quarta-feira, 9 de novembro de 2011

PLANEJAMENTO NATURAL DA FAMÍLIA (7)

E encerrando a sessão “Planejar com amor” do II Congresso de Planejamento Natural da Família, em Brasília,, Dom Antônio Augusto proferiu esta conferência:




O amor esponsal como fonte de espiritualidade e missão eclesial
(Dom Antônio Augusto Dias Duarte, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro)




Nunca se ouviu dizer na história da humanidade que se atribuiu ao amor conjugal e à vida em família uma missão universal, tal é ponto que chegou a ameaça a essas bênçãos do mundo de hoje. Tal missão adquiriu uma importância tão grande que até constituições de Estados precisam resguardar oficialmente esses direitos.
O artigo 5 da constituição diz que todos são iguais perante a lei, independentemente da sua natureza e que sua dignidade e direito à vida deve ser mantido. Os valores mais essenciais dos seres humanos estão aí presentes. Mas ainda assim, a sociedade se tornou tolerante com o total descaso pelo amor matrimonial e pelo valor da vida.
A Humanae Vitae nos pede que formemos um Estado Humano, um povo pela vida, uma renovação da sociedade a partir da Civilização do Amor. A encíclica (n. 13) nos chama a atenção de dois males: a contracepção e o aborto. Apesar de peso moral diverso eles têm uma mesma raiz: a mentalidade hedonista e “des-responsabilizadora” da sexualidade. Vê-se a procriação como um empecilho para a plena realização humana, quando sabemos que é o contrário. A vida se torna um inimigo que se há de evitar, quando deveria ser um fruto do amor humano.
Garantida pela Constituição e por tratados internacionais: não é suficiente... o clamor do Magistério da Igreja: não é ouvido... é preciso sensibilizar os casais para que tenham a coragem heróica de se abrirem à vida! Urge assumirmos essa missão de transmitir a todos o valor do amor e da vida. Precisamos ser canais para comunicar esta Verdade, sermos construtores desta nova mentalidade.
Não basta só vivermos o amor dentro da minha família. É necessário transformá-lo numa missão eclesial, expandi-lo às outras famílias. Vejamos o amor em suas três dimensões:
EROS – ao contrário da visão negativa que se tem, o Eros, em seu sentido real é admirar o que há de divinamente formoso no corpo do outro. Por isso, é missão do homem e da mulher cuidarem de sua aparência, de sua saúde. A atração física redimida por esta Verdade é um caminho para a espiritualidade conjugal, uma via de abertura para a santidade.
FILIA – é o segundo nível, o amor no seu aspecto afetivo. É um impulso natural que vai se sobrenaturalizando na unidade corpo e alma: “Como é bom estarmos juntos!”. Leva-nos a criar uma convivência matrimonial e familiar que fortalece a todos.
ÁGAPE – leva a verdadeira entrega sem limites, até o sacrifício.
Enquanto não tivermos esta visão tridimensionada corre-se o risco de buscar a realização de costas para o lar...
O amor conjugal tem a missão de ser o grande agente transformador da sociedade. Gostaria de enfocar duas palavras: existência e resistência. É preciso existir e resistir para a civilização do amor. Existir como? Resistir a quê?
Existir conjugalmente, conjugando corretamente o “eu”, o “tu” e o “nós”. Ef 1,4-6: “Eu vos escolhi, desde antes da criação do mundo, a fim de ser, na caridade, santos e imaculados.”. Deus escolheu o “tu” para o “eu”. E o “eu” sempre deve estar atrás do “tu”. Vejam o exemplo de Nossa Senhora ao encontrar Jesus no Templo em Jerusalém: “Teu pai e eu te procurávamos aflitos...”. Quando se vive esta existência na Igreja Doméstica, isso extrapola para a sociedade e gera solidariedade, respeito, justiça, etc. Para sermos verdadeiramente imagem e semelhança de Deus não só na nossa individualidade, mas também na nossa conjugalidade, na sociabilidade, na eclesialidade, na comunhão de amor, enfim, como é a Trindade. É uma missão a cumprir: ajudar as pessoas a aprenderem a comungar vidas. Por isso, precisamos transformar o amor conjugal numa fonte de espiritualidade.
Também é preciso tornar o amor conjugal resistente. Não só uma resistência passiva, que se fecha, se protege só a si mesmo, à sua família, não permitindo que certas ameaças cheguem até a sua casa. É preciso uma resistência ativa para que possa fazer da pessoa humana em meio a este mundo corrompido, uma pessoa de caráter. É preciso dialogar com o mundo e não enfrentá-lo. Com uma família estrategicamente bem estruturada e desenvolvida é possível dar um novo mundo. Diz uma matéria feita nos Estados Unidos: “Os jovens estão cansados de viver num mundo sem Deus.”. E onde vão encontrar Deus? Nas baladas, nas drogas, na promiscuidade? Não. Numa família estrategicamente resistente, forte. Afinal, os filhos têm direito de verem seus pais se amando e com isso se fortalecem para encarar as enxurradas da vida! Você tem um plano para fortalecer sua família? O amor é a resistência ativa para vencer e superar as montanhas de problemas e transformar o mundo de uma forma positiva.
E é missão dos esposos fazer do ato conjugal em si uma missão. Ele nunca será santo se não missionário. Pensemos por analogia nos missionários: deixam casa, pai e mãe e se une à Igreja para gerar novos filhos de Deus. Os casados também deixam sua família, se tornam uma só carne e geram mais filhos para Deus. Disse Jesus: “Eu vos escolhi e vos enviei para que dêem frutos e que o vosso fruto permaneça.”. Não é apenas um ato corporal, mas é também missionário. Quando não se assume esse compromisso de transformar o mundo a vida do casal torna-se uma clausura narcisista, onde se vive um amor visionário, s sonha com uma realidade que não existe. Não se pode perder de vista que o homem e a mulher devem gerar frutos para si mesmos, para o mundo e para a Igreja.

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