perguntas fundamentais a respeito da felicidade, da realização humana, da busca do significado, de modo que a pessoa de Jesus e os compromissos da família cristã possam ser compreendidos como as melhores repostas.
Precisamos retornar ao desígnio de Deus para re-encontrarmos firmeza em nossos passos. Difundem-se em nossa época formas irresponsáveis de paternidade e maternidade, com conseqüências graves. As exigências de liberdade, de verdade, de justiça e de amar e ser amado, de realizar sua humanidade são experiências elementares para o ser humano. Emergem como desejo de encontrar as respostas adequadas aos seus anseios de realização pessoal, de felicidade.
Todas essas exigências tem três características:
1- Elas são motores da nossa vida, como uma centelha que nos põe me movimento
2- Elas constituem o crivo crítico para avaliarmos tudo
3- Elas são sempre insaciáveis, são marcas do Deus infinitos em nós

Revelam, enfim, o desejo de algo infinito! O nosso coração sempre espera algo mais, pois fomos feitos para não nos contentarmos com o que temos nas mãos. Uma pessoa sensata que olha sua própria humanidade experimenta isso. O mundo em que estamos, porém, quer nos desviar desta busca pelo infinito, mas quer que o preenchamos com aquilo que se pode vender.
A marca da cultura na qual estamos imersos nos leva a banalidade. E no meio desta cultura um casal que pensa em ter seus filhos pode se silenciar ou se perguntar:
- Que ambiente familiar é mais favorável para o desenvolvimento de uma crianças?
- Como ficará meu relacionamento com um homem que se tornará pai, com uma mulher que se tornará mãe?
- Isto representará uma realização ou uma perda na nossa relação?
- A criança provém dos pais ou pertence a eles? Etc.
Estas são perguntas existenciais, mas as perguntas do mercado finaceiro são bem diferentes:
- Como ficará a situação da mulher no mercado de trabalho?
- Quanto gasto o filho nos trará?
- Como ficará a saúde da mulher e a sua aparência?
Só o casal que cultiva o senso religioso procura o mistério, o senso mais profundo das experiências humanas. Mesmo vivendo mergulhados no mundo prosaico nosso coração humano procura sempre o além.

Eclesiologia de Comunhão
Sendo Deus comunhão trinitária, a pessoa é chamada a realizar-se e a vencer a solidão imitando na sua vida terrena a comunhão divina. Depois de Santo Agostinho que dizia que a comparação entre a Trindade e a família não é possível, João Paulo II tem a ousadia de retomar esta comparação. O amor comunhão da Santíssima Trindade constitui a origem, o destino e o método para o ser humano conduzir sua existência.
E o amor verdadeiro vai até o sacrifício para o bem do outro. É o dom sincero de si, que precisa ser tão resgatado em meio ao egoísmo e hedonismo contemporâneos. Os valores que a Igreja e que a sociedade pregam estão em pólos opostos. A condição para a realização da pessoa é “ser para o outro”, para alguém que é diferente de si mesmo. E isso se reflete claramente na diferença sexual, pois o ser humano que não existe sozinho, mas somente como “unidade de dois”.
O homem descobre que a diferença sexual não é limite, mas promessa, sendo chamada a realizar o dom sincero de si (GS, 24). É aqui que temos o contraponto com a cultura dominante atualmente. O pai, a mãe etc só se realizam doando-se aos outros. O caminho da vida cristã caminha na contramão dos meios de comunicação, por exemplo.
Em Porta Fidei – carta do Papa Bento XVI (motu próprio) – no número 17 vemos que a fé cresce quando é ivida como experiência de um amor recebido e quando é comunicada como experiência de graça e de alegria. Não podemos deixar se perder o primeiro elo do amor, porque tudo que vier depois não terá uma base forte. Nem todos somos pais, ou mães, mas todos somos FILHOS, que recebemos o dom da vida por meio de pai e mãe. Devemos, portanto aprender a ser filhos: este é o primeiro passo.
O dom recebido é compartilhado. O Pai nosso está na origem da fraternidade. Segundo passo: aprender a ser irmão.
Logo, terceiro passo, aprender a ser esposo e esposa.
Por fim, o quarto passo, aprender a ser pai e mãe. Acolher o fruto daquele amor que entrelaçou a vida do homem e da mulher com o amor de Cristo pela Igreja. O dom recebido se alarga e se comunica cm novos seres humanos.
O sacramento do matrimônio é o ponto ápice da comunhão entre o homem e a mulher. O casal vive imerso na fonte que é o coração trespassado de Cristo e participa do Seu dom esponsal para a Igreja, abrindo assim, a nascente deste amor que se doa no coração do próprio casal.
FC 38 – Família como pequena igreja.
FC 50 – família, tornar-se parte viva na missão da Igreja.
Não somente a família é pensada pela Igreja, pelo Papa como um lugar para se proteger de todos os males do mundo, mas como lugar de missão.
Paternidade responsável – o Brasil tem baixos índices de fecundidade (= 1,7 filhos/mulher). Com isso, temos um grande risco de envelhecimento da população, que em 20 anos poder ter a população envelhecida que os jovens não consigam sustentar a própria família, nem os idosos. Tem-se, como previsão, o aumento das políticas de eutanásia e políticas semelhantes.
A família e a nova evangelização – investir na educação ao amor, apostando na capacidade dos jovens de serem responsáveis de seus atos. Argumentos de autoridade não são suficientes.

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